Um Negocio Lucrativo (Portuguese) free porn video

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UM NEGÓCIO BEMLUCRATIVO

Geraldo AntonioLelis de Freitas

UM

OSimca Chambord estacionou na Pracinha do Araçatuba Clube, aquela doColégio das Irmãs, vizinha da Praça 19 de fevereiro.Carro novo, cores tradicionais de vermelho e amarelo, linha impecável,conforto até exagerado. No radio tocava Neil Sedaka, "You mean everythingto me", sucesso romântico.

Olocal estava deserto. Deserto era modo de se dizer: alguns carros passavampelas ruas Duque de Caxias e Carlos Gomes. Um "biribeiro" gritou um impropériocontra um homem alcoolizado que teimava atravessar a Carlos Gomes, bem naesquina.

Elesentou-se no banco voltado para o Clube. Era bem majestoso o prédio.Gostava de suas linhas bem delineadas, aliás, o prédio lheera mais nostálgico do que belo. Era intrinsecamente ligado à suavida.

Quantohavia se passado. Quantas peripécias lhe aconteceram. Era um morto,para muitos. Mas ali estava para resolver uma situação dasmais difíceis e que poderia causar a destruição de pessoasque lhe eram muito queridas. Precisaria de muita cautela, perspicácia,arrojo e até um certo grau de crueldade.

Percebeua aproximação do primeiro alvo. O primeiro rosto muito conhecidoe identificado através de fotos atualizadas se aproximava. Levantou-sedisplicentemente e encostou-se no carro, de costas para a rua. Disfarçouolhando para um lado, para o outro, abaixando a cabeça, mas com osolhos grudados naquele que se aproximava.

Sabiaseu nome, sua idade, profissão, conhecia-lhe os pais, suas preferênciasmusicais, cinematográficas, esportivas. Ele caminhava com as característicasque lhes eram peculiares: mãos nos bolsos, cabelo loiro bem penteado,olhares furtivos para os lados balançando a cabeça, passosrápidos, largos e firmes. Chegou e sem a menor cerimônia, trepouno banco e sentou em seu espaldar. Desamarrou os cadarços de seussapatos engraxados. Assobiava "Blue Velvet", música interpretada porBobby Vinton.

Derepente estacou. Percebeu e fixou o olhar naquele "cara" encostado naquelecarro. "Uai, quem seria o gajo?" - era o que remoia seus pensamento. O "gajo" olhavapara todos os lados, movimentos vagarosos com a cabeça, parecendonão sentir a sua presença; aquilo o intrigara, pois lhe passavauma estranha sensação de que conhecia "aquilo"! Uma sensaçãode desconforto o incomodava cada vez mais intensamente. Não era medo!Era desconforto mesmo e tudo pelo fato de acreditar já ter visto aquele "cara" emalgum lugar. Isto é que o incomodava.

Ecom todo o seu ímpeto moleque, soltou:

Oi!Eu conheço ou deveria conhecer você?

Quem?Eu? – perguntou o rapaz voltando o dedo indicador para o própriopeito.

(MyGod! O cara é alienado!) É, você mesmo! Tenho umlongínqua impressão de que já nos vimos antes.

"Ce" sabeque não! Pelo menos eu não me lembro de ter conversadodeste jeito com você.

Ah!Então me desculpe. Foi apenas uma curiosidade nascida de uma impressãoboba.

Você está aquipara esperar por alguém? – perguntou o desconhecido

Bom,esperando... Esperando, realmente não! Geralmente a turma da minhaFaculdade vem para este local discutir os problemas de sala de aula,fazermos fofocas, colocarmos as conversas em dia.

Nãoquero ser intrometido, mas em que Faculdade você estuda?

UniversidadeSalesiana de Araçatuba.

Qualo Curso?

Estoupelejando para ser médico, mas ta bem difícil.

Eem que período você está?

Sétimo.

Bom,eihn cara! Termina este ano.

É,mas tem uma Especialização inteira pela frente.

Você pretendefazer o quê?

Meuspais querem...

Euperguntei você!

Espere!Meus pais querem e insistem para que eu faça Cardiologia ou Obstetrícia.Eu mesmo, bem lá no fundo de meu coração, queriaser militar. E se possível, pertencer aos quadros da ForçaAérea Brasileira. Ainda mais agora que ela assumiu o Ministérioda Forças Armadas, que as demais corporações passarampara sua subordinação.

Eo que tem seus pais com isto. A vocação é sua, otrabalho será seu...

Masa grana para a Faculdade e a Especialização é deles.Hoje não dá para você trabalhar e fazer curso superiorao mesmo tempo.

Nestemomento, o homem do Simca percebeu que se aproximavam duas pessoas, um casal.Ele também os conhecia. E como! Uma menina loira, com seus 22, 23anos, corpo perfeito, rosto lindíssimo, aparência meiga e cordial,simples no trajar e imponente no andar. Ele a conhecia há muito tempo.Chamava-se Mércia Maria Tagliaferro. O rapaz era seu irmão,um jovem talvez um ou dois anos mis velho que ela, chamava-se Márcio,aparentemente muito bacana e simples, mesmo sendo filho do proprietáriode uma das maiores revendedoras de carros da Wolkswagen, na região,a Tagliaferro Veículos.

Aproximaram-see sorridentes cumprimentaram o rapaz do banco e sutilmente lançaramsorrisos para o desconhecido. Jonas respondeu aos cumprimentos e só aí é quese lembrou de que não perguntara o nome do rapaz e muito menos sabiaalguma coisa a seu respeito.

Bom,meu amigo, e você? O que está fazendo neste lugar? Você,pelos menos me parece, é novo por aqui?

Bom,até que se pode dizer que sou novo "por aqui!".

DOIS

Eforam chegando mais estudantes. Nesta altura, o estranho já os observavade dentro de seu veículo, tentando passar despercebido, mas semprecom um sorriso indecifrável na face. Assistiu ao espalhafatoso saltoacrobático de Décio, bancário autorizado a fazer plantõesvespertino e noturno no Banco em que trabalhava para que pudesse estudarpela manhã.

TeresaCristina, mineirinha morena, pernas grossas e lindas, bem torneadas, pésdelicados e pequenos, corpo miúdo, mas muito bem feito e um rostinholindo. Essa ele conhecia e muito bem, pois haviam tido uma relaçãode amizade muito intensa quando vizinhos de residência. Alémdisso, o pai dela havia sido seu chefe no Banco da Lavoura de Minas GeraisS/A, em que trabalhara anos atrás.

"MeuDeus, há quanto tempo!" – e uma pequena lágrima escorreu-lhepelo canto do olho direito. Estavam ali presentes na figura daquela garota:sua mãe, seus antigos e inesquecíveis companheiros de trabalhoe de seresta, sua adolescência precoce, a tragédia, a separaçãoe o isolamento forçado. E agora a omissão de sua identidadea bem dos próprios jovens.

Valter,o "Alemão", isto pelo seu porte germânico, fala alta e autoritária,pessoa boníssima e fraterna. Quando era amigo, realmente era amigo.

Eaproximaram-se: João Gordo, Moacir, Iara, Nilton Ortoloni, todos...Todos conhecidos. De repente surge uma menina mais franzina, pele mais escura,pernas finas, olhos grandes e fundos, palidez que demonstrava um certo aspectoanêmico.

-Oi Margarida! – cumprimentaram todos.

"Evem me dizer que não temos nenhum complexo racial! Se houvesseum ou uma hipotética suspeita, logicamente que esta seria umavirtual candidata".– pensou o observador – "Coitada, nadaa ver! Parece gente muito boa e querida pelos demais. Mas, Pai do Céu,quem iria se infiltrar neste grupo com o único propósitode prejudica-los? Será que não se sentiria arrependidoao conhece-los e saber o quão são pessoas boas, educadas,generosas e de um senso de fraternidade ímpar?".

Nestemomento, seu rosto se crispou por inteiro, sua expressão tornou-seforte e irada. Avistara o Chrysler, ano 60, vermelho escuro estacionado naCarlos Gomes, perto da Mercearia ao lado da casa do Sr. Dibo. Viu os trêsocupantes descer, adentrarem na casa comercial e logo depois voltar parao veículo e partir descendo vagarosamente até virarem na ruaDuque de Caxias.

Imediatamenteacionou o carro, chamando a atenção de todos, que o acompanharamcom os olhares atentos. Fez o contorno da praça, entrou na Duque deCaxias e desceu-a numa velocidade meio alta para aquela via pública.

Masele os havia perdido. Deviam ter entrado na General Ozório, ou naMarechal Deodoro. Ele havia optado por esta última, mas nãoos encontrara.

Enquantoisso tornara-se assunto na pracinha.

Jonas,quem era aquele moço? – perguntou Mércia

Uai,sô, num conheço o gajo!

Eo que ele queria? – acrescentou de imediato Márcio

"Sabê" lá eu!Ele não falou coisa com coisa. Bem que eu perguntei se ele eradaqui. Respondeu de um jeito esquisito, como se não quisesse muitaprosa.

Jonas,e você deixa isto barato assim? E se fosse um ladrão? – criticouTeresa Cristina.

Esperaaí! E você queria o que? Que eu torturasse o meliante prame dizer quem ele era? E tem mais uma coisa: eu conheço esse indivíduode algum lugar. Não sei se é das páginas policiais,da seção dos beneméritos, de alguma propaganda política,não sei. O que sei é que o conheço, isto eu tenhocerteza.

Gozadogente! Eu tive esta mesma impressão. – falou Walter - Maseu pensei que esta anta tivesse conversado direito com o cara.

Oh,Nazista! Eu já te disse que eu tentei.

Deixaisso pra lá gente. Vamos é ficar de olho, porque esse moço,no mínimo, é suspeito. Não estou dizendo que ele é bandido,mas... Quem é que sabe? – ponderou Teresa Cristina.

Gente!E como está o negócio da votação para a Comissãode Formatura? Há alguma manifestação neste sentido? – perguntouDécio – Mércia, você esta sabendo de algumacoisa?

Não,Décio! O D. A. ainda não tomou nenhuma providência.E pelo que me concerne, vai deixar tudo por nossa conta.

Mas – interferiuMárcio – vão unir todos os cursos, ou serãoformaturas isoladas? Isto, para mim, é coisa de Diretoria, D.A. os cambaus.

Márcio,eu não estou vendo nenhuma agilização neste sentido.Ontem ainda fui ao Departamento de Sociologia perguntar se estava sendoprogramada alguma reunião para deliberarem sobre o assunto e meinformaram que não foram convocados para qualquer reuniãonestes próximos dias. Portanto...

E "cuma é" quevamos arrecadar verba, dindim, bufufa, grana, para as festividades senem sabemos se serão unificadas ou separadas? – questionouMilton.

Precisamosagilizar esta decisão. Quem me acompanha amanhã, no horáriodas aulas, até a Reitoria da Universidade?

Contecomigo, Márcio! – apresentou-se Iara.

Comigotambém! – juntou-se Mércia ao grupo

Eeu também! – era Décio se oferecendo.

Tabom! Então na segunda aula nos encontraremos no saguãode entrada, ok?

Logodepois o grupo se dispersou, sem perceber o Chrysler estacionado na Rua AfonsoPena.

TRÊS

Dentrodo Chrysler o assunto em pauta referia-se justamente ao grupo. E era bemacalorado.

Chefe,a presa principal é a loira. O senhor já pensou o que renderiano Mercado Europeu?

Euacho que ela seria mais lucrativa no Japão, na China. A morenabaixinha é que daria um bom filão na Europa.

Vocêsdois entendem tudo, não é? Entendem tanto que ainda nãome informaram como é o comportamento deste pessoal no dia-a-dia.Serão presas fáceis, ou precisam de uma açãomais drástica?

Bem,Chefe, nossa gente lá de dentro diz que não será muitofácil, mas com um pouco de tempo é bem possívelque pela persuasão ou favorecimento do produto, pode ser que nãose precise de ação mais violenta.

Ea fita? Já foi providenciado o seu envio para os "japas"?

Simsenhor! Nosso pessoal no Rio já a despachou. Logo, logo teremosrespostas dos clientes, o senhor vai ver.

Aviseaos meninos de que não dispomos de muito tempo. Os clientes andamansiosos por novas remessas. Vamos resolver "aquele" outro problema.

Eo carro arrancou vagarosamente contornando a praça e passando bemem frente dos irmãos Tagliaferro, que de nada desconfiando, aindacomentaram:

Quebaita carrão, eihn Mércia?

Muitobonito mesmo.

Ocarro estacionou em frente a uma casa de madeira, assobradada, rodeada porum pequeníssimo pátio gramado, que a separava de um bosque.Era bem isolada, e de difícil acesso o que era feito por uma trilhaque serpenteava pelo bosque. Só mesmo o motorista que a bem conhecessenão se enroscava em uma de suas curvas.

Ogrupo foi recebido por dois homens que usavam máscaras pretas de lã eportavam submetralhadoras Uzi. Os cumprimentos foram triviais, tapinhas nosombros e alguns "Ois!", ditos de forma displicente. Logo adentraram estandoo Chefe à frente da fila.

Nasala de estar uma mobília antiga, empoeirada, sugerindo abandono oupouco uso. Subiram as escadas e no andar superior entraram em um dos quatroquartos que o compunham.

Naparede coberta por uma espessa cortina, uma mulher bem nova, aparentementebonita, corpo bem feito, punhos amarrados por uma corda presa a uma argolano teto forrado, amordaçada por tiras largas de esparadrapo brancoque retinham em sua boca um trapo velho, olhos expressando o terror daquelesque sabem o que lhes espera. A blusa com os botões de cima arrancadosmostravam o branco sutiã sustentando fartos, mas esbeltos seios.

Entãoesta cadela foi achada? Tudo bem, Caroline?

Estavaescondida na casa de uma sua tia em São Paulo. Nós a descobrimosgraças ao nosso pessoal de lá. Eles conheciam os familiaresdela e fizeram campana em várias casas.

Ohomem, chamado de Chefe, aproximou-se da mulher, pegou-lhe os seios com suasgrandes mãos, enlaçou-os por completo, delicadamente, a mulherse debateu e ele então os apertou com violência causando dortão lancinante que a mulher emitiu gritos pavorosos abafados pelamordaça ao mesmo tempo em que se retorcia toda.

Risosirônicos se ouviu por todo quarto. Olhares de perversidade foram trocados.Todos se deleiavam com o sofrimento da mulher. Ansiosos, só esperavamo momento em o Chefe os autorizaria para dela se aproveitarem.

Você vainos pagar bem caro o topete de querer nos passar a perna. Nãopodia ter delatado o Robertão para a polícia, sua vaca – nestemomento deu-lhe um terrível tapa de mão cheia atingindo-lhea face esquerda quase deslocando o seu pescoço – Graçasa você, sua vaca, - novo tapa – ele foi assassinado na cadeiapor um elemento da turma do Vadão. Agora vamos ter de matar você também,sua prostitutazinha de quinta categoria. Tragam as cadelas que estãona sala ao lado para assistirem o que acontece com quem nos prejudica.

Amulher sacudiu a cabeça desesperada num gesto de negatividade, pedindoclemência com os olhos esbugalhados.

Entraramquatro jovens, duas morenas, uma ruiva e uma loira, todas com olhares apavorados,agarrando-se umas às outras, soltando gritinhos de pavor ao avistara mulher amarrada.

Rapazes,vocês levem esta zinha para aquela mesa. Amarrem um tornozelo emcada pé da mesa e as mãos nas costas, punho direito nocotovelo esquerdo e vice-versa. Vamos propiciar divertimento para todaa turma.

Apesardas tentativas infrutíferas de se libertar das mãos de seusalgozes, assim ela foi posta na mesa. Uma corda fina foi enlaçadaem seu pescoço e presa embaixo da mesa.

OChefe chegou, rasgou-lhe o que ainda restava da saia, puxou a calcinha até estase rebentar, olhou o rosto desesperado da mulher, abriu a braguilha e a penetroucom violência, arrancando-lhe horrendo urro. O ato sexual foi selvagem,brutal, tendo o homem retirado várias vezes seu órgãogenital do da moça para retornar com mais força.

Apóso orgasmo, sem nenhum descanso, outro a penetrou, ouvindo-se agora o gritoabafado de dor, logo após, mais um, e, assim, sucessivamente maisquatro penetrações.

Quandoo último terminou havia uma poça de esperma esparramado pelamesa e gotículas de sangue que saiam da vagina dilacerada. A moçamantinha os olhos abertos, mas vendo o nada. Respirava ofegante.

Gostaramdo espetáculo? – perguntou o Chefe às moçasque a tudo assistiram – Pensam em desobedecer ou abandonar nossaorganização?

Não,Senhor! Nunca havíamos pensado nisso.

Entãosão fiéis e obedientes à organização?

Sim,Senhor!

Vamosver! Você, Tianinha!

Sim,Patrão!

Limpeesta sujeira toda que está perto da vagina da cadela!

Sim,Senhor!

Iasaindo para buscar um pano, quando foi interrompida bruscamente pelo Chefeque a agarrou pelo braço.

Compano não! Com a língua!

Senhor! – suplicoucom olhos marejados pelas lágrimas

Simou não! É obediente ou não!

QUATRO

Alimpeza foi feita de maneira bem lenta, muitas vezes interrompida por ânsiasde vômitos, engasgos com as porcarias engolidas, choros convulsivose, muita, muita humilhação.

Muitobem, fiel servidora! Gostei de seu serviço. Deixou a mesa brilhando!

Gargalhadasestridentes e até aplausos foram ouvidos no recinto. As outras moçasficaram ainda mais horrorizadas. O que lhes aguardava? Tentavam consolara mulher da limpeza, mas se preocupavam consigo mesmas.

Descansaram,rapazes? Virem esta vadia. Deixem-na com as poupanças bem a vista.Os tornozelos continuam amarrados cada um em um pé da mesa. Amarremtambém os joelhos da vagabunda.

Eassim o fizeram. A mulher urrou de dores, pois os movimentos faziam-na roçara vagina dilacerada, ora nas cochas, ora na própria mesa, provocandonovos sangramentos. Seus punhos continuavam amarrados da mesma forma. Elatentava mexer-se, mas não o conseguia. Era terrível! Ela sabiaperfeitamente quais as intenções dos sádicos. Ela anteviaa dor, a agonia de ser penetrada, a humilhação total. E o pior:a impossibilidade de qualquer reação ou de ser salva por alguém.

Venhacá, Belinha! – chamou o Chefe dirigindo-se a uma das meninas – Nósprecisamos fazer algo com aquela ali. Mas, você pode amenizar osofrimento dela. Você a ajudaria?

Senhor... – balbucioua aterrorizada garota

Queridinha,nada vai te machucar. Pelo contrário, você estará diminuindoo sofrimento daquela ali. Vamos, sem nenhum temor.

Senhor...O que devo fazer? – perguntou por perguntar. Ela sabia o que era.E já sentia o horror, o nojo sabendo que nada contribuiria paradiminuir o sofrimento da colega de trabalho, só aumentando a humilhaçãode todas elas.

Venhacá, querida! – pegou-a pelo braço – Tire aroupa para melhorar os seus movimentos – e a fez despir-se rapidamenteficando completamente nua – Agache-se, meu bem! – Ela o fezficando com o rosto na altura das nádegas da supliciada – Está vendoeste buraquinho preto aqui? – e apontava para o ânus da amarradaLubrifique-o com sua língua aveludada. Ela sentirá menosdor, meu amor.

Porfavor, senhor! Piedade!

Preferetrocar de lugar com ela, meu bem? – o sorriso irônico e otapinha na nuca não condiziam com a terrível ameaça.

Elaentão fechou os olhos, aproximou-se do orifício e lambeu-otimidamente, enojada, soluçando.

Meubem, assim não vale! Ou faz o serviço direito ou assumeo lugar. Vamos, entusiasmo, força! – falava e empurravaa cabeça da moça fazendo o seu nariz quase adentrar pelo ânusda seviciada.

Vejasó que não tem nada de mais o que você está fazendo – aproximouo dedo da entrada do orifício anal e, vagarosamente, o introduziu,provocando gritos da seviciada.

Parede resmungar aí na frente, sua peste! Estamos te ajudando, palhaça.

Oalgoz retorcia o dedo dentro da mulher. Ao retira-lo, obrigou Belinha a coloca-lona boca e chupa-lo, enojada com o cheiro e gosto de fezes.

Viu?Isto seria ruim, mas só lamber, lubrificar, nada de mais.

Belinha,empurrada e tendo a cabeça pressionada contra as nádegas deCarolina, começou a lamber o órgão da moça comfúria. O terror lhe dava forças para suportar o suplício.A vítima tentava mexer-se, mas apenas conseguia balançar suacabeça. Sentia o cuspe de Belinha em seu traseiro. De repente, saiuaquele frescor da saliva e cutucou-a algo enorme, pontudo. Sentiu forçar-lhea entrada e o ânus a dilatar-se, doloridamente. Gritou um sussurro.Aquele grosso pedaço de carne continuou a dilaceraçãode seu buraco anal e a penetra-la, cada vez mais dolorido. Gritava! E a penetraçãocontinuava. Sentia o sangue escorrer-lhe pelas partes internas das cochas.E não parava de penetrar-lhe. Já o sentia quase lhe vazandoos intestinos cutucando seu estômago. Urrava! Tentava espernear! TentavaRebolar! Inútil. Começou o vai e vem. Lento... Compassado...Descompassado... Aumentando a pressão... A velocidade... Saia e entravacausando-lhe cortes nas beiradas do ânus... Líquido... Intestinocheio... Retirada da massa de carne... Líquido escorrendo... Alívio...Pouquíssimo tempo...

Belinhavoltou ao seu serviço, agora bem mais difícil, pois teria quelimpar as fezes e líquido branco que de dentro do ânus saíra.Começou a lamber... Não agüentou... Levantou-se... Iniciouuma desesperada corrida... Um estampido... A dor na cocha... A queda... Braçosagarrando-a... "Vadia", ouviu... Uma pancada na cabeça... Nada mais...A escuridão.

Muitobem rapazes! Sem lubrificação! Usem e abusem!

Eassim, seis machos usaram e abusaram da mulher. Cada um a penetrou com maisviolência do que o outro. D quarto em diante ela nada mais sentia,pois desfalecera de tanta dor.

Quandorecobrou a consciência dentro de um inferno de dor em sua parte genitale em seu ânus, se viu amarrada a uma tábua de aproximadamente25 cm de largura e dois metros de comprimento. Os braços estavam levantadose cordas a prendiam pelos pulsos, antebraços, braços, tórax,cochas, pernas e tornozelos. Ela não podia mexer um só músculo.As cordas de tão apertadas a estava ferindo. Continuava amordaçada.Olhou de lado, único movimento permitido e viu Belinha na mesma situação.

Queisto sirva para todos. Somos muito generosos para com quem trabalha conosco,mas sabemos ser severos para com os traidores e desobedientes. Vocês,meninas, ao serem enviadas para um ato de scatofilia com um cliente,vão e o façam com prazer; vocês, rapazes, quandomandarmos transar com um cliente homossexual ativo, sejam amáveise carinhosos como passivos. Senão, o castigo é este.

Aproximou-seda vítima e sem nenhuma demonstração de piedade ou arrependimento,pegou-lhe o bico do seio direito e cortou-o com um tesoura. Chegou até Belinha,olhos arregalados, urrando por trás da mordaça, cortou-lheo bico do seio esquerdo.

Foiaté o pé da traidora, pegou um alicate, e apertando a pontada unha do dedão esquerdo puxou-a até arranca-la por inteiro.Belinha sofreu o mesmo suplício, desta vez do dedão do pé direito.

Osasseclas do Chefe estavam aturdidos com tanta perversidade. As outras moçassimplesmente desesperadas. Quando induzidas para trabalhar na organizaçãonão imaginavam estas atrocidades a que estaria sujeitas.

Tiveram,cada uma a sua vez, uma das mãos perfurada por prego, as cochas marcadascom ferro em brasa e por fim, arrancado por completo, um seio de cada uma,aquele que estava com o biquinho.

Praticamentesem vida, mas ainda respirando, foram atiradas em um forno de olaria, com130º aproximadamente. Todos permaneceram no local, até a constataçãode que os corpos e tábuas haviam virado cinzas.

Meninas,de volta ao trabalho! E agora com muito mais cuidado e pensando duasou mais vezes antes de tentarem qualquer besteira. Levem-nas para asboates! Vamos, todo mundo sorrindo!

Rapazes,nós vamos resolver aquele caso na cidade.

CINCO

Eram8h45min quando Márcio chegou no local combinado. Acompanhado peloDécio, ficaram aguardando pelos demais.

Cara,nós vamos ter de falar com o Departamento dobre o tal professorde Eletromagnética, ou todo mundo vai se estourar.

Décio!Será que o problema está apenas nele? Ta que o cabrinha é difícil.Soberbo, megalomaníaco, às vezes imprudente, nas tem maisgente com culpa no cartório. Não tem?

É...Alguns não gostam muito de pegar no rabo do problema. Estudarque é bom mesmo não estudam. Mas, compare com o "Frangão"...

ProfessorOsmar, idiota!

Tabom, Professor Osmar! Você não precisa pegar num livro sequer.Você sai da aula sabendo tudo e sem perigo de esquecer depois dealgum tempo. Tem coisa que ele nos ensinou no começo do ano passadoe eu ainda sei tudinho.

Issose chama "Didática de Ensino", Décio! – nem precisavaolhar para saber de que era aquela voz feminina.

Até queenfim D. Mércia!

Tivemosum debate muito bom na nossa aula. Era sobre Administraçãode Empresas Multinacionais. Uma beleza.

Epode se saber o que futuras cientistas têm a ver com Multinacional?

Palhaço!E você acha que vamos trabalhar onde? Alguém neste Paíspaga pesquisa para alguém, Jeca?

Tacerto, Iara! Não está mais aqui quem falou.

Décio,o bom nesta Universidade e o que faz o diferencial das demais é avisão pedagógica do Padre Mário Pellatiello. Eleensina a profissão e molda a personalidade crítica do profissional.Tenho absoluta certeza de que nenhum curso de Engenharia Eletrônicapreocupa-se com estes detalhes que parecem mínimos, mas que sãode vital importância para o educando.

Nistovocê tem plena razão. Para nós do Curso de FísicaEspacial aparece este tipo de aula.

Palestra,animal! – falou Iara

Anta!Palestra é para se dormir. São aulas mesmo. Panaca! Apesarde serem no auditório, são aulas mesmo. E que aulas! Umdia destes assistimos a uma ministrada pelo Prof. Adelino Moreira Brandão,sobre Língua Portuguesa, Redação mais propriamentedita, e, apesar de uns alienados, todos nos conscientizamos de que nossoproblema redacional está justamente na leitura.

Claro,físico é analfa! Brincadeirinha, gente! – brincouIara e se desculpou diante dos olhares ferozes de Márcio e Décio.

Vocêsquerem naturalmente falar com Padre Mário, não? – perguntouD. Geraldina, assessora do Reitor.

Simsenhora! Tudo bem, né?

Claro!Podem entrar! Ele os aguarda!

Obrigado! – dizMárcio.

Asala era ampla. Um quadro de São João Bosco, padroeiro dosSalesianos, chamava a atenção. Padre Mário, um homemque se impunha pelo porte e pela sua personalidade. Alto, ombros largos,cabelos negros, testa grande, nariz adunco, olhos negros, fala mansa masimperativa.

Bomdia, meninos! Prazer em recebe-los! – falou o padre dirigindo-seao encontro do grupo com a enorme mão direita estendida para oscumprimentos.

Padre,muito obrigado por nos receber.

Emque lhes posso ser útil?

Padre,nós não queremos desavenças com ninguém.Sei que deveríamos discutir este assunto com o D. A., mas, infelizmentejá os procuramos e nada foi solucionado até agora. Trata-sedo projeto de nossa formatura. Precisamos agilizar algumas coisas, masnão sabemos se será uma formatura em conjunto ou váriasindependentes. O Diretório Acadêmico alega que é problemada Reitoria e que eles nada podem fazer senão uma decisãopartindo daquí.

Bem,eu não sei o porquê do Tomáz e seus companheirosde Diretoria estarem tomando tal postura e se comportar deste jeito.Estão cansados de saber que uma formatura universitária,obrigatoriamente, tem de ser em conjunto. Se eles pretendem alguma mudançateriam que ter feito a proposta antes do início das aulas, noPlanejamento Geraldo da Universidade, apesar de que tenho plena convicçãode que seria rejeitada pelo Regimento. Para este tipo de mudançanecessitar-se-ia da aprovação do MEC. Algumas Universidadesjá o tentaram e não o conseguiram. A USP foi uma delas.

Entãopodemos formar a comissão integrando-a com alunos de todos oscursos?

Sim,isto mesmo! As cerimônias de colação de grau e religiosasestarão aos cuidados desta Reitoria. Baile, almoço, trotes,ficam por conta dos senhores.

Padre!E os evangélicos? – perguntou Mércia

Semproblemas. Vamos depois discutir com vocês se preferem uma cerimôniaecumênica ou uma missa e um culto. Democracia é isso, D.Mércia.

Pessoalmãos a obra! Vamos começar a trabalhar feio. Padre Mário,muito obrigado por nos atender!

Márcio!Só não estou entendendo é o porque que o D. A. seomitiu em um caso tão banal como este.

Nemeu, Padre! E olhe que o Tomáz é colega da gente e até participada nossa turma no Araçatuba Clube. Vamos conversar com ele paraque nos explique esta alienação besta do Diretório.

Euvou dar um cassete neste moleque do Tomáz – esbravejou Décio,logo que saíram do Gabinete da Reitoria.

Calmavelho! Ele deve ter lá as suas razões!

Maslogo com a gente?

Eutambém acho que tem dente de coelho nesta história, Márcio. – acrescentouMércia.

Vamospara a aula. Mais tarde nos encontraremos na praça.

Emoutro local do enorme estabelecimento de ensino, uma outra reuniãotinha início.

Tomáz,os caras falaram com o Padre!

Pegoualguma coisa?

Nasaída pareciam putos com você.

Desgraça,eu demorei muito para atacar.

Eagora?

Nãosei! Vou conversar com o homem. Vou pedir a ele alguma saída.O pior é que ele vai ficar "emputado" comigo.

Porque você não levou logo eles para conhecer o homem?

Eupretendia armar uma confusão maior para que eles ficassem maisapavorados ainda. Depois ficaria fácil oferecer a ajuda do homem.

Complicou!Você vai falar com ele hoje?

Euvou é agora.

SEIS

OCessna sobrevoava a cidade fazendo seu procedimento de aproximação.Dentro seis pessoas: o piloto Coronel Adalberto, o Tenente Corte Real, TenenteOtelo, Tenente Renato Marzagão, Capitão Carlos Nascimento eo Capitão Rogério Cardoso. Revisavam as próximas ações.

É,este povo vai nos dar trabalho. – comentava Capitão Rogério – Estenegócio de Inteligência não é comigo não!

Mastem que ser assim, Rogério – retrucou Coronel Adalberto.

Meunegócio, Coronel, é atirar e depois perguntar: O que eramesmo que estava acontecendo?

Nãopode ser assim, gente!

Coronel,o senhor a me "adescurpe", mas eu penso igualmente ao Capitão.Já não se sabe o que os homens são capazes de aprontar?Cadeia vai concertar este povo? Tenho convicção de queDeus nos entenderá. – Otelo sempre demonstrara preferênciapelo ataques diretos.

Ecomo você provará que eles fizeram tudo isto? Nada temosde concreto. Por exemplo: não temos nenhum corpo e sabemos queeles assassinaram algumas pessoas. Sabemos também que traficamdrogas, comercializam meninas para prostituição na Europa,no Oriente e nos Estados Unidos. Temos alguma declaraçãoassinada por alguém? Quem já confessou alguma coisa, vítimaou bandido?

Oavião aterrissara mansamente na pista asfaltada do Aeroporto de Araçatuba.Taxiava, quando todos observaram uma pessoa de pé, próximoao parque de taxiamento dos pequenos aviões, tudo indicando que osaguardava. Corte Real já empunhou a sua Mauser 45 e a preparou paraqualquer emergência. O mesmo o fez Otelo com seu 38 cano curto.

Calmarapazes! Calminha! – pediu o Coronel Adalberto.

Todosdesceram com olhares fixos no homem parado perto do avião. Neste momento,um outro se juntou ao primeiro. Os dois caminharam na direçãodos recém-chegados.

Bomdia, senhores! Poderíamos falar-lhes?

Bomdia! Em que lhes podemos ser úteis! – falou educadamenteCoronel Adalberto.

Souo Prefeito Municipal desta cidade e me chamo Sillas José Venturinie este é meu Secretário de AdministraçãoDr. Juventino Daia Gomes. Sabemos quem são e o porquê desua estada em nossa cidade. O Ministro das Forças Armadas, MarechalJosé Trindade nos informou, apesar de nos alertar que certamenteseriam suas últimas palavras, pois os senhores o matariam. – edeu uma risada quase silenciosa.

Eunão o estou entendendo. Acredito que o Ministro jamais falariade nós para alguém. Desculpe-me, eu não o estouchamando de mentiroso, mas sim tentando descobrir o que o fez falar anosso respeito.

Coronel,desespero, puro desespero! As coisas estão se tornando insuportáveisem nossa cidade e em toda a região, sem exagero algum. Nãose pode confiar em ninguém mais. Há membros desta famigeradaMáfia da Droga infiltrados em todo lugar: na Prefeitura, nas Escolas,na própria polícia. Nós não temos em quemacreditar.

Epor que tem tanta certeza sobre nós?

Devido àspalavras do Senhor Ministro, que inclusive nos mostrou suas identificações,falou com o Senhor por telefone lá na Fazenda Araçatubae deu-nos o horário da chegada de vocês aqui em Araçatuba.

Bom,Senhor Prefeito, a sua sorte é que eu os conheço de longadata. Se o Senhor prestar uma atenção muito especial oSenhor verá que há duas armas discretamente apontadas paravocês. Nós também não estamos confiando emninguém. Mas de um professor nunca se esquece.

Você foimeu aluno? Quando? Onde?

Depoisconversaremos sobre isto, Professor, digo, Prefeito. Este seu secretariozinhotambém vai levar um baita susto, não vai? Primo!

MeuDeus! Adalberto! Você não...

Calaesta matraca, infeliz! Você nunca me viu, palhaço!

Nãoacredito! Não é possível!

Prefeito,o senhor teria alguma informação para nos passar? Algumacoisa que deveríamos saber?

Coronel,nós apenas desconfiamos de algumas pessoas. Seus nomes estãoaqui nesta lista, bem como o local onde trabalham. Lembre-se! Sãoapenas suspeitos. Temos muito medo de injustiças.

É...!A maioria é de nomes conhecidos nossos. Algumas surpresas, vocêspodem crer!

Bem,a nossa finalidade maior é de colocar todo o dispositivo da Prefeituraa sua disposição, inclusive financeiro. Temos um parceiromuito honesto e de integral confiança. O Senhor José Dionísio.Um de seus filhos foi assassinado e se supõe por esta Máfia.

Qualfilho dele? – perguntou ansioso Coronel Adalberto.

Omais novo, André Dionísio Sobrinho. Seu corpo foi encontradobaleado e carbonizado às margens do Córrego Baguaçu,perto do Frigorífico T. Maia.

Você logopensou no Zé, não foi? – interviu Juvêntino,obtendo um desconcertante sorriso como resposta.

Bom,Senhor Prefeito! Já ficamos muito tempo junto. Pode deixar quetentaremos apressar nossas investigações e lhe manteremosconstantemente informados sobre as mesmas. E aí, Renato?

Ninguémpor perto! Nenhuma viva alma!

Otelo?

Mesmacoisa. Nada por perto.

Ogrupo, que estava atrás da aeronave, se desfez. Saíram primeiroo Prefeito e seu Secretário. Os militares agiram diferentemente. Cadaum saiu para um lado; Renato dirigiu-se para a cabeceira da pista; Rogério,para o seu final; o Otelo, por trás das demais aeronaves taxiadas;Corte Real caminhou para a Estação de Passageiros; o Carlão,para o estacionamento dos veículos dos funcionários e o Coronel,para uma pequena garagem onde estava estacionado um Belair 61, vermelho,muito bem conservado, seminovo pelo pouco uso e mais potente que o normalpelo "envenenamento" praticado em seu motor. O carro pertencia à FazendaAraçatuba e ali ficava especialmente para atender àqueles quechegavam da fazenda e necessitavam ir à cidade.

OCoronel acionou o motor, retirou vagarosamente o veículo do pequenoabrigo e dirigiu-se para a saída do Aeroporto. Alguns metros à frente,o carro fez ligeira parada quando adentrou Corte Real.

NaEstação, tudo limpo! Os funcionários estavam emuma reunião administrativa, como você bem havia previsto.

OTenente João Dias me informara!

Logo à frente,subiu Carlos Andrade.

Somenteo guardador de carros. Perguntei se alguma aeronave havia taxiado recentementee ele afirmou não haver prestado atenção. Parecia-lheque um monomotor havia aterrissado, mas não vira os passageiros.

Mais à frente,eles recolheram Renato que afirmou nada ter encontrado de estranho. Voltaram,passaram pela Estação de Passageiros e continuaram até encontrarem,em uma estrada vicinal, Otelo e Rogério, que também nada haviamvisto. Fizeram meia volta e se dirigiram para a cidade.

-Vamos ver o que nos espera.

SETE

Tomázestacionou sua Lambretta bem em frente ao Edifício Araçatuba,pela Rua Oswaldo Cruz. Subiu ao quinto andar e adentrou no escritórioda Aliança Representações, Pecuária e Exportações.No balcão foi atendido por uma secretária de aproximadamenteuns 21 anos, Amélia seu nome, e pediu para falar com o Sr. Amadeu.

Teveque aguardar alguns minutos. Ao saírem dois senhores ele foi convidadoa entrar.

Bomdia, Senhor Amadeu! – cumprimentou sorridente

Bomdia, Tomáz. Você anda meio sumido. O que está havendo?

Sr.Amadeu, eu acho que estou precisando muito de sua ajuda. Estãoacontecendo coisas na Universidade que estão fugindo ao meu controle.

Sejamais explícito, Tomáz.

Osenhor se lembra de que eu pretendia deixar uma turma da Universidadesem muitas alternativas para que dependessem da ajuda da Empresa e, portanto,a mercê dos nossos favores.

É umaturma de formandos, não Tomáz?

Sim!Eu os enrolei um bocado para que se confundissem sobre as solenidadesde formatura. Deixei-os apreensivos quanto à atuaçãodo D. A. Achei mesmo que eles estavam prestes a vir nos pedir um auxílioexterno para a realização da mesma. Eu sabia que o Reitorestaria viajando participando de um Seminário em Curitiba. Aconteceque o Seminário foi suspenso e o tal Padre não viajou.Eles conseguiram uma audiência com o Reitor e agora estãodonos da situação, independentes do D. A. E eu queria dosenhor uma sugestão do que fazer para torna-los novamente dependentesde uma ajuda externa.

Mas,Tomáz! Não será assim que eles dependerãomuito mais de "ajuda externa" como você diz?

Só quecom a união dos cursos,a Comissão de Formatura será maisheterogênea e deverão surgir firmas interessadas em patrocina-los.O senhor não se esqueça que tem pessoas das famíliasDionísio, Tagliaferro, Verdi, se formando.

Tomáz,calma! Vamos por partes. Primeiro: você achou que estes meninos,universitários e excelentes alunos segundo os currículosque estão em minhas mãos, iriam cair tão facilmenteassim em suas mãos? Segundo: você acreditou que a simplesausência do Reitor iria desestimular estes meninos? Terceiro: quala oferta concreta que você lhes ofereceu em contrapartida? Quarto:quais as garantias que você tinha de que eles se submeteriam àssuas propostas de aliciamento? Se você respondeu a todas estasquestões afirmativamente, a organização falirá comelementos iguais a você.

É queeles não são tão inteligentes como o senhor está supondo.

Tomáz,além de tudo você é muito arrogante. E gente arrogante é muitoperigosa para nossa Empresa. O patrão não gostará desaber destes lances que você está me apresentando.

SenhorAmadeu, por favor! Eu vim lhe pedir ajuda e não apresentar umrelatório de minhas atividades. Estou lhe contando estes fatosconsiderando-o um amigo. É um amigo pedindo socorro a outro amigo.

Tomáz,neste negócio, um, negócio que remunera muito bem seusparticipantes, não há lugar para erro, conselhos, amizadesou perdões. Exige-se única e tão somente competênciae lucros.

Entãome dê um prazo a mais e eu irei tomar providências no sentidode sanar minhas possíveis falhas. Por favor, não fale nadaao Patrão.

Tabom! Olhe! Tente oferecer dinheiro para que esta turma se interesse porvocê e sua proposta. Dinheiro compra tudo neste mundo, até amais alta dignidade. Vá direto ao assunto. Só nãodiga de onde tirará dinheiro para subsidiar a tal formatura. Outroconselho, dinheiro só para a formatura é muito pouco ese torna banal. Ofereça uma excursão, aos Estados Unidos,por exemplo. Arroje-se, menino! Voe alto!

Sim,Sr. Armando! E muito obrigado pelas dicas. Vou segui-las literalmente.Muito obrigado!

Aoentrar no elevador, Tomáz sentia-se bem mais aliviado. A bronca, merecidacertamente, não havia sido muito humilhante. Sr. Amadeu estava debom humor naquele dia e tinha a certeza de que ele nada diria ao Patrão.Nem reparou nos dois homens que entraram no elevador quando este parou noprimeiro andar.

Tomázsentou-se em sua Lambretta, deu partida e rodou pela Oswaldo Cruz até à PraçaNove de julho, entrando à direita e continuando pela Rua General Glicério.Diminuiu a marcha no cruzamento com a Rua Tabajara. Como vinha uma carreta,ele parou.

Nestemomento, uma Kombi estacionou ao seu lado. Inesperadamente as portas lateraistraseiras abriram-se pulando de seu interior quatro homens. Dois agarrarambrutalmente Tomáz puxando-o da Lambretta e outros dois a pegaram ejogaram ambos para dentro da perua. Tomáz quis gritar, nãoo conseguindo devido ao violento soco que tomou na boca do estômago.Tudo ficou escuro, o ar faltou-lhe nos pulmões e ele nada mais viu.

Primeirosentiu um gosto estranho na boca. Tentou sentir o que era. Não o conseguiu.Depois tentou abrir os lhos. A dor de cabeça era intensa. Quando recobroumesmo os sentidos viu que estava amordaçado. Tentou mexer os braçose sentiu seus pulsos doerem; percebeu que estava atados por um cordãofino que lhe machucava a pele; as pernas estavam abertas e ele sentiu queestava sentado em algo até certo ponto macio, Reconheceu o assentode sua Lambretta. O que estava acontecendo? Um terror tomou conta de seuser.

Tiraram-lhea fita que lhe vedava os olhos. Então ele ficou horrorizado. Estavarealmente em seu veículo. Seus punhos amarrados o prendiam ao bancoe seus tornozelos a calenagem da moto. Esta estava no tripé. A Lambrettaestava atravessada no meio da rua. Um caminhão, com o motor ligado,distante uns 150 a 200 metros dele era algo muito ameaçador e nãodeixava dúvidas sobre as intenções daquelas pessoas.

SeuTomáz! – reconheceu a voz do Sr. Amadeu – Nunca cometaerros e os conte a alguém. Incompetência não temperdão e muito menos desculpas.

Ocaminhão deu duas aceleradas. Tomáz arregalou seus olhos. ProcurouSr. Amadeu, Não o viu. O caminhão acelerou novamente. Tomáztentou desvencilhar-se das cordas. Tentou gritar clamando por misericórdiae perdão. O caminhão começou a rodar. Afastou-se uns10 metros. Tomáz balançava a Lambretta. Esta estava com o tripé fincadono chão. O caminhão voltou a rodar, desta vez para frente,motor acelerado, velocidade aumentando. Tomáz gritava desesperadamente;ouviam-se apenas sussurros. O caminhão se aproximava ganhando velocidade.Tomáz fechou os olhos.

Nadamais viu; nada mais sentiu; nada mais pensou.

Omotorista ainda engatou uma marcha-ré e passou por cima da moto edo motoqueiro mais uma vez.

Osauxiliares retiram no meio da carne moída os restos de cordas, mordaça,tapa-olhos, enquanto o Sr. Amadeu corria avisar a polícia sobre ohorrível acidente que presenciara na estrada para a Água Limpa,entre um motoqueiro imprudente e um caminhão carregado com pedrasde Granito.

Foium acidente horrível! Coitado do moço. Tão novo!

OITO

Márcioe Mércia acabavam de chegar em casa quando souberam, por intermédiode Iara que lhes telefonara, da morte de Tomáz. Lamentávelacidente.

Afamília do falecido residia na Rua D. Pedro I, nos fundos do salãode costura de D. Guiomar. A aglomeração pública eramuito grande. Todos consternados e incrédulos quanto ao acidente.Tomáz nunca havia sido um corredor irresponsável.

Aurna, por ordem médica, permaneceu lacrada. Ninguém pode vero corpo, tal o estado lamentável do mesmo.

Eusó não estou entendendo o que ele tinha de ver lá em ÁguaLimpa. – comentou Tereza Cristina com os amigos na rodada dos universitários.

SegundoSérgio Zuppi, secretário do D. A., ele foi falar com umfazendeiro daquela região sobre um patrocínio para a formaturada Universidade. Segundo o Sérgio ele queria que o D. A. bancassea tal formatura, fosse coletiva ou por curso. – explicou Mércia

Eunão sei o porquê de alguma coisa estar me buzinando no ouvidode que esta estória está muito mal contada. Pra mim é falsa!Tem coisa podre neste meio! Gente! Pelo amor de Deus, é muitatragédia para tão pouca coisa. Formatura! Eu já estoume enojando deste assunto. É bem capaz que eu mande tudo à merdae nem participar desta porcaria eu participarei. Ta ficando muito polêmicae criando muitas inimizades. – exaltou-se Iara.

Euconcordo com você em gênero, número e grau. Só,Iara, que se você não participar pelo menos da colaçãode grau, o seu curso não terá validade.

Boatarde senhores e senhoritas!

Boatarde! – responderam.

Ué!O estrangeiro! O desconhecido! O que deveria ser, mas não é!O que era, sem deixar de ser! – papagaiou Jonas.

Tudobem, meu amigo! Como passou desde aquele dia?

Bem,muito bem! O senhor é quem sumiu, O pessoal estava doido paralhe fazer algumas perguntas e quando o procuramos o senhor havia desaparecido.

Desculpeos arroubos do Jonas. – interferiu Márcio – É queele nos havia dito que tudo indicava que o senhor seria uma pessoa conhecida,mas que ele mesmo não se lembrava do senhor.

Realmente,ele declarou isto naquele dia. Mas na realidade eu não posso dizerque os conheço a todos. Poder-se-ia dizer: a quase todos.

Mascomo? De onde? O senhor nunca estudou conosco?

Você temtanta certeza disto?

Bom,sinceramente eu não me lembro do senhor.

Eulhe disse, quase todos. Mas, acabemos com o mistério. Eu fui umassíduo freqüentador do Araçatuba Clube e como minhafamília era mais humilde eu mais os notei do que fui notado. Nuncapertencemos à elite social desta cidade. A nossa participaçãono Clube mais se deu pelo arrojo e ousadia de minha mãe do quepropriamente pela nossa condição social e financeira. Daí euos conhecer e vocês não a mim.

Equem era sua mãe? – perguntou Mércia

Desculpe-me.Ela já faleceu e eu, se me permitirem, gostaria de mudar de assunto,sem querer ofender a ninguém. Apenas não suporto saudadese nostalgia.

Tudobem! Outro dia conversaremos sobre o assunto, se assim você quiser. – ponderouMércia.

Ofalecido era Presidente do D. A.? – o novato agora falava com Márcio

Sim,era sim!

Difícilde se entender um acidente, não?

Parao senhor ver. Um rapaz novo, não diria querido por todos, maspor uma pequena ala política da Universidade. Mas, realmente umacidente, mesmo com o nosso pior inimigo, choca sempre a gente.

Vocêsnão eram muito chegados?

Não!Eu não tinha nada contra ele. Só estávamos tendouma pequena desavença por causa de nossa formatura. Uma coisaidiota. Ele não queria organizá-la e nem nos deixar fazê-lo.

Ejá se sabe o porquê?

Parece-meque ele pretendia fazer tudo sozinho! Dizem que o acidente aconteceupor que ele havia ido à fazenda de um provável patrocinadordas solenidades.

Equem seria este patrocinador?

Sinceramente,não sei! O rapaz que o secretariava também, nãoo sabe. Parece que Tomáz guardava o nome sobre sete chaves.

Beminteressante! Você não acha Márcio?

É!Eu até agora não entendi o porquê da atuaçãosolitária, do sigilo do patrocinador. Por que todos este mistério?E para uma coisa tão banal em relação àsproporções assumidas.

Gente,o caixão será levado para a Igreja Matriz. – anunciouIara

Mas,já? – duvidou Márcio.

Parece-meque o estado do corpo requer um enterro mais rápido.

Credo!

Márcio,eu poderia encontrar-me com você uma outra hora, para trocarmosalgumas idéias. Confesso que também estou cheio de minhocasna cabeça a respeito deste acidente.

Você é policial?

Encontremo-nose eu terei o prazer de falar-lhe a meu respeito. Tenho certeza de quevocê terá algumas surpresas.

Tudobem! Onde?

NoAraçatuba Clube. Poderíamos nos reunir no salãodo restaurante. Quase ninguém o freqüenta nos horáriosda piscina. Que tal?

Tranqüilo!

Então,amanhã, digamos, às dezesseis horas?

Semproblemas!

Porfavor, não comente com ninguém estranho este nosso encontro.

Tudobem! Mas, algum inconveniente se eu levar minha irmã?

Deforma alguma. As pessoas de sua inteira confiança serãobem-vindas. Mas, se duvidar de alguém, não o leve.

Então,até amanhã!

Até amanhã!

Adalbertosaia do meio da multidão quando dele se aproximou Rogério

Porfavor, posso levar o avião da minha irmã? Algum inconvenienteque eu leve aquela mulheraça para conversar com você? Osenhor gosta o sexo oposto, não?

Calaa matraca que ela já funcionou mais do que precisava por hoje.

Euainda vou ser Coronel! Você viu Otelo? – dirigia-se ao baixinhoque se aproximava.

Tempai que é cego mesmo!

NOVE

Erauma linda manhã de abril, céu azul, calor ameno o que nãoera muito peculiar em Araçatuba, tudo propício para ser umdesses dias muito felizes e repletos de realizações.

Senhores, é umprazer recebe-los em nossa humilde morada. – assim falava Dr. WladimirPimenta Ribeiro, Diretor-Presidente da Aliança Representações,Pecuária e Exportações, seu proprietáriobem como de várias outras empresas e negócios escusos,a uma comissão de "representantes comerciais" japoneses todosvinculados a Yakusa e que ali estavam para tratarem de altos negóciosde importação e exportação.

SenhorWladimir, nós gostaríamos de ir direto ao assunto principalde nossa visita. – um nissei muito elegante em seu terno impecável,abotoaduras de ouro fazendo conjunto com o anel que ostentava em um dosdedos de sua mão direita – Nós viemos trazendo umasalutar e variada mercadoria e gostaríamos de saber se a sua está pronta.

Claro!Evidentemente! Minhas peças estão em outro local. Estafazenda é apenas a fachada para os meus negócios, digamos,Lícitos. Aqui eu só tenho plantações e gado.Mas aí na porta está um avião que nos levará paralá, uma questão de duas ou três horas de vôo.E onde estão as de vocês?

Naresidência de um correspondente nosso, em uma chácara nascercanias da cidade. Se o Senhor preferir iríamos antes lá edepois até as suas mercadorias. Concorda?

Tudoacertado, bebericaram alguns goles de whisky escocês, outros, vodkarussa, outros ainda optaram por um bom "Cuba Libre". Entraram em duas peruasKombi e saíram em direção ao chamado depósitode mercadorias dos japoneses.

Esteficava em uma chácara às margens da Rodovia Marechal Rondon,entre Araçatuba e Guararapes, lugar aprazível, casa luxuosa,mas pequena tendo uma bem cuidada represa ornamentada por um gramado muitobem cuidado e flores, as mais variadas. Desceram dos veículos, masnão entraram na casa, dirigindo-se para um local mais afastado, umcasarão velho, um depósito, com um cômodo só,amplo e pouco higiênico.

Sentadasno chão, amarradas e amordaçadas, seis mulheres orientais.Mais afastado, uma outra, nua, os punhos e os tornozelos amarrados entredois troncos grossos, bem abertos, formando um "X". Estava tambémamordaçada e olhar aterrorizado.

Osbrasileiros, comandados pelo Dr. Wladimir, passaram pelas meninas que estavamno chão observando-as com olhares bem curiosos. Perceberam que ummal cheiro exalava delas, cujos olhares apavorados os acompanhavam. Dr. Wladimirdemonstrou aos nipônicos que estava sentindo o odor desagradável.Um deles, talvez o mais forte, aproximou-se de uma, agarrou-a pelo braço,levantou-a, colocou-a de costas para todos, subiu-lhe a saia imunda e mostrouuma calcinha cheia de fezes e que já, meio seca, esparramava-se pelaregião glútea. Na frente, a marca da urina derramada na mesma.As cochas estavam sujas desta horripilante mistura.

Explicouo intérprete de que elas estavam isoladas de todos desde o Japãoe que por uma questão de segurança não foram soltasum momento sequer. Portanto haviam defecado e urinado nas própriasroupas. Inclusive a que estava entre os postes e que esta havia sido lavadapara servir como demonstração.

Umdos japoneses dirigiu-se às prisioneiras e falou rispidamente comtodas elas. Esbravejou, gesticulou muito, apontou para aquela entre os troncose até chutou os pés de uma delas. Ao terminar, olhou para ointérprete e este, perguntando se aprovara o lote e sendo afirmativaa resposta, pediu ao Dr. Wladimir que demonstrasse naquela entre os postescomo agia com quem o desobedecesse. Dr. Wladimir sadicamente sorriu, olhoupara a prisioneira e aproximou-se da mesma.

Quinzechibatadas com rebenque de três pontas, queimaduras dos seios com cigarro,penetração vaginal e anal com grossos dildos, muitos socose tapas no rosto.

É assimque fazemos aqui no Brasil, meninas. Alguém quer experimentaro tratamento? – a tradução foi simultânea.

Evoltando para seus asseclas:

Retiremeste molambo dos postes e a levem para tratamento médico na fazenda.Deixem-na uns tempos nas lides domésticas cuidando dos banheirose das camas de vocês – e sorrindo – de preferênciacom vocês nelas.

Dr.Wladimir, vamos aos nossos outros negócios? – falou o intérprete.

Ah,sim! Amadeu, faça-me o favor.

OGerente do Escritório se apressou em abrir uma pasta contendo váriascédulas de dólares. Era o pagamento pelas escravas brancasnipônicas.

Seriabom o senhor conferir. Gostaria de acompanha-los nesta conferência.Vocês sabem, devemos desconfiar até de nossas sombras.

Ascédulas foram depositadas em cima de uma pequena mesa e contadas,uma a uma, obtendo-se o resultado esperado.

Doishomens chegaram com uma caixa de madeira lacrada com um cadeado. Aberta,mostrou-se repleta por pacotes de meio quilo da mais pura cocaína.Os japoneses se extasiaram com o aspecto dos pacotes no pequeno container.

Aqualidade do produto continua a mesma. Nunca iríamos batizar nossamercadoria destinada a clientes tão generosos como os senhores.Experimentem!

Sim,realmente é de muito boa qualidade! - falou o intérpreteapós o sinal de aprovação dado por um dos japonesesque a experimentara.

Dr.Wladimir! Só não entendemos o porque de vocês pediremmoças de nosso país para trabalhos especiais quando noBrasil os senhores possuem as moças mais encantadoras do mundo,tanto que fazemos questão de as levar para o Japão.

Peloexotismo das orientais, Senhor Ideo. Elas oferecem serviços muitoespeciais. Na viagem posso lhe explicar alguns deles, que para vocêspode não ter nenhum significado especial, mas para certos brasileiros é motivopara programas caríssimos e dos quais brasileiras não conseguemfazer, por mais que apanhem ou sejam torturadas.

Ogrupo voltou para os carros. Havia um, que já estava na chácara,tipo camburão, onde foram colocadas as moças, inclusive a desfalecidasupliciada. As peruas Kombi fizeram o mesmo trajeto para a volta. A fazendaficava nas proximidades do patrimônio de Água Limpa. Lá ogrupo adentrou no DC-3 da Empresa que alçou vôo rumando paraos lados do Estado de Mato Grosso.

-Resolveremos um pequeno problema em Andradina, pernoitaremos me Campo Grandee depois seguiremos para o nosso destino final.

DEZ

Márcio,Mércia, Iara, Tereza Cristina, Jonas, Walter, Décio e JoãoGordo estavam encostados na mureta que separava a piscina olímpicados salões de restaurante e festas do Clube. Uma mureta coberta compedras lapidadas vermelhas, pretas e amarelas, com aproximadamente 0,60 cmde altura o que permitia sentar-se nas mesmas, apesar das broncas do Sr.Angelim, responsável pela ala aquática do Clube.

Estavamconversando despreocupadamente e nem se aperceberam da presença deum rapaz encostado próximo a eles. Tereza Cristina comentava:

Comoo Sr. Fernando chorou ontem no cemitério, não gente?

Perderum ente querido e da forma como foi a morte de Tomáz nãodeve ser nada fácil. – era a opinião de Walter

Eo pior é que ninguém entendeu até agora o tal acidente.Uns falam que ele esteve no Edifício Araçatuba, demorou-seum pouco por lá e depois... Desapareceu. Já o encontrarammorto na estrada da Água Limpa.

Não é lá ondefunciona o escritório de uma firma chamada Aliança? E elenão prestava serviços para essa tal de Aliança?Um dia, se não me falha a memória, eu lhe perguntei ondetrabalhava e me lembro perfeitamente bem dele mencionar esta Aliança. – lembrou-seJonas

Meupai nos contou ontem no jantar que o dono desta tal de Aliança, é riquíssimoe nunca aparece em público. Somente seus "testas de ferro". Dizmeu pai que é uma empresa que movimenta altas somas de dinheiro.

Nestemomento foram interrompidos por um pretinho:

Ossenhores poderiam me acompanhar? Parece-me que querem se encontrar comalguém?

Equem é o Senhor? – perguntou Jonas

Umamigo de um amigo de vocês. Meu nome é João Pacíficodos Santos, mas me conhecem por Otelo. – e lhes mostrou uma identidadepessoal já bem desgastada pelo tempo – Podemos ir até asala preparada para a reunião?

Etodos acompanharam o homem baixinho. Foram seguidos pelo rapaz que estiveratodo o tempo ao lado deles. Passaram pelo salão do restaurante, subirampara o andar superior, atravessaram todo o salão de dançase adentraram em uma sala pequena, sem mobília e com apenas uma porta.Ao passar por ela, levaram um grande susto.

Estavamem um cômodo bem maior e que dividia a parede lateral com todo o palcodo salão de festas; uma grande mesa, com aproximadamente doze ou trezecadeiras estofadas, uma de café e guloseimas ao canto e... o desconhecido...fardado. Ele era um Fabiano.

Meninos! É commuito prazer que lhes apresento o Tenente-Coronel Adalberto Teles Bretas,Comandante Geral das Forças Armadas.

Oque? Quem? – abobalhado perguntou Jonas.

Eunão acredito nisto. É uma farsa! O Beto morreu há muitotempo. – acrescentou Tereza Cristina.

D.Berenice está passando bem, Te? Maria Luiza, Antonio Carlos, Lygia?Esta sarou por completo da meningite? – falou o "desconhecido".

Lágrimasdesceram pelo rosto de Tereza Cristina. O pranto soou alto. E ela se atirouao encontro do rapaz, enlaçando-o, chorando convulsivamente.

Jonas,alegando sucessivamente: "Sou homem! Sou homem!", também nãocontinha as lágrimas. Diante dele talvez um de seus amigos mais queridos,mais chorados. Juntou-se à Tereza Cristina no abraço ao verdadeiroirmão que julgara perdido para sempre. Depois...

Desgraçado!Bosta! O que você aprontou, ordinário? Por que nunca disseque estava vivo? Onde você andou metido este tempo todo? Fala logo,miséria! Cafajeste!

É,cara! Explicar talvez eu não o consiga. Às vezes eu mesmofico sem saber o que na realidade o Homem lá de cima pretendiaquando me aprontou tudo o que passei. – falava isso ainda abraçadoao amigo e à garota que continuava em prantos.

Eesta farda, meu? E pelo tom solene ali do moço você agora é "picagrossa". O que você faz na vida? Sei que é militar. E daFAB. De antes ou depois das modificações do sistema militarbrasileiro?

Ele é quemsugeriu, moldou e instalou o novo modelo, Jonas! – acrescentouum senhor também fardado – e só não é oMinistro porque não aceitou o cargo.

Entãovocê é o cara de quem tanto falam no rádio? O talde Comandante Adalberto? E nunca aparece no Canal 100, só falamem você, sem lhe mostrar a cara.

Gente,vamos nos sentar? Temos muito que conversar. Achamos que vocêsestão correndo seriíssimo perigo. Principalmente vocêsduas, Mércia e Tereza. Eu pediria que primeiro falasse o militare depois o amigo. Pode ser?

Perfeitamente,Comandante! – decidiu Márcio – E pelo entusiasmo demeus colegas acredito que o papo do amigo será bem restrito.

E é ondevocê se engana, amigo. Quer ver? Mércia, você se lembrade um desfile de trajes típicos do qual você participouno Cine São Francisco? Você estava vestida

Deprimeira comunhão?

Sim,de primeira comunhão.

Nãome venha falar que você era...

Exatamente.Naquele dia usava um de meus primeiros ternos, evidentemente com calçascurtas. Aquela menininha até hoje é minha noiva, sabia?

MeuDeus do Céu! Então você é filho de D. MariaTeles?

Perfeitamente1

Muitasamigas me diziam que você afirmava me...

Senhores!Senhores! O militar está novamente saindo de cena. Desculpem afalta de educação deste senhor que ainda não nosapresentou. Sou o Capitão Rogério Cardoso, Coordenadordesta Investigação e logicamente desta reunião.Com a permissão de todos, assumo a presidência desta mesa,por livre e espontânea pressão. Com licença!

Gente,realmente eu cometi a gafe de não apresentar meus companheirosa vocês. Creditem minha falha à emoção enormeque senti ao revê-los.

Poisbem, jovens! Este aqui, magrelo, feio, mas competentíssimo emeletrônica é o Tenente Corte Real; este, à minhadireita, é mestre na idealização e produçãode caracterizações para uma camuflagem perfeita e atendepela alcunha de tenente Renato Marzagão; este que mais pareceum mocinho de cinema, apesar de eu pessoalmente achar que ele está maispara galã de cinema mexicano, como Cantinflas, por exemplo, masmestre na técnica de aproximações e ataque, é oCapitão Carlos Nascimento. Detalhe importantíssimo:

É araçatubensee foi colega de banco do Beto. – intrometeu-se Cristina.- agora é quefui me lembrar de você, Carlão. Também, um moçolindo como você era, apresentar-se com este cabelo e esta barbahorrível, só poderia transformar-se em galã de filmede terror.

Obrigado,querida! – maior ironia por parte de Carlos, seria impossível,mesmo com o fraternal abraço trocado com a garota.

Isso,querida. Concordo com você! Só que ele é o maiorintrometido do grupo, pois tem uma facilidade para infiltrar-se ou aproximar-sede alguém ou de algum lugar. E este "pretinho", este negro dealma branca, muito competente no uso das mais variadas armas fabricadasno mundo é o Tenente Otelo, ou melhor, Tenente José Honóriodo Amaral. A identidade que vocês viram era completamente falsa.Eu sou o menor do grupo. Minhas limitações provêemda minha idade, minha escle...

Ora,cala esta matraca! – falou Capitão Carlos Nascimento – Este é oCapitão Rogério Cardoso, auxiliar direto do Coronel Adalberto,emérito estrategista e espião de primeira.

Sim,pessoal, Rogério é o mentor intelectual desta operaçãode guerra em que estamos metidos. E para nós, vocês sãoos alvos diretos do inimigo.

ONZE

EmAndradina, deixaram parte da comitiva e os visitantes aos cuidados dos empregadosde Stanislaw Pontes, assecla e gerente da firma naquela cidade e que juntouao Doutor e Amadeu embarcando em um Cessna 270, quatro lugares, alçandoimediatamente vôo em direção à Fazenda SãoSebastião, gleba de terras situada entre Andradina e Entre Rios. Apósquinze minutos de vôo aterrissaram na Fazenda.

Nemse aproximaram da sede, que por sinal ficava em uma das cabeceiras da pistade grama. Do avião embarcaram em uma perua Chevrolet e, entrando emuma estrada aberta pelos próprios pneus dos carros que ali transitavam,dirigiram-se ao retiro denominado de Timboré, nome do córregoque abastecia o local.

Haviauma casa feita com grossas madeiras na sustentação, paredesde barro e ripas de bambu. A cobertura feita com telhas francesas. Nela moravamais um membro filiado à Máfia, o chamado Demóstenes.Ou melhor, Maizena. Preto alto, forte, careca, bigode e sobrancelhas finas,pescoço imperceptível. Dificilmente sorria. Risos? Só sádicos,quando satisfeitos seus instintos.

Recebidosno próprio carro, desceram e se dirigiram para a pequena represa formadapelo controle da evasão d'água do Timboré. Atravessarampela parte cimentada das paredes do tanque e embrenharam na mata percorrendouma estreita trilha que os obrigava andar em fila indiana. Observaram váriasbifurcações pelo caminho, explicadas por Maizena como "eliminadorasde intrometidos". E deveria ser verdade, pois quem se perdesse naquela matapoder-se-ia considerar eliminado por animais selvagens, ou pelas armadilhasesparramadas pelos bandidos.

Chegarama um rancho em meio a uma pequena clareira. Constituía-se apenas deum cômodo, feito de pau a pique e coberto com folhas de babaçu.Devido à altura das árvores passava despercebido se porventurahouvesse um vôo por cima daquele local. Explicou Maizena que ali nãoera rota de nenhum avião convencional. Qualquer vôo mais insistenteseria suspeito e, portanto, derrubada a aeronave.

Omotivo da movimentação de todo o grupo encontrava-se ali, bemperto das árvores, mas de forma que não era beneficiada pelasombra das mesmas. Em um cruz, estava amarrada uma moça, praticamentedesfalecida, suja, boca seca e olhos vidrados.

Está morta,Maizena?

Achoque não, Patrão!

Sevocê me fez vir aqui para ver um cadáver, você é quemvai ocupar esta cruz.

Patrão,eu não seria doido a este ponto. Ela deve estar cansadinha.

Há quantotempo ela está dependurada nesta cruz?

Achoque há uns três ou quatro dias. O ruim é que eu,de vez em quando, esqueço de lhe dar água e comida. Ontemmesmo, eu só vim pela manhã e estou voltando agora.

Frederico,Giovanni, Pedro! Desçam esta desgraçada da cruz! – eramcompanheiros de Maisena, moradores no Timboré

Cuidado,pessoal! Há um arame passado na testa dela, por baixo dos cabelos,segurando-a na trave de cima.

Oque foi que ela fez? Por que este castigo? E por que da minha presençaneste lugar? – perguntou Dr. Wladimir – Você sabe queeu não gosto de execuções sumárias.

DrWladimir, ela comprou uma porrada de material nosso. No começofoi tudo bem, ela esparramou um bocado pela cidade e nos pagou direitinho.Conseguiu matricular-se em um Colégio e fez várias meninasparticiparem de sessões de fumacê e cheirinho. Muitas sãonossas freguesas hoje. Só que a desgraçada apaixonou-sepor um cara e deu para sair com o indivíduo. E aí a coisacomeçou a feder. Vários consumidores nossos foram presose enviados para Clínicas de Recuperação.

Alcagüete?

Sim,senhor! Muitos funcionários nossos estão presos, denunciadose condenados como traficantes de drogas. Um dia nós pusemos umcara novo na parada e apresentamos o mesmo só para ela. Ninguémsabia da ligação dele conosco. Ele surgiu como dependentee a procurou para comprar um papelote. Na segunda vez que ele a procuroujá deu de testa com o milico companheiro dela que o aconselhoua procurar uma Clínica de Recuperação. O pior é quea descarada estava junto do "cana". Confirmado o fato, preparamos umacidente para o namorado dela, coitado, atropelado por uma ambulânciae trouxemos esta aí para cá. Achei melhor mostrar tudopro senhor e que o senhor a conhecesse.

Fezbem!

Amoça havia sido tirada da cruz.

Cara!Precisava por um arame farpado para sustentar a testa?

Erao que eu tinha à mão.

Dêem águae comida para esta merda. Reanime-na de qualquer jeito. Joguem-na dentroda represa, metam-lhe os dedos pelo fiofó, façam algumacoisa. Quero esta puta inteira, logo, logo!

Carregarama mulher, meio arrastada, meio suspensa, até a represa e sem nenhumacerimônia a jogaram dentro d'água. Giovanni pulou junto, poisnão a queria perder de vista, nem permitir que se afogasse. A mulher,ao receber o choque da água fria, estremeceu e começou a debater-se.Ao chegar à tona, soltou um berro de desespero. Quase havia sufocado.

Beba água,morfética! – ordenou Giovanni.

Elaquis relutar, mas teve sua cabeça mergulhada n'água sendo obrigadaa engolir grandes goles do líquido. Giovanni a pegou pelos cabelose a arrastou até a margem, sendo ela puxada pelos demais.

Dasede ela está curada. – diz Giovanni.

Vamosagora encher seu estômago com muita sustância. – considerouMaizena – alguma coisa que encha logo o bucho dela.

Norancho, após amarrarem-na em uma rústica cadeira, Maizena puxouseu pênis para fora da calça e começou a se masturbar.Frederico entendendo as intenções do negrão sugeriua Giovanni e a Pedro que fizessem o mesmo, enquanto se colocava por trásda mulher, enlaçando-lhe o rosto virando-o para trás deixandoa face da infeliz garota para cima. Com a mão direita, forçou-lhea mandíbula obrigando-a a abrir a boca.

Maizenajá estava nos limites do orgasmo. Aproximou o pênis do órgãoconservado aberto pelo assecla e jorrou seu líquido para dentro. Avítima tentou se contorcer, mas estava firmemente segura pelo sádicobandido que se deliciava com o tormento da vítima. Ela sentiu o líquidodescer goela abaixo e para não ficar sufocada, foi obrigada a engoli-lo.Como um pouco escorreu pelos cantos dos lábios, Maizena recolheu-ocom a ponta dos dedos e os enfiou na boca da moça, limpando-os nalíngua. O mesmo procedimento aconteceu quando Giovanni e Pedro gozaram.

Pronto,está alimentada. Já se fortificou! – comentou Giovanni.

Aindanão! – diz Maisena - Este foi o leite. Falta a carne! Eeu tenho alguma coisa guardada para ela.

Saiue logo depois voltou. Trazia na mão esquerda um rato enorme e na direitauma faca. Mandou os comparsas abrirem bem a boca da "criança". Estapercebendo o que lhe iam fazer começou a urrar desesperadamente pedindoque a matassem.

Maizenacolocou o animal sobre a mesa e decepou-lhe a cabeça. Rapidamentedespejou o sangue na boca da desgraçada. Esta engasgou, tossiu, engoliuum bocado, puxava o ar desesperadamente. Ao voltar a respirar normalmente,recebeu o rato em sua boca. Como o algoz não conseguia faze-lo descerinteiro pela garganta da moça, começou a dilacerar o rato empedaços menores que, forçados com seus dedos fortes, quebravam-see as partes menores eram engolidas pela supliciada.

Agorasim, ela está realmente muito bem alimentada. Tomou leite e comeucarninha. Dêem a ela um pouco de líquido para descer totalmentea comida ingerida.

É,isto é mesmo necessário - confirmou Frederico.

Pegaramuma vasilha de vidro, urinaram nela e depois fizeram a mulher, praticamentedesfalecida, beber todo o conteúdo do frasco. Terminado o processode alimentação chamaram o Dr. Wladimir para lhe entregar avítima.

Euassisti a brilhante atuação de vocês. Acredito quenão se precisa fazer mais nada. Deixem-na recuperar-se um poucoe depois tragam-na para fora.

Quaseuma hora depois, tempo gasto com piadas, causos e outras amenidades, desatadada cadeira, a mulher foi colocada em pé. Ia cair quando foi amparadapor Giovanni enquanto Frederico lhe aplicava sonora bofetada na cara. A moçafoi obrigada a cambalear até o quintal do rancho. Ela mais pareciaum autômato.

Seguindoas ordens do Dr. Wladimir ela foi colocada novamente na cruz. Desta vez nãofoi amarrada. Suas mãos e seus pés foram transpassados porgrossos pregos, próprios para moirões de porteira. Seus tornozelose seus pulsos foram atados ao lenho com arame farpado, bem como suas cochas,braços e seios.

Maizena!Você só me apareça aqui quando vir os urubus sobrevoandoesta carniça. Nem água, nem comida. Depois, incinere ocorpo em uma vala cheia de gasolina e queime este rancho também.

Simsenhor!

Rapazes,serviço feito. Vamos embora!

Inesperadamenteouviram um sussurro quase inteligível:

Desgraçado! – eraa moribunda.

Todosriram!

DOZE

Todosos jovens estavam sisudos, preocupados, dir-se-ia aterrorizados. Nunca poderiamimaginar-se ameaçados por alguém ou por alguma coisa. Nãotinham inimizades, tão somente desavenças com outros adolescentesmotivadas por namoricos, disputas esportivas, posicionamentos em sala deaula, etc., nada mais grave. E agora lhes apareciam policiais da InteligênciaBrasileira dizendo-lhes ameaçados? Duvidavam...

-A coisa é mais pérfida do que vocês possam imaginar. – falavao Coronel Adalberto. – Estou contrariando instruçõesdo Rogério que preferia mantê-los longe da verdade evitandoassim preocupações. Só que, no meu modo de pensar, vocêsestariam muito mais expostos e poderiam inclusive prejudicar outras pessoasgraças à displicência natural do jovem não acostumadocom situações de opressão. Querem um exemplo? CorteReal, use o gravador.

Omilitar tirou um pequeno aparelho do bolso, uma caixinha quadrada com umatampa acrílica e uma parte metálica semelhante a um pequenoalto-falante, destes usados nos rádios portáteis, como os daHitashi. Levantou a tampa e inseriu uma peça pequena encaixando-aem duas pequenas hastes plásticas. Fechou, acionou uma tecla entãose ouviu uma voz muito conhecida e que dizia:

" Meupai nos contou ontem no jantar que o dono desta tal de Aliança, é riquíssimoe nunca aparece em público. Somente seus "testas de ferro". Dizmeu pai que é uma empresa que movimenta altas somas de dinheiro.".

Osolhos de todos estavam quase saindo das órbitas. A incredulidade eraaté certo ponto hilária, isto pelas caras apalermadas dos rapazes.

Te,nunca comente com os outros o que seu pai conversa com vocês naintimidade de seu lar.

Mas,como conseguiram?

ORenato estava bem ao seu lado e gravou toda a conversa de vocês.Este aparelho é ainda uma raríssima novidade no Brasil,mas a Sharp nos forneceu este modelo que está em teste nos EstadosUnidos. É um gravador chamado de K-7. Logo, logo ele se popularizará.Só que os marginais já dispõem desta tecnologia.E de outras muito mais sofisticadas.Corte Real, por favor!

Bem,este aparelho de televisão pode parecer igual aos outros que vocêsjá viram. Só que este modelo da Yashika, usa umas pecinhasmuito pequenas chamadas de transistores e que substituem as válvulas.Este outro aqui é um aparelho quase inédito em nosso país. É umvídeo-cassete, aparelho que reproduz imagens gravadas por estascâmaras chamadas digitais. Toda esta parafernália é aindaproduto de laboratório. Conseguimos com os cientistas japonesese que nos alertaram terem notícias de que algumas empresas já aspossuem. E para vocês terem uma idéia, observem aqui natela.

Ligoua TV que imediatamente acendeu o tubo de imagem; introduziu o que chamoude fita VHS no tal vídeo-cassete, ligou-o e... Surpresa! Eles estavamna tela da televisão, mais precisamente Mércia e Tereza Cristina,focadas de todos os ângulos e de todas as maneiras. Na praça,na entrada de suas casas e, principalmente e mais demoradamente, na piscina,sendo seus corpos destacados de todas as formas e suas nádegas, seios,cochas e pés filmados em close.

Pasma,Mércia estava com as duas mãos como a esconder suas faces rubras.Tereza Cristina chorava, soluçando descompassadamente. Todos olhavamincrédulos para a tela. Como tudo aquilo acontecera sem eles notaremnada? Eles não haviam visto nenhum homem perto deles em atitude suspeitaou portando qualquer coisa. Como eles conseguiram aquelas imagens? E de tãoperto?

Preparem-separa o pior – alertou-os o Coronel Adalberto.

Pior? – gritaramjuntos Walter e Jonas

Coronel – perguntousoluçando Tereza – pode haver algo pior do que isso? Descobrir-sedescaracterizada, ofendida, sem nenhuma privacidade? Vocês nãopodiam ter nos filmado assim, mal intencionados, como se estivessem expondouma mercadoria para venda.

Te,não fomos nós quem as filmou. – a notíciacaiu como uma bomba.

MeuDeus! – gritou desesperada a garota.

Mérciaestava estática, gelada, como se nada visse e nada ouvisse. Seu mutismoera sinônimo de desespero. Alguém a espiara, fotografara demaneira pornográfica, aviltante, agressiva. E o pior: sem seu consentimento.

CapitãoRogério Cardoso começou a contar a real história dafita:

Estávamosparticipando, dando cobertura a uma inspeção na Alfândegado Rio atendendo solicitação da Receita Federal. Entreos vários produtos exportados havia uma caixa contendo livrose segundo a Nota de Exportação, referentes a autores daLiteratura Brasileira. Um de nossos soldados, louco por Literatura – eapontou para o Coronel Adalberto – abriu a caixa no intuito desaber quais os títulos e autores exportados. Ao pegar um grossoexemplar de "Os Sertões", de Euclides da Cunha, ele percebeu queo mesmo era desproporcionalmente leve para seu tamanho, não sedobrava facilmente e era o único envolvido em um papel celofanetransparente. Curiosidade de militar lhe permite certas coisas proibidaspara outros. Tirou o papel e ao abrir o livro encontrou esta fita quevocês acabaram de assistir a um trecho.

E é porisso que lhes disse anteriormente, lembram-se? Que talvez eu nãoconseguisse explicar certas coisas. Como já falei: às vezeseu mesmo fico sem saber o que na realidade o Homem lá de cimapretendia quando me aprontou tudo o que passei. Se não estivessena Alfândega naquele dia; se não gostasse de LiteraturaBrasileira e, primordialmente, se eu não conhecesse bem TerezaCristina e Mércia. A caixa estava destinada para Tókio.O endereço do remetente? Aquidauana, MT! Evidentemente falso !Do destinatário? Abandonado às pressas.

Adalberto,mas, e agora? – falava mansamente Mércia – O que faremos?Vocês vão nos dar proteção? Como deveremosagir? E nossos pais? Eles tinham que estar nesta reunião. Elestêm que saber o que está acontecendo conosco.

Calma,Mércia! Eles ficarão sabendo no devido tempo e por pessoasque saberão dar-lhes a notícia e os orientarão namaneira de se comportarem. Queremos que vocês continuem suas vidasnormalmente. Sei que será difícil. Precisam ser bons atores.O medo do Rogério era justamente este: o pânico. Mas euacredito que vocês saberão controla-lo.

Mas,e se formos atacadas?

Vocêsestão sendo vigiados, todos vocês, 24 horas por dia e poruma equipe geralmente composta por sete ou oito homens. Vocês nãoos percebe, como não viram o Renato ao lado de vocês, maseles não desgrudam os olhos um minuto sequer. Minto, só quandovão ao banheiro!

Osarcasmo da última afirmação serviu para amainar umpouco o ambiente. Houve até alguns ligeiros sorrisos.

Vocêsagora irão para suas casas, não comentem nada com ninguém,nem conversem entre si sobre este assunto e deixem o resto por nossaconta. Vocês receberão notícias e instruçõesnossas, todos os dias.

Adalberto – perguntouMércia – vocês já tem alguma idéia dodesgraçado que está fazendo isto conosco?

Sim!O mesmo que matou o Tomáz e que por sinal morreu por causa devocês. Ele falhou na tentativa de alicia-los.

MeuDeus! Tudo isto é sórdido! – expressou-se Mérciamostrando uma cara de nojo,

Querida! – falouo Coronel Adalberto – E do terço todo, você aindanão sabe ao menos uma Ave-Maria completa.

Márcio!Parece-me que você não chamou a turma toda?

Coronel,eu não encontrei a Margarida. Fui à residência delae não a encontrei. Ela é mesmo meio isolada da turma só aparecendona praça de vez em quando.

Tudobem! – respondeu o militar

Márcionão percebeu o olhar de desconfiança que ficou no ar.

TREZE

Haviamdormido em um Hotel de alta classe, luxuosíssimo, o Continental PalaceHotel. Os apartamentos, antecipadamente reservados, separaram naturalmenteos grupos. No 10º andar ficaram os brasileiros; no 11º, os japoneses.Era o que havia de melhor em Campo Grande, Mt.

Logoque amanheceu tomaram o farto café da manhã servido pelo hotel.Pegaram alguns táxis e, no aeroporto, embarcaram no mesmo aviãoque os trouxera até ali.

Durantea viagem, conforme prometera, Dr. Wladimie explicou quais eram os programasespeciais que faziam com as japonesas.

Scatofilia,senhor Ideo. Principalmente Scatofilia. As brasileiras não conseguempraticá-la. O mais que se consegue com elas é vê-lasdefecando ou urinando. As japonesas fazem isto e ainda comem as própriasfezes e bebem a própria urina. Obrigando-as, com uma pequena dosede violência, elas fazem isto com o produto dos clientes.

Dr.Wladimir, em nosso País, isto também não é comum.Elas dramatizam estes procedimentos. As "fezes" são feitas comchocolate. A "urina" que bebem nada mais é do que cerveja ou guaraná.O odor é provocado por produtos químicos usados em imperceptíveiscordões jogados nos cantos da sala. Teatro, Dr., simplesmenteteatro.

Pois é,Senhor Ideo, aqui é na verdade, no real, com o freguês bempróximo delas. Daí o sucesso de nossos empreendimentose o preço exorbitante que lhes pagamos pelas moças. Elastambém agüentam bem mais as sessões de tortura. Pode-seser bastante realista com elas. As brasileiras são mais moles,mais fracas, não sei se pela precariedade de sua formaçãoe alimentação ou se pela própria natureza do serhumano. Enfim, é um bom e lucrativo negócio.

Depoisde aproximadamente três horas de viagem, aterrissaram em uma pistanão pavimentada, no meio de uma densa mata virgem. Três peruas "Willys" osaguardavam a certa distância. Sem ninguém pronunciar uma só palavra,adentram nos veículos e estes se movimentaram por uma estreita trilhaque parecia ter sido traçada na largura exata dos veículos.

Ascabanas eram feitas de madeira em uma clareira onde nada mais existia doque elas. Em um sobrevôo dificilmente alguém as perceberia,pois o telhado era feito com pedaços de tábuas velhas o queconfundiria uma visão do alto. Eram umas três pequenas construções,uma delas sem nenhuma janela. E nesta estava a mercadoria.

Quatromoças: três loiras e uma morena. Todas visivelmente adolescentes,desconfiadas, amedrontadas e cansadas. Ao avistarem os visitantes que adentravamna pequena sala, um dos dois cômodos que compunham a casa, uma delas,criando coragem, dirigiu-se até um dos homens que acompanhavam o Dr.Wladimir e perguntou:

Ué,cara! Cadê o serviço de luxo que você nos havia prometido? É aquineste mato desgraçado que vamos trabalhar? Cadê as patroasricas? Queremos uma...

Levouum tremendo tapa bem de cheio em sua face esquerda que a fez rodopiar e cairde quatro no chão. Nem teve tempo de raciocinar e sentiu um chuteem suas nádegas que a fez deitar-se abruptamente no chão. Tonta,ainda recebeu um chute nas costelas que quase se partiu com o bico do sapato.Ao virar-se, acabou desmaiando com o pesado pé que lhe atingiu a bocado estômago. Nada mais viu e nem ouviu o Dr. Wladimir que dizia:

Estesaqui são os seus novos donos. Ouviram bem: donos e nãopatrões. Esta aqui – e apontou para a desfalecida – só nãomorre porque está no lote e vale uma boa quantia em dinheiro.Aliás, como todas vocês. Alguém quer perguntar maisalguma coisa?

Todas,horrorizadas com o que haviam presenciado, calaram-se, abraçando-seumas às outras. Entendiam que haviam entrado em uma enorme encrencae que não tinha volta. Se reclamassem morreriam, apesar de ponderaremqual seria melhor prosseguir ou morrer. Optaram pela primeira, pois prosseguindoteriam alguma chance de escapar e delatar aquele horripilante negócio.

Você! – Wladimirapontava para uma das loiras - Como se chama?

Nadiara! – respondeutimidamente

Moravaonde?

EmGoiânia!

Quantosanos você tem?

Dezessete!

Tirea sua blusa!

Mas...

Foibruscamente interrompida. Um violento soco desferido por um grandalhãoem suas costas, a projetou para o chão. A dor era lancinante e o fôlegocurto.

Levante-see tire esta porra de blusa, sua merda – gritou Dr. Wladimir.

Agarota levantou-se vagarosamente, com dificuldades para respirar, tentandosuportar a dor. Desabotoou aa primeira casa. E ia fazer o mesmo com a segundaquando recebeu a ordem para ir bem devagar. E assim continuou até retirara blusa e ficar apenas de sutiã e saia. Seguindo as ordens emanadasdo Chefão brasileiro, descalçou o sapato do pé direitoe depois o do esquerdo. Retirou a saia, ficando de sutiã e calcinha.O seu corpo de adolescente era bem escultural para a sua idade. A pele erabronzeada naturalmente pelo sol goiano. Retirou o sutiã e seus seioscheios e duros ficaram empinados com as pequenas tetas apontando para frente.O êxtase dos espectadores aconteceu quando ela baixou a calcinha eas suas nádegas bem moldadas, carnudas ficaram à mostra.

Sr.Fuzio, um gordinho suado e atarantado, levantou-se esbaforido, pulou paraa garota, empurrou-a até a parede, ajoelhou-se e passou a mordiscaras nádegas e a lamber o ânus da garota que tentava desesperadamentedesvencilhar-se. A moça recebeu ordens peremptórias para ficarcalada e quieta. Os japoneses riam da sofreguidão do colega.

Este,descendo as calças, levantou-se, pegou a moça pelos cabelos,fê-la prostrar-se de joelhos e praticar sexo oral. Ela relutou, masuma chicotada nas nádegas a obrigou as se sujeitar ao martírio.O homem era sádico. Houve momentos que enfiou todo o seu sexo pelaboca da miserável que engasgava, tinha ânsias de vômitoe recebia dolorida chicotada a cada sinal de repulsa. Isso durou até que,após longos minutos, ele teve um orgasmo e jorrou seu líquido,garganta abaixo da desgraçada. Os espectadores aplaudiram a atuaçãodo maníaco.

Coma boca toda lambuzada até queixo pelo esperma que não conseguiraengolir, viu-se obrigada a atender um por um dos visitantes, que, seguindoo exemplo do primeiro, sentiram-se no direito de seres saciados pela vítima.Permaneceram sentados em suas poltronas e ela percorreu todas elas, satisfazendoa cada um até que gozassem em sua boca.

Asoutras três moças que a tudo assistiram e ficaram aterradascom o seu destino, foram distribuídas entre os japoneses. Cada umaatenderia um apartamento e ficaria a disposição dos trêsou quatro japoneses que ali se agrupariam. E ai delas se alguma desse "chilique".Todas pagariam pelo erro de uma.

Asquatro foram retiradas da sala pelos capangas de Wladimir que ficara paraacabar de acertar o negócio fechado. Os japoneses aceitaram satisfeitosas "mercadorias" e pagaram em dólares americanos.

Assim é que é bom.Cada negócio é um negócio. Eu compro de vocêse vocês compram de mim. Pagamentos separados. É mais garantidoe evita algum engano na contabilidade. Senhores! Foi um prazer negociarcom os senhores. Amanhã cedo, às 8 horas, haverá umoutro avião lhes esperando no Aeroporto e os levará diretamentepara o Paraguai e de lá, em avião fretado, para o Japão.Desejo-lhes uma excelente viagem e um breve retorno.

Ogrupo se desfez.

QUATORZE

Foramdias de tensão extrema. Insônia, aulas difíceis, alienaçãototal aos conteúdos ensinados, alimentação desagradável,forçada. Os pais preocupados com as mudanças verificadas emseus filhos, antes extrovertidos, agora arredios, calados, caseiros. Questionavamobtendo respostas evasivas. Observavam um interesse exagerado de seus filhospelos noticiários policiais. Os colegas haviam desaparecido.

Naqueledomingo, Mércia estava mais do que entediada. Levantara às8hs, demorara na assepsia matinal, vestiu sua bermuda branca combinando–acom a blusa vermelha. Sentara na sala, procurou a mesa do café damanhã, nada comeu. Voltou para a sala, sentiu-se sufocada, foi parao quarto, nada a fazer e nem em que pensar. Resmungou: "Fico louca!". Voltoupara a cozinha, observou sua mãe picando uma couve, achou o cheiroenjoativo. Percebeu que o pai saíra, pois as chaves do carro nãoestavam no lugar. O quarto do Márcio estava vazio e, como sempre,desarrumado. Sem coragem para arrumá-lo, foi para o seu quarto. Vestiuuma calça jeans índigo blue clara, e, por uma destas ironiasdo destino, pôs sem perceber uma camiseta com mangas curtas e escritona altura do tórax: "Sou feliz". Calçou meias soquetes e tênisbranco da Clark. Amarrou seu cabelo no estilo chamado "Rabo de Cavalo", arrumoua franja e saiu.

Subiuem direção à Praça do Araçatuba Clube.Andava cabisbaixa, de vez em quando dando algumas distraídas olhadaspara os lados. Ao chegar na esquina com a Rua Carlos Gomes, levou um susto.Um Simca Tufão, cor preta, estacionou bem à sua frente, impedindo-ade atravessar a rua. Seu coração disparou e ela ficou paralisada,numa inércia de horror.

Aporta do motorista abriu e de dentro do veículo apareceu o CoronelAdalberto olhando-a com muita atenção e preocupaçãocomeçando a rodear o veículo. Mércia, reconhecendo-o,começou a soluçar alto. O militar apressou o passo e a envolveuem um abraço. Mércia apoiada em seu peito chorava copiosamente.

Calmagarota! Calma - sussurrava Adalberto, alisando os cabelos da loira. – Tudobem! Calma!

Ficaramassim por um bom tempo. Mércia foi se acalmando, diminuiu o choro.Agora apenas soluçava. Afastou sua cabeça do peito de Adalbertoe o fitou com os olhos banhados em lágrimas.

Tudobem? Está mais calma? Você me ouve e me entende? Quer saircomigo um pouco? Vamos dar umas voltas pela cidade? O vidro deste carronão permitirá ninguém ver você lá dentro.Vamos?

Mércianão respondeu. Voltou a encostar a cabeça contra o peito dorapaz. Ainda soluçava. Passado mais um pouco ela apenas disse: "Vamos!",numa voz sumida que veio junto a um outro suspiro.

Entraramno Simca e partiram, subindo a Rua Carlos Gomes até chegarem à PraçaGetúlio Vargas, contornando-a, adentrando e percorrendo a Rua Cussyde Almeida. Na Av. Pereira Barreto dobraram à esquerda e a seguiramenveredando pela Av. Brasília, rumo ao Jardim Nova Iorque.

Chegandona represa do Córrego Machadinho, repleta de banhistas aproveitandoa gostosa e ensolarada manhã de domingo, Adalberto estacionou o Simca.Até aquele momento o silêncio dentro do carro havia sido sepulcral.

Então,Mércia! Acalmou-se mais?

Aresposta foi um meigo e agradecido sorriso.

Desculpeter chegado abruptamente. Fui avisado muito em cima da hora de que você estavasaindo. Detalhe: sozinha.

Sim!Eu estava entediada, nervosa e quase entrando em depressão devido à solidãoque senti. Estava quase louca! Não raciocinei.

Eua entendo! E começo a achar que Rogério tinha razão.Eu não soube avisar vocês. Eu os apavorei muito.

Não,Adalberto! Não é nada disto. Nós é que nãoestamos preparados para enfrentar esta situação. Somosmuito covardes e individualistas. Meu irmão mesmo só saiagora com os rapazes. Sinto que ele está morrendo de medo de saircomigo.

Você há decovir ser muito natural este medo. Acredito que se ele a vir em perigoeste medo desaparecerá. Mas, por enquanto...

Masnós fizemos um treinamento nas aulas de EducaçãoFísica que deveria nos habilitar a não ter medo de nadaou de ninguém.

Quetreinamento? – perguntou o militar muito curioso.

Tiroao alvo,

É!Realmente é um bom esporte. Mas não os habilita a enfrentaremmarginais do quilate deste que estão em nossa mira. Peçoa você que procure sair sempre acompanhada, ok?

Tabom! Da próxima vez serei mais ajuizada. – e deu o seu primeirosorriso desde que o encontrara.

Porfalar em sair, vamos dar uma volta pela represa? Gosto de ver estes meninos,moços, homens do povo misturados, despreocupados e com critériossociais próprios. Eu me sinto bem distante e saudoso deste mundo. – esaíram caminhando pelas margens da represa.

Porque saudades?

Estesempre foi o meu mundo. E eu não o freqüento devido o públicoque atendo. Somente a elite burguesa é que tem problemas que requeremos nossos serviços. Esta gente, de um modo geral é boa.Um ou outro pinta, mas é imediatamente subjugado pela polícialocal.

Evocê não acha que estamos nos expondo demais? Você,eu!

Quemsou eu, Mércia? Quem me conhece aqui, a não ser você.

Eos cinegrafistas?

Estesnão sabem quem somos, Mércia! Praticamente ninguémnos conhece como policiais. Você até diria que poderiamter posto um microfone escondido em você, no carro, etc. Os detectoresde metal esparramados em nós e em você já teriamdenunciado a presença dos mesmos. Pode ficar tranqüila. Podemospassear sem nenhuma preocupação.

Detectores?Em mim? – espantou-se ela.

Sim!Aliás, você tem um belo relógio!

Mas,como conseguiram instalá-lo?

Coisasde um tal de Corte Real. Papai e mamãe devem ter participaçãonisto.

MeuDeus! Como sou ingênua!

Veja!Aquela família! Piquenique na represa do Machadinho! E estãomuito felizes! Gosto disto! Para mim é muito nostálgico.

Bommomento para lhe perguntar: por que a Tereza Cristina e o Jonas o conhecemtão bem? Quem é ou era você na realidade?

Mércia,eu sou nascido e criado em Araçatuba. Era assíduo freqüentadordo Araçatuba Clube. Participava da piscina, dos bailes de carnaval,enfim, era o meu ponto de divertimento. Além disto eu sempre assistimuitos filmes no Cine São Francisco. Estudei no ColégioSalesiano e no então chamado Ginásio do Estado, depoisInstituto de Educação Manoel Bento da Cruz. Jonas foi meucolega na 7ª série Ginasial. Éramos carne e unha.Ele não saia de minha casa. Minha mãe o adorava.

OColégio Salesiano é hoje a nossa Universidade Salesiana?

Sim!Depois passei a trabalhar no Banco da Lavoura de Minas Gerais S/A, oBanlavoura, no Setor Oeste, no prédio onde está até hoje.O Sr. Lygio foi quem me arrumou este emprego, graças à grandeamizade que tinha com minha mãe. Nós morávamos frentea frente. Logicamente, Tereza Cristina entrou em minha vida de formaabrupta e preenchendo a falta de irmãos que nunca tive.

Elasimplesmente te adora!

Euou ela não precisava dizer nada, um ao outro. Bastava pensar eolhar um nos olhos do outro e a coisa estava compreendida. Sabe! Eu erafeliz, muito feliz e não sabia.

Eo que aconteceu de tão ruim assim para você ficar com estaexpressão tão triste,

Minhamãe morreu! Eu fiquei sozinho no mundo.

Eseu pai?

Moravaem outro estado com outra mulher e tratando de uma outra filha. Logoele morreria também, vítima de um acidente vascular. Eleera muito gordo. Eu não cheguei a vê-lo morto. Enquantodesfrutei de sua companhia ele não foi um grande pai. Foi um enormepai, destes mais amigo do que um pai propriamente. Era um cara maravilhoso.Mas o porvir não me seria menos desagradável. Eu estavanaquele Convair que caiu sobre São Paulo destruindo váriascasas, matando inúmeras pessoas nas residências e nãosobrando um só passageiro ou tripulante. Assim noticiaram os jornais.Eu escapara. E como, só você perguntando para Deus. Somenteele poderá lhe responder. Salvei-me todinho arrebentado, queimado,mas sobrevivi. E não precisei de nenhuma reconstituiçãoplástica ou de metal. Como? Novamente, recomendo: pergunte parao Homem lá de cima.

Edepois?

Mércia.Vamos mudar de lugar. Já nos demoramos demais por aqui. Continuemosnosso papo em outro local, tudo bem?

ClaroAdalberto! Claro!

Narealidade ele não queria é que ela visse os olhos marejadospelas lágrimas. Afinal, ele era homem!

QUINZE

Estevexame em Tókio vai custar muito, mas muito caro mesmo, para odesgraçado que o causou.

Doutor,nós não sabíamos de nada! O pessoal não haviareclamado de nada.

Querosaber o porquê de ninguém me avisar sobre a caixa trocadana Alfândega?

Doutor!Ninguém sabia de que havia acontecido a tal troca.

Equem estava vigiando a caixa?

Erao pessoal do Rio de Janeiro! Tínhamos quatro homens nas imediaçõesdo depósito.

Quatrohomens? Quatro homens? E a caixa que chegou em Tókio continhaos livros e uma fita com desenhos do Pato Donald. Sumiu a fita original,a droga, tudo, tudo. E esta lepra de avião não anda maisrápido, não?

CalmaDr. Wladimir! São três horas e meia de vôo.

Calmauma merda, seu idiota. Estamos sendo motivo de chacotas por parte dosjaponeses e de ameaças pelo não cumprimento de nossos compromissos.E ainda você vem me dizer em calma? Eu fui gozado e ameaçado.Falaram de morte, assim, na minha cara. Estabeleceram tempo para concertara cagada. Riram, gargalharam na minha fuça contando aquela merdade desenho animado. Isto foi armado por alguém de dentro da minhaorganização.

Doutor!Então alguém está sabendo do nosso esquema. Precisamostomar sérias providências para sabermos quem sãoestas pessoas, como souberam do embarque e o que pretendem. Inclusive,se entre nós não há nenhum alcagüete.

Epor que a gracinha acha que eu estou desesperado para chegar no Rio?Acredite! Não vai ser para fazer bilú-bilú tetéiapara aqueles desgraçados incompetentes. Não saio daquelamaldita casa sem saber os nomes dos traidores, se houver ou dos que fizerama troca. Estes merdas do Rio têm por obrigação já teremdescoberto quem foram os engraçadinhos irresponsáveis quenos jogaram nesta enrascada.

Todosos que estavam na Alfândega são responsáveis. Acalme-seDoutor. Tome um drinque, relaxe um pouco.

Relaxarde que jeito, palhaço?

Vamos!Beba este uísque que o senhor se acalmará. Procure dormirum pouco. Na aproximação do aeroporto eu o chamarei..

Oapopléctico Chefe sorveu a bebida em um só gole. Recostou-sena poltrona e caiu em um mutismo que só serviu para apavorar os demaispassageiros da aeronave, todos pertencentes à sua comitiva. Pediuum outro drinque. Sorveu-o pela mesma forma. Após o quarto ou quintocopo, deixou transparecer que adormecera. Todos se sentaram e procuraramraciocinar sobre o que teria acontecido naquela malfadada Casa da Alfândega.

Oirado Dr. Wladimir, na realidade, nada dormiu. Manteve os olhos fechadosno afã de ouvir algum comentário mais comprometedor de um deseus asseclas, ou uma possível indicação do responsável,ou responsáveis, pelo ultraje sofrido. O pior foi ter sido chamadode "gangsterzinho brasileiro".

Ligeiroscochilos; sobressaltos; ira aumentando. Assim transcorreu a viagem para oDr. Wladimir. Num desses cochilos foi acordado por Amadeu dizendo-lhe:

Doutor!A luz avisando que começamos o processo de aterrissagem.

Aaeronave taxiou e, mal a escada foi encostada e a porta aberta, o homem eseus asseclas saíram apressadamente entrando em um Chevrolet Chevymuito conservado e equipado. Tão ansioso estava o marginal que nemapreciou as maravilhas do Rio que se descortinavam pelo trajeto. E olhe queatravessaram toda a cidade. Chegaram em uma chácara localizada nosarredores do Gastão Vidigal, toda murada, cerca eletrificada, e homensfortíssimos fazendo-lhe a guarda. Ninguém entraria ou sairiadali sem permissão dos proprietários.

Desceramdo carro e adentraram na mansão-sobrado, estilo medieval, com um armuito sinistro, mais propícia para filmes de terror. Já nosalão térreo - o principal da casa - os esperavam os anfitriões,Eduardo e Marly, bem como, vários capangas, muito bem armados. Todosformavam um semicírculo e no meio, quatro homens, todos vestidos depreto.

Muitobom dia, Dr. Wladimir! – veio o casal, sorridente, amávele de mão estendida para o cumprimento.

Dr.Wladimir estendeu-lhes também a mão direita só que estaportava uma Beretta 357 que disparou duas vezes, acertando a testa, primeirodo homem e depois da mulher, caindo ambos fulminados. As metralhadoras dosviajantes impediram qualquer ação dos que estavam na casa.Um mais afoito foi sumariamente executado com duas rajadas, cada uma de umaUzi diferente.

Alguémmais quer perguntar alguma coisa? – falou o assassino. – Creioque foram vocês quatro os que guardavam a mercadoria na Casa daAlfândega?

Sim,senhor! Éramos nós! – respondeu o mais baixinho deles.E nunca mais falou com ninguém. Recebera uma bala explosiva bemnomeio da testa, atirada por Amadeu e que literalmente estourou a cabeçado homem, fazendo-a em pequenos pedaços.

Omais magro teve destino igual. Apavorado quis se evadir. Foi seguro pelosdemais, arrastado até perto de Amadeu que lhe encostou a arma na testae disparou. Os dois restantes já estavam com os braços presose muitos bem seguros pelos asseclas do Dr. Wladimir.

-Ponha este aqui ali na mesa. Amarrem-no muito bem. Minha conversa nãoserá nada agradável para este filho de uma puta.

Ohomem foi preso à mesa por fortes cordas e grossas correntes, deitadocom a barriga para cima. O sádico chefe se aproximou, desafivelouo cinto das calças, desabotoou a braguilha, desceu a cueca vermelha,calçou um par de luvas plásticas vermelhas, olhou para o aterrorizadomiserável e iniciou o interrogatório.

Amigo,quem foi que mexeu nas minhas encomenda lá na Casa da Alfândega?

Senhor!Piedade! Não vimos ninguém mexendo nas mercadorias!

Ocarrasco pegou o pênis do homem com a mão esquerda e com a direitacomeçou a enfiar pelo canal da uretra um grosso fio de arame farpado.A vítima urrou tão alto que um dos bandidos tampou sua bocacom uma meia suja que acabara de tirar do próprio pé. O aramefoi lentamente retirado do pênis.

Repetidaa pergunta. Balanço tresloucado de negação com a cabeça.Novamente o arame farpado introduzido. Desta vez, bem mais profundo. O sanguejorrava do membro sexual. Movimentos retorciam o arame dentro do órgãodo desgraçado. Este desmaiou!

Voltaram-separa o outro. Este já estava preso com o corpo nu na parede da sala.Seus braços e suas pernas formavam um "X". Quando argüido pelocarrasco também respondeu que somente os homens da Alfândegativeram acesso ao recinto. Um grosso dildo, enrolado em arame farpado foiviolentamente introduzido e retorcido pelo ânus do pobre coitado queurrou, movimentou-se desesperadamente, desmaiando após alguns minutosda horrível tortura.

Chefe!E se o problema estiver nos tais homens da Alfândega? E se forameles quem nos roubou? – argumentou Amadeu, enojado daquelas barbáriescometidas por Wladimir.

Ecomo sabiam da droga e da fita? E a fita de desenhos animados? Por queeles a mandariam?

Achoque este será o nosso objetivo. Como eles sabiam de tudo! Policiais?Alcagüete? Investigação? Ou sorte?

É!Você pode ter razão. Pessoal, matem estes dois. Procuremum forno de alta temperatura e queimem os corpos. – ouviram-sedois tiros – Levy! Você fica para reorganizar esta porraaqui. O resto vai comigo para Araçatuba.

DEZESSEIS

Você aceitariaalmoçar comigo? Poderíamos ir na Cantina do Mexe-Mexe.Adoro alguns pratos especiais que ele prepara.

Ninguémsabe onde estou! Saí sem falar com ninguém.

Umtelefone resolveria o problema? Ou você precisa ir pessoalmentelá?

Você seincomodaria de darmos uma passada por lá? Assim, aproveitariae daria uma retocada na cara. Deve estar linda após a choradeira.

Possolhe pedir um favor?

Claro!

Entre,fale com seus pais e não faça mais nada. Você nãoimagina o quanto você está linda com este aspecto simplese natural.

Mas...Vão rir de mim por aí!

Você vaialmoçar é comigo e lhe prometo que não verásum só dente meu.

Engraçadinho!

Aochegarem na porta da casa de Mércia, seus pais estavam no portão,olhando para todos os lados. Demonstravam claramente seu nervosismo. Soltaramgritos de alívio quando viram a filha chegar no carro.

Mércia!Onde você estava, menina? Quase nos matou de aflição!Disseram que entrara em um carro escuro que ninguém conhecia.

Milperdões, meu pai! Foi exatamente o que aconteceu.

Bomdia Sr. Antonio! Bom dia D.Maria!

Beto?Então era você o dono do tal carro negro?

Simsenhor! O carro é da firma.

Vocêsse conhecem? – espantou-se Mércia.

Claro,minha filha! Adalberto e eu já fizemos, estamos fazendo e iremosfazer, se Deus quiser, inúmeros negócios. Como vai seutio Elói?

Tudobem! Na firma está indo tudo muito bem. Os planos de mudançade frota foram confirmados pela Diretoria Administrativa. Eles o deverãoprocurar ainda esta semana.

Graçasa Deus! Que ótima notícia! E você? Almoçariaconosco?

SeuAntonio! Causaria algum problema para vocês se a Mérciafosse almoçar comigo lá no Mexe? Ela está comcewçandoa se estressar com a situação que lhe contei.

Você nãodispensa aquele "Bife a Parmeggiana", né Seu Adalberto! Só ficosentido por também não ser convidado.

Porisso não!

Brincadeira,rapaz! De minha parte nada contra. Maria?

Pormim também não. Só assim ela sai deste jururu quese encontra.

Mércia,que assistira a todo o diálogo, ficou pasma diante da familiaridadeentre seu pai e o Coronel. Impressionava-a cada vez mais os mistériosque envolviam aquele rapaz. E atendendo ao pedido do anfitrião, nementrou na casa. Voltaram para o carro e partiram após entusiásticasdespedidas entre os dois, aparentemente, antigos amigos.

Agarota fez todo o trajeto sem proferir uma só palavra. Estava muitodistante. Como seu pai conhecia aquele moço? Afinal, que firma eraesta a que se referira seu pai? E o que Adalberto era desta firma? Ia tãodistraída que nem percebia os olhares do rapaz em sua direçãoe ligeiros sorrisos. Estacionaram o veículo na Rua Oswaldo Cruz, atravessaram-nae adentraram no corredor que os levava ao salão principal da Cantina.

Escolheramuma mesa mais afastada e sentaram, um de frente para o outro. Mérciapercorreu o ambiente quase vazio. O garçom aproximou-se com o cardápio.

ObrigadoManoel! Um Bife a Parmeggiana, um vinho tinto e duas taças.

Simsenhor! – e se afastou com ligeira reverência.

Ooi!Estou aqui! Tudo bem?

Desculpe-me,Adalberto! Quer dizer, Coronel Adalberto! É que minha cabeçaestá a mil por hora.

Primeiro:se tornar a me chamar de Coronel passo a chamar-lhe de senhorita. Segundo:por que a mil se há bem pouco tempo você estava leve, solta,permitindo contar-lhe as minhas besteiras?

Você é asurpresa personificada. Como você e meu pai têm tanta intimidade,se conhecem tanto.

É porcausa da firma de...

Quefirma é esta? O que você é nesta firma?

Eutrabalhei um tempo na Fazenda Araçatuba. Você já ouviufalar nela?

Claro!A maior gleba de terras produtivas desta região. Parece-me quefica em Mirandópolis, não?

Sim!Mas deixemos isto para lá. Senão nosso almoço transformar-se-á emuma reunião de negócios.

Tabo.! Recomecemos do ponto em que paramos. Você contava sobre oacidente. Bom! E depois?

Temcerteza de quer mesmo saber? É uma história bem enfadonha.

Mesmoassim eu quero saber. Sinceramente! Eu agora quero saber tudo a seu respeito.Creio que tem muita coisa escondida nesta sua cabeça.

Ta!Fiquei muito tempo hospitalizado. Encaminharam-me para os Estados Unidos.Meu caso era ímpar, pois meu corpo havia se arrebentado todo,mas minha mente mantinha-se lúcida, a visão perfeita, corrigindoinclusive uma miopia crônica. Estudaram que estudaram e nãoencontraram uma explicação lógica, científicapara meu caso. Lá eu permaneci uns dois anos. Durante este tempo,nadando em um rio próximo a New Jersey, achei uma enorme pepitade ouro. Estava tão a vista que ninguém a percebera antes.

Meubom pai! – exclamou Mércia

Efoi aí que o turbilhão começou. Com ela compreiuns poucos hectares de terra no Missouri. Pretendia mesmo ficar por lá.Mércia! Eu gostaria, se você me permitisse, pular um pedaço.

Sevocê pular um só item e depois eu descobrir, eu me sentireimuito ofendida. Você não cansou de me dizer que eu precisodesabafar, soltar meus bichos para fora? Acho que você está precisandodisto tanto quanto eu. Vamos! Sou toda ouvidos!

Sevocê rir, eu me levanto. Volto a clamar pelo testemunho do Homemlá de cima. Bom...

Beto!O que de tão grave lhe aconteceu? – Mércia nem reparoucom o havia chamado.

Achamospetróleo nas tais terras!

MãeSantíssima!

Engenheiroscalcularam um poço muito grande com um manancial enorme. Deixeiamigos tomando conta destas terras e vim para o Brasil realizar o meugrande sonho. Adquirir as Fazendas em que meu pai trabalhara e eu haviapassado minha infância.

Entãovocê não trabalhou na Fazenda Araçatuba? Você é odono da Fazenda Araçatuba!

FazendaAraçatuba, Unidas Transportes Interestaduais, Linhas AéreasTranscontinental, e outras subsidiárias.

Oque é que tem estas mega-empresas todas?

Sãodo COTEBRE!

Eo que vem a ser este tal de COTEBRE?

ConsórcioTeles Bretas de Empresas reunidas.

Oque? – gritou Mércia

Shiiii!

Como?Você é dono disto tudo? Você é um biliardário?Um Tio Patinhas brasileiro?

Não é bemassim!

Epor que o militar? Como você consegue administrá-las sendomilitar e ainda por cima Comandante Geral das Forças Armadas?

Outraspessoas as administram. São pessoas certas nos lugares certos.São elas que realmente tocam os negócios. Eu só seidos resultados.

Ta!E o militar? Para que ser militar e ainda mais inventando moda como você ofez com a FAB?

Outrosonho meu. Sempre quis ser um piloto. E como na minha famíliao herói sempre foi um tio militar que já faleceu, ingresseina FAB, como Oficial, e deslanchei na carreira.

É simplesmenteinacreditável a sua história. O Jonas e a Tereza Cristinaa conhecem?

Não!E nem quero que a conheçam, pelo menos por agora. Peço-lhesua colaboração e o seu silêncio. Aliás, mudemosde assunto?

É difícilmudar de assunto. As perguntas são infinitas, a curiosidade imensa,mas respeito seu pedido. Pode ser só mais uma perguntinha?

Claro!

Epor que eu? Por que você a contou para mim?

Eunão a contei para você. Foi para uma noivinha que se meapresentou com nove anos de idade e que me acompanha até hoje.Bonita, meiga, carinhosa, afetuosa, sábia, perspicaz, competente,amiga, amante, etc., etc.

Umsonho! Uma idealização! Você ama uma projeçãoinfantil!

Mércia,você precisa entender que eu moldei a mulher de minha vida à suaimagem e não à sua semelhança. Eu sempre tive umagana em conhecê-la. Eu queria saber quem era você, como você realmenteera, pensava e agia. Em meus delírios pelas diversas camas dehospitais eu a amei, eu a abracei com tanta ternura, eu a beijei comtanta sofreguidão que meu espírito sentia-se realizado,completo, feliz. Eu sempre fui um solitário feliz. Isto porquevocê sempre esteve ao meu lado, sempre me acompanhou em minhasheróicas lutas contra o mal, e sempre me apoiava em meus deslizes.Eu sempre me prometi contar para a Mércia real o que eu faziacom a Mércia Ideal.

MeuDeus!

Desculpe-me!Desculpe-me! Eu não sou louco! Eu não sou anormal! Apenasamei demais uma mulher que era você sem ser você. Imagineo que me passou pela cabeça, como ficou o meu coraçãoe meu espírito quando encontrei aquela fita. Não era você quemestava na fita, Mércia. Era a minha Mércia. Era a Mérciaque eu amava e que me amava também. Para mim, você usurpavao corpo dela. Quase pirei! Se não é que pirei de vez enão estou sabendo.

Adalberto!

Tabom, sei que estraguei o almoço. Perdoe-me Mércia. Masvocê, na realidade sempre foi a minha vida e pela primeira vez,concretamente, converso com você. Achei que tinha o direito desaber como eu a vi em meus sonhos.

Elogicamente a decepção deve ter sido imensa!

Não!Pelo contrário! Estou delirando de felicidade! Você, nestemomento, na minha frente, é a real se comportando igual à idealizada.Você realmente é o que sempre imaginei qie fosse. Eu agorasei o valor da expressão "Viver um sonho!". Você simplesmentevivificou tudo o que sonhei em minha vida. E, pelo amor de Deus, nãolhe estou cobrando nada, não estou lhe pedindo que me aceite,ou que mude seu comportamento quanto a mim. Tudo isto que lhe falei é umproblema exclusivo meu! Tudo bem?

Você poderiame levar ao cinema hoje? Isto depois de irmos à tarde à piscina?

DEZESSETE

Aordem foi dada por rádio. O tom peremptório da comunicaçãonão deixava dúvidas da ira dos chefes e da necessidade de sedemonstrar precisão e resultados concretos. Tinham que descobrir eidentificar qualquer pessoa estranha que por ventura encontrassem na cidade..

Começouentão uma movimentação de carros naquele domingo queultrapassava e muito a normalidade de um dia de descanso. Belairs cruzavamuns com outros freqüentemente; DKW Vemags e Vemaguetes aceleravam pelasruas e avenidas como a caçar alguma coisa. Sempre ocupados por trêspessoas e uma delas munida de um binóculo, que usava de vez em quando.O que não se percebia era a intensa rádio-comunicaçãoentre os carros e a sede da Aliança.

Achemqualquer coisa. Tem gente diferente em nossa cidade. Identifique-as. – eraa ordem que os ocupantes dos veículos recebiam a todo o momento.Para tanto os grupos foram divididos e patrulhavam os seus bairros deorigem o que facilitava a detecção de elementos diferentesperambulando pelas ruas.

Aqui é ocarro 27. Estamos na represa do Machadinho. Encontramos algo bem interessante.A loira do programa está acompanhada por um cara que eu pelo menosnão conheço.

Têmcomo aborda-lo? Viaturas que circulam pelo Jardim Nova Iorque auxiliemo 27.

Olocal é público e está cheio de gente.

Aqui é o14! Eu o conheço. É o sobrinho do dono da Fazenda Araçatuba.Tudo indica que está dando de cima da garota.

Alguémconfirma esta identificação?

Aquio carro 12. Eu o também conheço. Sei que trabalha na FazendaAraçatuba. Só não sabia que era sobrinho do dono.

Ok,27! Continue na cola da garota e mantenha a Central sempre informada.

Aindano avião que conduzia Dr. Wladimir e seus asseclas de volta para Araçatuba:

Doutor,ninguém está vendo nada de anormal na cidade. Apenas algunscasos de peões armados, viajantes que logo se identificam.

Comoestá aquele caso do rapaz do Bairro Santana? Já prestoucontas?

Simsenhor! Ele alegou dificuldades com um rapazinho consumidor, mas quejá o havia despachado e arrecadado algumas coisas do mesmo quedeu para cobrir a dívida.

É,ele é bem atuante. Gosto do jeito dele. Como é mesmo onome do pirralho?

LuizAntonio!

Precisamosaproveitar melhor o cara. É um menor com muito mais inteligênciae vivacidade, que vários adultos que conheço.

Doutor,e o caso das universitárias?

Precisamosrefazer tudo. Quero uma outra fita urgente. Preciso envia-la para Tókioo mais breve possível. Evidentemente temos uma outra cópia,não temos Amadeu?

Infelizmentenão, Doutor!

Porque? Mas será o capeta, meu? Será que ele está sevirando contra nós? O que foi desta vez?

Naqueleacidente com a faísca elétrica em nossos depósitos- o Senhor se lembra? – todo o nosso arquivo foi desmagnetizado.As fitas, no cofre, foram atingidas em cheio pela descarga elétrica.Até o senhor alegou na época que ainda bem que já tínhamosenviado as cópias para os fregueses.

Merda!Providencie outra filmagem, façam nova montagem nos estúdios.Façam isto amanhã! Elas deverão estar na Praçado Clube. Monte logo cedo a parafernália toda e filmem estas putastodas.

Sim,senhor! Providenciarei com a maior urgência possível!

Possívele impossível, seu Amadeu! Chamem o Krykor para mim. Preciso falar-lhecom urgência. Quero que ele faça um trabalho melhor aindado que fez nas primeiras filmagens e fotos. E mantenha-me informado sobreo que está acontecendo com as batidas.

Ah!A loira da fita, a tal de Mércia, parece que está de pretendentenovo.

Novo?E só agora você me conta isto? Quem é o cara? Já oidentificaram? Vamos! Quem é o palhaço?

É umcara lá da Fazenda Araçatuba. Parece que é funcionárioou sobrinho do dono da Fazenda.

Parece?Parece? Você ainda me fala em parece?

Adúvida é apenas se ele é o sobrinho do dono ou seapenas trabalha na fazenda.

Dúvida?Vocês ainda têm dúvidas? Um cara novo encosta em nossomelhor filé e vocês ainda têm dúvidas? Saiajá da minha frente e volte daqui a dois minutos com am ficha completadeste cara, ou eu mato você pessoalmente, seu imbecil incompetente.

Sim,senhor!

Mandeabordar o cara, peça documentos, fotografe a cara dele, saibao seu tipo sangüíneo, se é macho ou se é bicha.Eu quero saber de tudo, seu idiota. Diga ao pesoal que quero receberestas informações ainda no Aeroporto, na porta do avião.

Sim,senhor!

Amadeusaiu lívido! Ele era a segunda pessoa na Organizaçãoe havia sido ameaçado e humilhado pelo Doutor na presença deoutros membros menos importantes. Ele nunca deveria ser tratado daquela forma.Afinal, ele se dedicava de corpo e alma para satisfazer todas as exigênciasdos negócios, como neste pleno domingo. Não! O Doutor nãodevia trata-lo daquela maneira. Viu-se na cabine da aeronave. Pegou o rádioe após passar o recado para o fotógrafo, irado, cumpriu asdeterminações do chefe. Através da Central de Comunicaçãoconectada diretamente com o avião, falou diretamente com os carrospatrulhas:

Carro27! Carro 27! Vôo 357 chamando!

Carro27 na escuta!

Ondese encontram a loira e o rapaz?

Nesteexato momento saindo da Cantina do Mexe, bem aqui em frente ao prédioda Organização.

Procedamas abordagens, identifiquem-se como policiais. Peçam os documentosdeles, principalmente do rapaz, tirem discretamente uma foto dele e procuremsaber realmente a sua origem. O patrão quer saber tudo sobre omesmo, nos mais mínimos detalhes. Até a cor dos olhos dele.Levem esta informação até o aeroporto. Desceremosdentro de aproximadamente _ Quanto mesmo, Comandante? – 1h e 10min.

Sim,senhor! Carro 27 entendeu e desliga!

Umcarro patrulha abordou o Simca Tufão bem na Rua Marechal Deodoro,nas proximidades da Rua Duque de Caxias, quase na porta da loja "IrmãosBérgamo", mesmo prédio onde funcionava a Rádio Difusorade Ataçatuba. A sirene soou duas vezes, o Simca imediatamente encostoufazendo-o o mesmo a patrulha. Dois soldados desceram e se aproximaram; umterceiro se postou, mão direita no coldre, procurando proteger-sena parte traseira do carro patrulha; um quarto homem fardado permaneceu nobanco de trás do veículo.

Porfavor, o senhor e a senhora poderiam descer do carro. Somos da PatrulhaMilitar e estamos fazendo uma batida em todos os carros que estãocirculando hoje pela cidade. O senhor sabe, é um serviçopreventivo da Polícia Militar com o intuito da diminuir a violência.

Parabéns,este é um excelente serviço que prestam à comunidade. – respondeuAdalberto

Porgentileza, seus documentos! – pediu um dos policiais enquanto ooutro solicitava

Osenhor não se incomoda de se apoiar no capô do carro patrulhapara que eu pudesse revistá-lo?

Absolutamente!

Entãoo senhor se chama Adalberto Teles Bretas?

Sim,senhor!

Trabalhacom que, amigo?

Soufuncionário do Departamento de Estatística da Fazenda Araçatuba.

Moralá?

Bem,morar lá, eu não moro. Tenho, por força do serviçode pernoitar na fazenda várias noites na semana. Eu moro mesmo é emSão Caetano do Sul.

Eo endereço?

AlamedaCassaqüera, 322, Vila Barcelona.

Osenhor não é parente de ninguém da Fazenda? Istoserviria como referência para futuras averiguações.

Não!Infelizmente, não! Quem me dera!

Muitoobrigado por nos atender, Sr, Adalberto! E se me permite uma indiscriçãoque deverá considerar como um elogio: linda moça a suanamorada.

Muitoobrigado soldado! E bom trabalho!

Entrouno Simca, lentamente começou a colocar seus documentos na carteira,o olhar sempre fixo no retrovisor externo do carro, até que a Patrulhase locomoveu.

Mérciapercebeu que algo de errado estava acontecendo. Por que não lhe pediramos documentos também? Apenas pensou e Adalberto lhe deu a resposta.

Sãoeles! Estão vigiando você bem de perto!

MeuDeus! E agora, Adalberto?

Continuemosagindo com a maior naturalidade. Não precisa ficar apavorada.Olhe discretamente para a terceira janela do prédio da RádioDifusora e me diga o que está vendo?

Nãoestou vendo nada! Está vazia! – quando voltou o olhar paraAdalberto este tinha um microfone na mão e pedia:

César!Apareça naturalmente na janela e ponha apenas a ponta do rifleno canto à sua direita.

QuandoMércia voltou a olhar, um homem apareceu na janela olhando para todosos lados, espreguiçou-se e saiu novamente. Ela percebeu um fino canopreto no canto da janela.

Quandonos abordaram, três atiradores de elite já se postaram nasjanelas da Rádio. Eles estavam naquele Studabaker ali encostado.

Eestes policiais Adalberto?

Elesnão são e nunca foram policiais. São elementos daquadrilha de traficantes. Uma patrulha verdadeira nunca abordaria estecarro. Todos são informados de que este veículo está emmissão investigativa. Além do mais, eu chamei de soldadoa um militar que usava a farda de um Tenente. Se fossem policiais, nomínimo, teria me alertado para este detalhe. E, mais uma coisa:nunca faria um galanteio tão medíocre como o que se referiaa você. Podemos achar a mulher do próximo linda, mas nuncao falaríamos ainda mais se o próximo estiver próximoe muito menos para o próprio próximo. Outro detalhe muitoimportante da falta de treinamento para o exercício da profissão:primeiro a chamou de Senhora e depois de namorada. Entendeu? Na realidadesomente nos dirigimos ao motorista e conversamos o menos possívelcom o mesmo, somente o estritamente necessário. – e acionouo carro dando uma gostosa risada, no que não foi acompanhado pelagarota, visivelmente nervosa.

Eusou mesmo um imbecil! – e falando sério – Mércia,pode continuar do jeito que você vinha procedendo. Eu virei buscá-ladaqui a pouco, lá pelas 15hs30min, para irmos à piscina.

Beto,eu estou com medo! – novamente o sem querer tratamento íntimo.

Claro,Mércia! Todos nós temos medo! Por isso é que nosresguardamos e tentamos nos proteger. Eles chegaram. Fizeram a abordagempor minha causa o que significa não ter diminuído o interessedeles por você. Por isso é que quero unir o útilao agradável. Desfruto de sua companhia e você nãopode me chutar ao mesmo tempo em que tento proteger você dos indivíduos.Bom para mim, não? Aliás! Adorei a abordagem policial.Ele a chamou de "minha namorada".

Bobo!Até as três e meia. E vê se não atrasa. Detestoguarda-costas que se atrasam.

Techau,gata!

DEZOITO

AtençãoCentral! Atenção Central! Urgente!

Falerápido!

Ondeestá o 35? Eu não consigo entrar em contacto com eles!

Caro35! Carro 35! Responda!

_:_?

Apósefetuarem a terceira chamada, os operadores ligaram para o Dr. Wladimir,que havia acabado de chegar na cidade.

Doutor,um dos nossos carros sumiu.

Será odemônio endemoniado? E eu preciso ficar sabendo disto, idiota?Afinal, quanto vocês recebem para resolver estas porcarias? Fodam-sevocês! Eu não quero saber que filho da puta sumiu! Eu querosaber é o porquê, o que fizeram, o que disseram e como vocêsos mataram. Só isso! Favor me ligar só para me dar estasinformações, cambada de incompetentes.

Rogério?A sua encomenda chegou?

Ah,sim Adalberto! Eu a recebi e já a pus no cofre.

Perfeito!

Querovê-la! Devo ir agora mesmo, pois à noite estarei ocupado.

Nosarredores da cidade, uma estranha e intensa movimentação.

Eramtrês os ocupantes do tal Carro 35 e neste momento, em uma certa chácara,estavam amarrados em cadeiras diante de cinco ou seis mascarados, fardadoscom roupas do Exército, sem oferecer nenhuma possibilidade para umaidentificação.

"Asencomendas", atordoadas, sabiam que estavam na seguinte condição: "Secorrer o bicho pega, se ficar o bicho come."; se dali escapassem, estariamem papos de aranhas com a chefia da organização.

Umdos supostos militares, o mais alto, aproximou-se dos homens amordaçadose falou, com uma voz muito grossa e forte:

Vocêstrabalharam muito hoje. Andaram e vasculharam a cidade inteira. Procuremdescansar o máximo. Estamos esperando uma pessoa especialistaem conversar com pessoas da espécie de vocês. Apesar demuito nervoso é uma alma muito boa. Ele não gosta de veras pessoas sofrerem. Mata-as logo ou as põe em liberdade conformeo serviço que prestarem. Vamos aguardá-lo. Agora sãoquatro horas mais ou menos. Lá pela uma da manhã é bemcapaz dele chegar por aqui. Senhores, eles são todos seus.

Sim,Chefe! - respondeu um dos homens que se aproximou de um deles e lhe deuum violento tapa na face esquerda.

Calmagente! Esperem o homem chegar Se acabarem com eles o cara nãovai gostar nada, nada. Ele é quem adora este tipo de serviço.Acalmem-se, por favor!

Nacidade:

Mércia!Desculpe-me! Sei que você está pronta para ir à piscina,mas se eu lhe propuser mudar os planos sem que você tenha de trocarde roupa, você se incomodaria?

Mérciajá estava no portão, acompanhada pela mãe, quando Adalbertochegou. Ela vestia uma bermuda jeans, camiseta azul clara e sandáliasde dedo, próprias para os banhos de piscina. Percebia-se por baixoda blusa os contornos do maiô que vestia.

Eaonde eu iria nestes trajes, sem ser a piscina? O senhor pode me explicar?

Vamosa um teatro.

Teatro?Nestes trajes?

É teatroamador! A platéia é muito simples e composta por pessoasamigas cujos trajes são bastante simples. É um lugar parase descontrair.

Nãosei não!

Você podeconfiar em mim? Só desta vez? A apresentação dapeça só foi resolvida há poucos momentos. Eu gostariamuito que você me acompanhasse e não há tempo paratrocas de roupa ou produções estéticas. Confia emmim?

Olhabem, mocinho! Se eu passar um mínimo de vergonha, serei eu quemterá o prazer de matá-lo, entendeu?

Simsenhora! – disse sarcasticamente - E a senhorita poderia nos informarpor onde andaria a D. Tereza Cristina?

Suponhoque no Clube!

Passemospor lá! Quero que ela nos acompanhe ao teatro.

Ocarro partiu numa arrancada bem veloz. Pararam no Clube. Tereza estava naporta de entrada para a piscina aguardando-a, conforme haviam combinado.Intimada, ou melhor, arrastada ao invés de convidada, brigando, entroupela porta traseira do Tufão.

Contornarama Praça 19 de fevereiro, subiram a Carlos Gomes, seguiram a Cussyde Almeida em direção à Rodovia Marechal Rondon, poronde viajaram uns 15 quilômetros, entrando em uma estrada vicinal.Adalberto não disse uma só palavra no trajeto e nem respondeu àsprovocações de Tereza Cristina. Mércia começoua sentir um friozinho na barriga, adivinhando que algo muito grave iria acontecere demonstrou isto para a amiga Tê.

Chegaramem uma propriedade toda fechada com cerca de arame farpado e com a porteiratrancada. Adalberto parou o carro. De repente surgiram três homensnas laterais, saindo como do nada, todos fortemente armados e encapuzados.As meninas, assustadas, gritaram e tentaram sair do carro, no que foram contidaspelo Coronel.

Tudobem, meninas! Jogam no nosso time!

Beto!Pra onde você está nos levando? Por favor! O que está acontecendo? – choramingouTereza Cristina

Hei!Sou eu, o Beto! Calma garota! Duvidem de todo o mundo, menos de mim.Mércia, você acha que eu lhe faria algum mal?

Asduas silenciaram. Os homens observaram os ocupantes, destrancaram o cadeadoe abriram a porteira. O carro avançou até uma estrada de descida íngremee com pedras. Chegaram em um rancho de madeira e cobertura de folhas de babaçu.Mais acima, no meio de um arvoredo, uma casa de alvenaria. Dirigiram-se paralá. Mércia e Tereza Cristina, desconfiadas daquele lugar, acompanhavamo mutismo do Coronel.

Aoadentrarem na casa a surpresa para elas: estavam lá, vestidos comfardas do Exército: um desconhecido, depois identificado como TenenteJoão de Souza, Renato e Rogério que com o dedo nos lábiospediu-lhes silêncio total.

Uai,Chefe! Chegou bem antes da hora que combinamos. – as meninas estranharamo tom e a altura da voz de Rogério

On-onde es- es-tão os pi-pilan-lantras? – gaguejou em voz bemalta o Coronel. Mércia e Tereza arregalaram os olhos e tiveramque tampar as respectivas bocas para não darem sonoras gargalhadas,apesar da tensão do momento.

Estão à suaespera aí no quarto. Bom divertimento.

Adalbertovestira, por cima da própria roupa, uma farda semelhante à deRogério. Gaguejando mais do que nunca, entrou no quarto de onde saíramtrês outros soldados fardados, sendo eles na realidade Carlos Nascimento,Otelo e Corte Real.

Lá dentroouviam-se palavrões, tapas, choros. Mércia ficou assustada.Tereza,apavorada. Olharam para Rogério demonstrando medo. Rogérioas abraçou paternalmente e as levou para o carro de onde, mesmo assim,ainda se ouviam os tapas e os gritos. Pedindo que ficassem calmas dentrodo veículo, o militar retornou para a casa.

Mércia,o que é que está acontecendo? Onde estamos?

Nãosei, Te! Só sei que estou apavorada! Estão torturando gentelá dentro.

Vamosembora daqui? As chaves estão no painel do carro.

Deque maneira, menina! Você está ficando louca? E aqueleshomens na porteira?

Derepente, tudo cessou! O silêncio era total. Apreensivas, vasculharamo terreno sem ver ninguém. Mércia arriscou sair do carro. Iachamar Tereza para irem até a casa, quando Adalberto surgiu na porta,sorrindo, como se nada tivesse acontecido.

Venhamcá, Princesas! Mas, não falem e nem façam nada. – noalpendre pediu - Tirem as sandálias e pisem levemente. – eas levou para dentro.

Entreabriua porta e lhes mostrou os homens amarrados nas cadeiras, amordaçadose com os olhos vendados. Uma toalha cobria-lhes os órgãos genitais,já que estavam completamente nus. Via-se nitidamente o sinal do espancamento.O Coronel fechou a porta e retirou as meninas da sala. No quintal, já distanteda casa, explicou:

Sãohomens que deveriam estar lhes aprisionando de hoje para amanhã.

Coronel,e por que da tortura? – ousou perguntar Mércia.

Só estávamosquerendo saber quando que efetivamente iria acontecer o seqüestro...Que vocês já foram fotografadas outra vez, isto nósjá sabíamos. Como não puderam fazer nova fita, poisperderam a original mandaram fotos suas e de Cristina para Tókio.

Equando isto aconteceu? Nós estávamos atentas o tempo todo.Nunca observei ninguém com máquina fotográfica pertode mim! – exclamou Tereza Cristina

Paraisto existe a teleobjetiva. Fotografa de longe e com muita perfeição.

Adalberto,você acha que agiu certo com estes homens? – perguntou-lheMércia

Certo,certo, eu não acho, Mércia. Apenas necessário. Mas,graças a este "tratamento" ficamos sabendo que os japoneses querem é afita, pois não se contentaram com as fotos. Iriam rapta-las amanhã naFaculdade, obrigariam vocês a posarem da maneira que eles quisessee... Aí a dúvida continua. Não sabemos se vocêsvoltariam ou se já as manteriam prisioneiras para exportação.Eles desmaiaram antes da informação.

MeuJesus amado! Como podem existir pessoas assim, Adalberto? – horrorizou-seMércia

Masvocê ficou com dó deles, não ficou? Tenho certezade que me responsabilizou pelas brutalidades que os coitadinhos estavamsofrendo, não foi?

Você temque entender que não estamos acostumadas com estas coisas.

Sei!Ainda bem! Mas pensam iguais às pessoas que nos acusam de sermossádico porque damos uns cassetes nuns pilantras que nãovalem a bosta que cagam, desculpem a expressão. E. pior, nãose acha ninguém para nos defender. Só quando a coisa é naprópria pele é que justificam uns cinco ou seis tiros numcabra destes.

Desculpe,Adalberto! Nós não os estávamos defendendo. Apenasnos assustamos, e tenha certeza, pela exclusiva falta de costume.

Tabom! Assunto encerrado! Princesas, piscina não dá mais,mas um cineminha pegaria bem, não?

SimSenhor! Mesmo porque já me banhei toda em meu próprio suor.Você há de convir que o dia de hoje foi muitíssimomovimentado. Só quero ver a cara da Iara quando lhe contar nossasperipécias de hoje.

Você irá aocinema conosco, não irá Tereza?

Bem,até que eu...

Elanão gosta do tipo de filme que está passando hoje. Eu aconvidaria para a lanchonete, pode ser?

Espereaí! Posso decidir o meu destino, pelo menos desta vez?

Te,vá por mim. O filme é horrível, podes crer!

Eque filme está passando hoje, Mércia?

Você sabeque eu não sei?

Tabom, já entendi!

Mérciae Tereza! Chamem os seus colegas para comparecerem à lanchonetedepois do cinema. Preciso orientar todos vocês sobre amanhã,ok?

Tudobem! Nós dividiremos a turma.

Vamosembora então!

Espereaí! E em qual lanchonete encontraremos o senhor, ou o casal? – perguntouTereza Cristina.

Acheo Rogério que você nos achará, ou melhor, me achará. – respondeuAdalberto

Nosencontrará – corrigiu Mércia.

Eonde acharei o tal de Rogério?

Bastará,onde estiver, virar a cara de lado e você, observadora que é,o encontrará. Ele é a sua sombra, sabia? E está correndoo sério risco de se apaixonar. Cuidado!

Palhaço!

DEZENOVE

Eraaproximadamente 17hs45min, quando um Impala azul encostou-se ao portãoda casa de Mércia. Com o ligeiro toque da buzina, ela apareceu naporta. Ligeira comoção ao estranhar o carro, mas se acalmandoa seguir ao reconhecer o motorista.

Acasa tinha dois pavimentos. No térreo, depósitos de peçasda distribuidora de carros, dispensa da residência, lavanderia, dependênciaspara empregados e uma área coberta, ao fundo, pela laje do andar superior;neste, a residência da família: quatro quartos sendo dois suítes,sala de estar, sala de jantar, uma espaçosa cozinha, banheiro sociale, na frente, um alpendre, no cumprimento da sala de visitas; dela saia umaescada e era em seu início que neste momento estava Mércia.

Linda!Simplesmente linda! Cabelos soltos batendo-lhe nos ombros, vestido em tomcinza muito leve, deixando os ombros da moça desnudos pelo decoteem meia lua, sendo a saia ligeiramente rodada, com um mimoso cinto, quaseimperceptível. Calçava sandálias abertas, tiras cinzasfinas e salto alto. Sua maquilagem era bem discreta, muito próximado natural, com os lábios em tom rosa claro, o que mais se destacava.

Adalberto,que saíra do carro, abriu-lhe o portão recebendo um singelosorriso como agradecimento. Correu para abrir a porta do carro. Novo sorriso.Deu a volta pela frente e assumiu o seu lugar ao volante.

Acreditoque meu ar bestificado dispensa lhe dizer o quanto você está linda,não?

Obrigada!Bondade sua! Será que ainda conseguiremos entradas para o Cinema?

Duvidomuito! E não faço muita questão de assistir a umfilme hoje.

Entãosugira uma alternativa!

Quetal um barzinho, uma vitrola, alguns cubas e um bom papo?

Sevocê conhecer uma maravilha desta, topo!

Bem,não é um barzinho, mas algo bem melhor. Se formos ao Clubedos Bancários, lá na Oswaldo Cruz, tenho a certeza de queo Perceu abrirá suas portas para nós e nos receberá muitobem.

Entãovamos!

Nãose precisa explicar que "haviam" antecipadamente sugerido a Perceu, Presidentedo Clube, esta possibilidade e este a providenciou com a parceria dos garçonse do Maitre, Seu Agenor, antecipando suas chegadas para as 18 horas, o quenão era comum. Logicamente a recompensa seria bem gorda.

NoClube, Adalberto procurou sentar-se na mesa que ficava mais ao fundo, comvisão ampla do salão e da entrada deste para que tivesse totalconhecimento de quem entrasse quando os freqüentadores do Clube começassema chegar...

Mérciasentou-se, "sem querer", numa cadeira bem próxima à do Coronel,ficando os dois "coincidentemente" lado a lado. Como "premier" Wilma Bentivegna,interpretando "Hino ao Amor". Casualidade? Certamente!

Beto!Desculpe-me, Adalberto! Tudo aquilo que você me falou no almoço...Sinceramente... Eu gostaria de voltar àquele assunto, de maneiramais devagar, não num desabafo como você o fez. Eu nãoconsegui digerir nem o almoço, nem as suas palavras.

É,eu sabia que havia estragado o seu almoço. Eu sempre fui assim:impulsivo, besta.

Não!Não! Eu disse digerir, apreciar, degustar. Eu adorei ouvir o queouvi. E qual mulher não gostaria de ser chamada de musa?

Mesmose esse alguém fosse... Um idiota, um parvo, por exemplo?

Claro!Nada a ver com posições sociais, mentais ou financeiras.Qual ser humano não aprecia ser lembrado e acompanhar a vida deuma outra pessoa, mesmo sendo para esta pessoa um simples paradigma imaginário?

Nãosei! Nunca experimentei esta sensação! Acho que nunca fuilembrado por ninguém.

Você podeestar enganado. Igual a mim! Eu também nunca me imaginei ser musade ninguém! E você não sabe o bem que isto me fez.Pena que não sou um milésimo daquilo que você descreveu.Mas, tenha certeza, vou procurar me moldar pelos parâmetros desua imaginação.

Mércia,não brinque com os sentimentos mais profundos de uma pessoa. Eusei o quanto foi ridículo meu desabafo. Como já lhe disse,peco muito pelo meu imediatismo e sinceridade. Erro muito ao dizer exatamenteo que penso e o que sou, pois, vira e mexe, estou ofendendo alguémque muito prezo sem nenhuma intenção de faze-lo.

Beto,eu não me ofendi. Eu estou lhe dizendo que me senti muito lisonjeada.Toda vez que olho para você meu coração passa a batermuito mais forte. Sabe por que? Sei que moro aí, bem dentro doseu, não importa que seja uma estética, mas moro aí.E eu me sinto amada, como nunca sonhei ser.

Oi,gente! – surgiu, como do nada, Tereza Cristina

Oi!Como nos descobriu aqui? – interessou-se Mércia.

Apostocomo foi o cretino do Rogério – respondeu Adalberto

Ecomo você pode provar esta acusação, Coronel? – brincouTereza Cristina.

Tudobem, Tereza? E por que não foi ao cinema?

Porquea senhorita não estaria lá para adquirir nossas entradas.

Tabom! E eu tenho que agüentar mais esta!

Coronel!Haverá mesmo a reunião? A turma está lá embaixoe doida para saber se haverá e onde será.

Digaao pessoal para ficarem nas imediações do "Delícia" quena hora o meu pessoal os levará para o local da reunião,ok!?

Ok!E vocês, pelo aspecto, não sairão daqui tãocedo, não é? Qualquer coisa, nós poderemos procura-losaqui, pois não?

Sime não! Sim, ficaremos por aqui; não, para não nosprocurarem mais.

Então,até daqui a pouco, q u e r i d o s!

É palhaçamesmo! E o senhor Coronel! Está disposto a voltar ao nosso diálogo?

Mércia!Olhe bem o que você está fazendo. Eu... Não gostode falar sobre o que penso, o que sinto. Eu sei que a chateei,mas...

Nãoterminou a frase. Mércia aproximou-se dele e lhe deu um meigo beijona face.

Imediatamenteele se voltou e ambos ficaram de frente um pro outro. Trocaram olhares fixos,olhos nos olhos.

Mércia!Não queira me machucar mais do que você já o fez

Quandoeu o magoei? - perguntou a loira com uma voz suave e um leve sorrisonos lábios.

Todaa nossa vida. Você nunca soube que eu existia. Você se lembrade uma solenidade que a Professora Marly quis fazer em homenagem à RevoluçãoFrancesa?

Lembro- me! Fizemos uma reunião na capela do Colégio das Irmãs?

Sim!O único que assumiu vestir vermelho fui eu! E sabe por que? Porquevocê estava ao lado da Professora e eu queria que você menotasse.

Mérciao abraçou, colou sua face na dele. Lágrimas teimavam em banharseus olhos.

Adalbertoa afastou um pouco para logo a seguir se aproximar vagarosamente, pôrsuas mãos nas faces dela e roçar levemente seus lábiosnos dela. Mércia cerrou os olhes e retribuiu aquele momento sublime.Afastou-se por momentos. Atirou-se novamente em seus ombros, olhos fechadose sorriso de felicidade. Adalberto a puxou e, olhos nos olhos, pensamentode um adentrando o do outro, lábios entreabertos, hálito deum cruzando com o hálito do outro... Beijaram-se e desta vez com todaa intensidade permitida pelo amor. Foi longo, compartilhado, degustado, sublime.Afastaram-se, novamente olhos nos olhos, sinceridade, amor, prazer, tudose misturou no silêncio da felicidade.

Acomodaram-seem suas cadeiras e Mércia deixou a cabeça encostada no ombrode Adalberto enlaçada pelo braço esquerdo deste.

Eunão acredito – Adalberto foi quem disse as primeiras palavras. – Umavida de sonhos concretizando-se. Não acredito! Estou sonhando!Ou devo ter sofrido outro acidente e estou em coma.

Querme fazer o favor de parar de dizer besteiras! Vamos viver este momento!Ele é só nosso! Olhe: "You are my destiny", Paul Anka.Será a nossa canção. Você gosta?

Adoro!Deite no meu ombro! Feche os olhos! Deixe-me admira-la, curtir você emmeu ombro. Quero ouvir sua respiração ao compasso da música,sem saber que existe mais alguma coisa além de nós dois.

Eo momento perdurou: "Besame Mucho" (Connie Francis), Ave Maria dos namorados(Altemar Dutra), Love-me tender (Elvis Presley), A noite de meu bem (Maysa),Five hundred miles (Peter, Paul and Mary) e tantas outras, encantando cadavez mais as almas dos apaixonados.

Depois,sentindo-se sozinhos no salão apesar de outros pares, ora com os rostoscolados, ora Mércia recostada no ombro do rapaz, dançaram aosom de Billy Vaughn, Severino Araújo, Românticos de Cuba, Simonetti,Ray Conniff, com músicas instrumentais românticas ao extremo.

Derepente!

Comlicença! Desculpe-me! Não gostaria de atrapalha-los

Já atrapalhou,Rogério!

Desculpe-me,querido e amado chefe, mas é que o pessoal está lá embaixolhes esperando para certo compromisso! O senhor me desculpe, mas é algomuito necessário!

Beto!Que horas têm?

Onzehoras, madame – Respondeu Rogério

Conversa,Chico! – gritou Adalberto

Então, é só olharo relógio, magnânimo!

Beto!Incrível! Para mim ainda seriam umas oito ou nove horas.

Vamos,ao trabalho!

VINTE

Oburburinho era intenso. Carros chegavam; carros saiam. Dois aviõesCessna 140 pousaram quase que simultaneamente na pista gramada. Homens entravame saiam da casa, apressados, como se estivessem se preparando para algo muitourgente. Outros se postavam no telhado do sobrado, armados com metralhadoras,cartucheiras, revólveres, vigilantes, caras fechadas. Espalhados pelaextensa área, homens, também armados, afastavam curiosos dasproximidades da propriedade. Lá dentro da casa...

Comotrês homens desaparecem sem deixar o menor vestígio? E ocarro? Quem ousaria enfrentar os meninos?

Deixede ser burro, Sr. Amadeu! Da mesma forma que nós desaparecemoscom quem não nos é agradável! Desaparecendo!

Masquem estaria contra nós, ou contra eles, Dr.?

Apolícia! Não esta policinha aqui da cidade. Tem gente defora atuando aqui dentro. E a nossa ronda não deu em nada. Sutilezadeles ou incompetência nossa?

Amadeuestranhava a calma nada comum da conversa do chefe. Colocou sua barba demolho. Sabia que algo muito sério viria pela frente. E nãodemorou muito.

Amadeu!

Simsenhor! – respondeu subserviente.

ChameMaisena para mim! Vá rápido e que ele venha mais rápidoainda. Quero estar só com ele.

Logochegava o preto forte e cruel, aquele mesmo do Timboré. A gang estavatoda reunida.

Maisena!Sente aqui! Tenho uma missão para você! E ela é muitoimportante!

Poisnão, Chefe!

Amadeu!Nosso contato manifestou-se?

Apenasnos informou que haverá uma reunião com a cúpulada Polícia.

Epor que esta anta ainda não nos mandou fotosd deste pessoal?

Inexperiência,chefe! Ela é meio bobinha. Se permitíssemos uma açãomais arriscada por parte dela, o risco de ser descoberta seria enorme.

Eonde será a tal de reunião!

Apolícia não a informou. Dizem que os encontrarãono centro da cidade e de lá os levarão para o local.

Olhebem Maizena! Estamos perdendo o controle da situação. Aincompetência de determinados membros desta nossa organizaçãope terrível. Tem gente interferindo demais em nossos negócios.Começou com aquela história da troca das fitas na Alfândega.Agora, o sumiço do Egberto, Célio e Rodrigo. Se eles nãoforam sumariamente liquidados, alguém está agora sabendode muita coisa sobre nós. Nossos negócios, "modus operandis",nomes... E nada sabemos sobre quem é este alguém. Concorrênciaou oposição?

Chefe,no meu modo de ver, é o Serviço de Inteligência daPolícia.

É oque também suspeito. E por via das dúvidas, vamos atacarmais diretamente, vamos ser mais objetivos. Se tudo começou adespencar quando houve a troca das fitas, eles estão interessadosmais é em nossos negócios. Concorda?

Simsenhor!

Entãoo problema principal está centrado naquelas universitáriasque exportaríamos para Tókio. E será atravésdelas que descobriremos quem é o alguém e resolveremosnossos problemas de uma vez por todas.

Eo que o senhor está pensando de fazer?

Eu?Nada! Você fará! Se eu estiver com a razão, a loirae a morena da fita estão muito bem vigiadas. Mas aparece uma outramoreninha que não se destacou muito, apesar de muito bonitinha.Passei a saber, para futuras exportações, que ela moraali ao lado do Araçatuba Clube, na Rua Afonso Pena. Chama-se Iara.E eu a quero em nossas mãos. Assim teremos como barganhar comos adversários. Quero que você a busque imediatamente.

Simsenhor! E a trago para onde? Para aqui mesmo?

Não!Devem estar de olho neste lugar. Leve-a para o Casa da Mata. É elá queusamos para sumir com os inimigos. Eu também estarei por lá.

Simsenhor!

Nãoa moleste! Não a toquem! Guardem-na naquele armário embutidoe me aguardem! Quero bater um papo com ela.

Simsenhor!

Iarase preparava para ir ao Clube. Uma camiseta branca, mangas tipo suspensório,bermuda jeans, sandália de dedo tipo "Havaianas". Na bolsa, seu maiô,pente e creme de bronzear. Ao sair observou que seus pais estavam deitados,possivelmente dormindo, o que a fez sair sem deles se despedir, o que nãoera muito de seu feitio. Deu mais uma olhada para o quarto, colocou seus óculosescuros, abriu a porta e saiu.

Quandose aproximava da esquina, onde ficava a quadra de tênis de um ladoda rua e a sede do Clube do outro, foi abordada por um senhor de meia idade,bigodes largos, calvície acentuada na parte superior do crânioe longos cabelos atrás e nas laterais.

Senhorita!Poderia me auxiliar informando-me sobre este endereço? – estendeu-lheum amassado papel

Poisnão! – respondeu solícita.

Aoinvés de um endereço, Iara leu uma mensagem:

" Nãoreaja, não se espante e nem diga nada! Há uma arma apontadapara você! Olhe uma Kombi de carga estacionada do outro lado da rua!Normalmente, dirija-se para ela e adentre pela porta de trás. Qualquermovimento seu e será finada! Repare também no bolso de nossoamigo e você verá um volume diferente. Experimente correrou gritar! "

Vamos?Passe o seu braço no meu braço.

Iaraolhou para os lados. Não havia ninguém na rua. Era Domingo.O olhar maldoso do homem a fez se decidir. Passou o braço no deleque a prendeu firmemente. Atravessaram a rua, deram a volta pelo carro eela foi literalmente empurrada, jogada para dentro.

Imediatamente,quatro mãos a agarraram. Seus braços foram torcidos para tráse os punhos amarrados por finas cordas no braço oposto. Recebeu umchumaço de pano dentro da boca e uma larga tira de pano cobrindo-a,amarrada na nuca. Seus pés foram presos pelos tornozelos e estes ligadosaos braços. Uma tira de borracha lhe foi colocada como tapa olhos.Chumaços de algodão tamparam-lhe os ouvidos. Um pano, embebidoem algo fétido, lhe foi pressionado contra seu nariz. Tentou se desvencilhar.Foi a última coisa que sentiu.

Quandopercebeu alguma coisa, sentiu-se diferente. Estava em lugar escuro. Pensouno tapa olhos. Mexeu as pálpebras. Elas estavam livres. O lugar é queera muito escuro. Suas mãos estavam presas por largas tiras, à frentede seu corpo e ligados aos tornozelos. Ela se movimentou tentando sentar-se.Quando o conseguiu viu-se nua da cintura para cima e sua bermuda, abertae descida até os joelhos. Horrorizou-se! Pensou ter sido estuprada!Concentrou-se mais, mexeu-se toda. Percebeu que não sentia dor alguma,sinal de que ninguém a tocara. Sentiu-se revoltada por ter sido vistanua, coisa que ninguém o conseguira antes. Mas, onde estaria? Tentougritar. Ainda estava amordaçada. Tentou raciocinar!

Aporta se abriu! Ela estava em um armário embutido bem pequeno! Umpreto forte, careca, imenso a observava. Ela ficou simplesmente petrificada.

-Patrão! A mocinha acordou. Pode se servir!

VINTE E UM

Coronel!

CarlosAndrade se aproximou do militar, bem na porta do Clube e lhe sussurrou algumacoisa ao ouvido. Mércia percebeu que algo de muito grave estava acontecendo.Adalberto começou a ficar pálido e mordia o lábio inferior.

-Quando? – questionou o Comandante.

Provavelmenteentre as 15 e 16 horas.

Eque horas foi percebido?

Eramaproximadamente 19 horas. Não se conseguia nenhuma comunicação.Fizemos algumas batidas infrutíferas. Somente agora é que...

Ondeestava?

Pertodo Córrego Baguaçu. Assassinado! Três tiros a queimaroupa, bem na têmpora.

Ea moça?

Simplesmentedesapareceu! E só pudemos chegar na casa dela, agora à noite,quando seus pais nos procuraram para saber notícia da filha, quehavia saído para o Clube, lá não havia chegado e,para casa, não retornou.

Adalberto! – eraCorte Real – interceptamos um telefonema muito interessante. Descobrimosem uma fita gravada na sexta-feira passada. Você precisa ouvi-lacom urgência.

Vamosentão mudar o estilo de nossa reunião. Terá de serbem rápida. Rogério, você orientará o pessoalquanto ao procedimento deles amanhã.

Vamoscontar o que aconteceu?

Só seperguntarem pela garota. Caso contrário vamos mantê-loso mais longe possível desta história sórdida.

Adalberto – falounovamente Corte Real – Você precisa ouvir a fita. E tem deser antes da reunião.

Desembuchelogo, Renato! O que tem nesta fita.

Alguémpassando informações para um tal de Dr. Wladimir sobreos costumes de Iara.

Quem?Você conheceu a voz?

Euqueria ouvi-los mais tempo. Gozado que a voz é feminina e não...

Feminina?Feminina? Ou distorcida?

Seeu ouvir as meninas na reunião eu acho que reconheceria muitobem quem fala na fita.

Vamoslá então! Rogério, leve-os para o local, dispersando-ospelas redondezas.

Beto!Tudo bem? Diante de sua expressão fiquei super preocupada. Algumacoisa grave aconteceu, não?

Talvez,Mércia! Vamos para a reunião.

Erauma casa antiga, conservada, pintura antiga, com um muro de 1,50 m de alturae um único portão antiqüíssimo de ferro como entrada;um alpendre de 3 X 2 m no canto direito de quem entrasse dividia a paredecom o quarto principal cuja janela com venezianas de madeira ficava na paredeque complementava o alpendre. Um grande corredor descoberto acompanhava todoo lado direito da casa; dentro uma sala com uma porta de acesso a mais umquarto em sua parede esquerda, uma grande sala de jantar, com pia, um banheirocom um pequeno lavabo, uma cozinha, muito pequena, uma área diminutaao fundo. Havia um grande quintal e no muro de trás, um enorme cômodoque serviria como Dispensa ou mesmo um depósito. Situava-se na RuaChristiano Olsen, entre as ruas Duque de Caxias e Torres Homens.

Eprecisava ser esta reunião justamente aqui, Sr. Adalberto? – perguntouironicamente Tereza Cristina. Ironicamente por saber que aquela casaservira de moradia para Adalberto e sua família, e por residirpraticamente em frente do local.

Oscarros rodavam fazendo voltas pelos quarteirões deixando um ou doisocupantes nas imediações da casa. Chegaram: Márcio,Jonas, Tereza Cristina, Mércia, Walter, João Gordo, DécioMota, Moacir, Milton Ortoloni e Margarida. Todos se cumprimentavam alegres,sempre com piadinhas.

Adalbertopercorreu todo o ambiente com um olhar muito perscrutador. Logo de cara ouviuMércia perguntando:

Ondeestá Iara?

Todosse olharam espantados. Como não haviam dado falta da morena?

Márcio,você a viu? – questionou Mércia.

Não!Desde ontem eu estava na chácara do pai do Milton. Chegamos agoraquase na boca da noite.

Alguémesteve com ela? – interferiu João Gordo

Vocêsa avisaram da reunião?

Eua avisei. – garantiu Walter.

Eeu também – acrescentou Mércia.

Deveter viajado – sugeriu Margarida.

Mas,sem avisar ninguém? Só se for luto na família ea viagem aconteceu de imediato. Mesmo assim...

Poisbem, Mércia e Tereza! Temos a certeza de que amanhã deverãoser procuradas na Universidade por algumas pessoas. Não saiamcom nenhuma delas, por mais convincentes que forem. Tenha plena convicçãode que são da quadrilha de seqüestradores. Supomos que elesestão agora agindo pra valer, jogando com todas as cartas, e resumindoesta história de transferi-las para Tókio.

Ese nós não fôssemos às aulas amanhã,Coronel? – perguntou Tereza Cristina.

Você sabeque é uma excelente idéia? Acho bom mesmo ficarem amanhã emcasa.

Mas,não havia sido combinado que deveríamos agir com a maiornaturalidade? – opinião de Margarida – Os bandidosnão poderão desconfiar de alguma coisa?

Simultaneamente,Corte Real levantou o polegar para o Coronel dando-lhe o sinal de positivo.

Você podeter razão! Mas não queremos correr mais riscos. Estas meninaspoderão ser raptadas num momento em que poderíamos estarimpossibilitados de intervir.

Senhor!Se me permitir... – mostrou o gravador.

Você achaadequado o momento?

Sim,se me permitir sugerir. Os meninos poderão nos ajudar.

Tudobem! Gente, vocês sabem que estamos em contínua ação.Quando suspeitamos de alguém, interferimos na linha telefônicado suspeito e podemos ouvir as conversas que efetuam. Para o telefonede cada um dos implicados neste caso há um assíduo ouvintedas conversas. E tudo autorizado pelo Ministério da Justiça.E todas as conversas são gravadas. Aquelas cujos conteúdossão privativos da família destrói-se por completo.Vocês vão ouvir uma destas fitas agora, gravada na escutado telefone de um grande empresário desta cidade.

CorteReal ligou o gravador.

Entãoquerida, tem alguma novidade para o titio?

Dr.,a garota está sendo vigiada por pessoas da FAB. Eles estãona quadra de tênis.

Umtraidor? Aqui! Entre nós? – berrou Jonas

Maisparece uma traidora! – espantou-se Tereza Cristina.

E é umatraidora! Ele a chamou de "querida" – observou estupefata Mércia.

Continuavaa fita:

Esão quantos, meu amor?

Comoela não estava na fita, eles colocam apenas um de cada vez.

Evocê conhece este pessoal?

Nãotodos, senhor! Os conhecidos são sempre gentis para conoscoe nos atende com muita amabilidade.

Temcomo você tirar algumas fotos deles?

Senhor,eu tenho muito medo de que me descubram. Seria muito estranho que umapessoa do meu nível social e financeiro aparecesse com uma máquinafotográfica na mão.

Então,amanhã você me faça um favor? Lá pelas duashoras da tarde fique lá nas proximidades da quadra. Eu vou precisarde um servicinho rápido, mas que pode lhe valer aquela viagemaos Estados Unidos. Conto com você?

Simsenhor! Às quatorze horas estarei por lá.

Umacadeira foi chutada e alguém pulou em direção à Mércia,agarrou-a pelo pescoço e mostrou a pistola Beretta encostada na fronteda loira.

Queninguém se mexa ou eu estouro os miolos desta merda e depois eume mato. – para espanto de todos, quem gritava histéricaera Margarida.

Garota!Largue esta arma! Você já causou a morte de um excelenterapaz. Não faça mais bobagens. Você não tema mínima chance de sair daqui com vida. – falou o CoronelAdalberto

Menina,você deixe de bobagem! Para que morrer tão jovem. Se você seentregar poderemos ajuda-la e seus castigo será muito menor. – ponderouRogério.

Enquantoos oficiais discutiam com a menina, os outros retiravam os demais alunosdo salão, vagarosamente e em silêncio absoluto.

Calaesta boca! Vou levar esta puta. Ela vale milhões. O Doutor é muitogeneroso. Ele me pagará muito bem por esta desgraçada.

Espere!Se é um caso de dinheiro... Poderemos conversar. Sou muito maisgeneroso do que este doutor de meia tigela.

Doutorde meia tigela é a puta da sua mãe, seu milico cachorro!O Dr. Wladimir é pessoa boníssima, carinhosa e filantrópica.Enche minha casa de comida há muito tempo. Trata dos remédiosde minha avó. É o único ricaço bom que euconheço. O resto é um bando de filhos de uma puta gananciosos,humilhadores de pessoas simples iguais a mim, soberbos, medíocres.Nós vamos acabar com esta raça de gente. E a Aliançavai mudar o mundo. E vocês, seus palhaços...

Nãoteve tempo para mais nada. Era uma fração de segundo apenasde que precisavam. Olhara procurando o restante da turma. Estranhara o silêncio.Dois tiros se ouviram. O buraco na testa de Margarida e, o sangue escorrendotransformou-se em um espetáculo dantesco. Instintivamente ela acionouo gatilho. Não detonou a arma. Mércia caiu desfalecida acompanhandoos movimentos do corpo moribundo da moça.

Adalbertocorreu para amparar a sua namorada. Neste instante os alunos correram paradentro do salão. Aterrorizados viram Adalberto com Mércia inerteem seus braços e Margarida caída mais ao fundo.

Mércia! – correuMárcio desesperado para auxiliar a irmã.

Mércia! – gritouconvulsivamente Tereza Cristina

Calma,garota, calma! Está tudo bem! – dirigia-se ao encontro deTereza Cristina, deixando Mércia com o irmão, pois certificara-sede que nada lhe havia acontecido. Abraçou-a com a arma fumeganteainda na mão. – Está tudo bem! Ela não foiatingida. E agora temos a prova de quem é o traficante e sabemosonde está Iara. Calma!

Coronel! – levantou-seMárcio, depois dos sinais de recuperação de Mércia,agora atendida pelos médicos recém chegados. - O que aconteceu?Por que tudo isto? Como uma menina aparentemente dócil causa umadesgraceira desta?

Infelizmentea vida nos oferece este tipo de surpresas.

Ecomo vocês conseguiram libertar minha irmã?

Muitoa contragosto tive de atirar na Margarida aproveitando um ligeiro descuidodela.

OSenhor correu imenso risco. Poderia ter atingido minha irmã! Oua Margarida poderia ter acionado o revólver dela.

Eela o acionou! – aproximou-se Rogério com a arma da garota,pegando-a com luvas e pela ponta do cano – Observe o cãoda arma!

MeuDeus! – a arma havia realmente sido disparada. Só nãodetonou por ter tido o cão arrancado com o disparo da arma doCoronel.

Gente! – disseAdalberto – Vamos nos encontrar com os parentes que estãoaí na porta na maior ansiedade. Rogério, você fazas honras da casa?

Deixecomigo. E você sabe que existem três ou quatro jornalistaslocais e representantes dos jornais da capital aí fora, nãosabe? Pode deixar que desta vez eu lhe quebrarei o galho.

Palhaço!Márcio, você avise aos demais estudantes para amanhã,não irem à Faculdade. Se tudo correr bem, amanhã mesmoestaremos com a Iara, sã e salva e os bandidos presos. Portantonão saiam de suas casas. Elas estarão cercadas por váriospoliciais.

Coronel! – eraMércia.

Tudobem, Mércia?

Oque você acha? Eu nunca poderia imaginar... Margarida?

Vá paracasa com seus pais. Eles estão aí fora. Eu lhe procuro,depois que tudo estiver terminado. Isto é, se você aindaquiser ouvir "You are my destiny".

Claro!E... Obrigada! Pelo que o Márcio me disse você me salvou.

Nadadisto! Foi um policial que lhe salvou a vida. Eu apenas torci para queeste policial não tremesse de emoção ao atirar.

Bobo! – afetuosamenteo abraçou - Até amanhã! E traga a Iara.

Tenhaa certeza disto!

VINTEE DOIS

Iarafoi pega pelos braços e, literalmente, carregada por dois homens dedentro do armário embutido até uma cadeira. Sentada, ela seviu obrigada a permanecer com a cabeça mais ou menos na altura dosjoelhos, já que seus punhos estavam ligados aos tornozelos.

Elapercebia o clarão do cômodo, só não identificavaainda se era natural ou artificial. Seus olhos ainda não haviam seacostumado com a claridade. Fechou bem os olhos, protegendo-se da luz e doterror. Ouvia passos, vozes diferentes se alternando, sem identificar quantaseram. Suas costas começaram a doer devido à posiçãoincômoda em que se encontrava.

Viudois enormes pés calçados parados a sua frente, bem próximoa ela. Devia ser do tal preto que abrira a porta. Os pés, pelo tamanho,só poderiam pertencer a uma pessoa alta e forte. Ficou mais aterrorizadaainda. Sentia o frio desconfortante do horror. Outros dois homens se aproximarampelos lados e começaram a desatar as fitas. Seus punhos foram liberados,mas seus braços não. Foram agarrados por mãos fortesque a obrigaram a ficar agachada, agora fora da cadeira. Puseram-lhe um capuzpreto, grosso, de couro, sem os orifícios dos olhos, levantaram-nae a arrastaram para um local onde teve os punhos atados por algemas e correntesa algum poste ou parede de maneira que ficou com eles em forma de um "X".

Elatentara evitar, mas as poucas roupas que vestia caíram-lhe aos péssendo retiradas dali, deixando-a, em pé, e completamente nua. Nãose sentia tocada, mas sabia estar sendo olhada, perscrutada, analisada ecertamente motivo de desejos e zombarias próprias dos canalhas.

Olhemsó! - Iara gelou – Quem diria! Ela tem um corpo fenomenal! – Tentoufechar as pernas, mas pouco antes os tornozelos haviam sido amarradasna mesma forma que as mãos – Acho que se observou a pessoaerrada.

Realmente!Ela é uma teteinha! Coxas grossas, boceta pequena, bundinha cheiae empinada...

Maisena!Olhe o seu vocabulário! Seja mais clássico! Você está ruborizandoa garota, tenha a certeza disto.

Nósvamos treina-la? Porque ela não vai ser dispensada da exportação,vai?

Bataalgumas fotos dela. Vou envia-las com urgência para a representaçãobrasileira dos homens. Se eles concordarem, e pagarem bem, poderemosmanda-la. Tirem as fotos, mas não iniciem o treinamento. Quero-aintacta até então.

Perfeitamente,Chefe! Rapazes! Chamem a Bebel para ajeitar a cara dela que nãodeve estar muito agradável depois de usar esta máscara.

Iaraapenas orava. Não queria ouvir o que diziam a seu respeito. Palavrascomo exportação, representação brasileira, Bebel,nada lhe significava, nada fazia sentido. Estava perplexa com as palavrasdo cara descrevendo seu corpo que era uma chama só de calor. Nem asdores dos braços espichados e o ralar das algemas lhe incomodavammais.

Retesou-setoda ao sentir a palma de uma mão a alisar seu seio esquerdo. Tentouse debater, mas os braços e as pernas presas lhe tiravam toda a possibilidadepara isso. Quis gritar ao sentir sugarem o seu seio direito. A máscaraa impedia como uma mordaça. U'a mão cobriu-lhe a vagina e umdedo alcançou seu ânus.

OH,palhaço! Q que está pretendendo? – uma voz femininabem grave.

Que é isso,Bebel? Não vou tirar pedaço dela não!

Querassinar seu atestado de óbito, energúmeno? Você nãoouviu as ordens do Patrão? Se ele souber que pelo menos você chegouperto desta coisinha, ele simplesmente te manda enterrar vivo.

Masele não precisa saber! Precisa?

Burro,ele sabe que ela é virgem. Esta mão sua ia acabar entrandoem buraco errado. E você sabe que a primeira vez sempre é dele.

Istonão está certo! A gente também tem seus direitos!

Direitode ficar quieto em seu lugar. Agora caia fora que eu vou trabalhar amocinha para as fotos. E não ouse tentar olhar pelo buraco dafechadura. Ela agora é só minha.

Egoísta!Puxa saco!

Iarapercebeu pelo barulho de passos se afastando e o barulho da tranca da portaque agora ela estava sozinha com a mulher de fala grossa. Sentiu as mãosda mulher, que deviam ser enormes, tocar-lhe a nuca e desafivelar a máscara,retirando-a. A luz a cegou. Demorou a recobrar a visão. E quando istoaconteceu sentiu um horror maior ainda.

Atal de Bebel era uma mulher monstruosa. Alta, gorda, cara masculina, cabelospretos e presos em um coque acima da nuca, olhos enormes e pouco repuxados,sobrancelhas grandes e grossas, masculinas se podia dizer, nariz achatado,boca com lábios grossos contornando-a. Seios grossos, chatos, apertadospor um sutiã que devia ser enorme. Nádegas largas e grandes.O vestido, tecido preto com bolinhas brancas, descia-lhe até o tornozelo.

Muitobem! Vamos lhe dar um tratamento de primeira!

Porfavor, minha senhora! Tenha piedade de mim! Deixe-me sair daqui!

Amulher, que molhava um pano em uma pequena bacia, parou repentinamente oque fazia e olhando enviesado e ferozmente para Iara exclamou em um tom devoz baixo:

Euse fosse você, calava esta sua boquinha de chupar cassete de filhinhode papai.

Iaraapavorou-se! Mesmo assim resolveu insistir na que pensava ser sua últimachance.

Porfavor, senhora! A senhora é a minha única esperança.A senhora é mulher e sabe o que estou passando! Misericórdia!Deus a recomp... Aaaaai!

Umviolento tapa em sua face direita quase deslocou seu pescoço. De imediatoum soco na boca de seu estômago a deixou quase inconsciente e sem fôlego.

Mandeivocê calar a desgraça desta sua boca. Deixe-me trabalharem paz, filha de uma grande puta. Quem manda você ser gostosa ese oferecer para todo mundo. Agora agüenta. E prepare-se para asua iniciação. Seus buracos serão todos abertos,preparados para transar dez vezes por dia. Palhaça!

Eentão, Bebel? – alguém falava enquanto abria a portae adentrava na sala.

Tudobem, Patrão!

Iara,pela primeira vez, vislumbrava o vulto do causador de toda a sua desgraça.Forçou mais a vista e pode ver um homem meio loiro, cabelos curtos,cara retangular, olhos negros, miúdos, sobrancelhas finas, nariz afilado,boca pequena, lábios também finos, pescoço como pomode adão proeminente. Alto, magro e mãos ossudas. Vestia-seelegantemente com camisa de cambraia branca e calças de poliéstercinza.

Preparemas fotos. Quero manda-las amanhã bem cedo. Depois que você terminarseu serviço, coloque-a de volta no armário. Vigie paraque os rapazes não me estraguem o café da manhã!

Podedeixar comigo, Patrão! Ela estará em boas mãos!O senhor sabe bem disto! – foi falando e acompanhando o homem quesaia da sala.

Possomesmo? Será que você se comportará direitinho?

Patrão! – encenouuma inexistente vergonha

Só tomecuidado com o cabacinho dela, viu? – sussurrou para a mulher, fechandoa porta.

Muitobem criança! Agora nós duas!

Aproximou-sede Iara, pegou-a pela nuca e, sem a menor cerimônia, colou seus lábiosnos dela. Iara sentiu repugnância, principalmente quando e mulher forçoua entrada da língua em sua boca. Cerrou os dentes. Sentiu horríveldor no pescoço apertado pelas pontas dos dedos de Bebel. Iara descerrouos dentes e a língua da outra lhe penetrou a boca levando uma salivagosmenta para dentro dela. Foi um longo beijo, apesar da relutânciade Iara.

Aindasegurando-a pelos cabelos obrigou-a a abrir mais ainda a boca e cuspiu dentrodela. Aproveitando que Iara tudo fazia para expelir a gosma, beijou-lhe novamente,desta vez mordendo-lhe a língua e os lábios.

Bebelliberou a boca e desceu lambendo e chupando o pescoço da garota.

Não!Por favor, não faça isso. Está doendo!

Isso é bom!Muito bom! – e foi descendo até mordiscar e mamar as tetasda prisioneira.

Nãããooo!Não faça isso!

Ajoelhou-see foi lambuzando com cuspe todo o abdome daquele corpo lindo de adolescente,quis penetrar o umbigo. Passou a língua como uma cadela sobre os pelospequenos da região sexual, e chegou à vagina.

-Por favor, eu sou virgem! Por favor, tenha misericórdia!

Amulher olhava alucinada para a moça, ora mirando seu rosto, ora avagina. Aproximou-se e começou a chupar o clitóris, lambeuos lábios da vulva, voltou para o clitóris mamando com volúpia.Passava a língua pelas partes internas das cochas de Iara, para logoem seguida mordiscar e mamar no clitóris já inchado da adolescente,que, enojada daquilo tudo, pedia que parasse.

Derepente a mulher se afastou, levantou-se, rodeou a garota, novamente ajoelhou-se,forçou com os polegares as laterais do rego anal e encostou a línguabem no ânus, lambendo-o, sugando-o, até que enfiou seu dedono pequeno orifício. Iara gritou pela dor causada pela penetração.A homossexual retirou o dedo do orifício anal, rodeou Iara e, na suafrente, enfiou o dedo na própria boca e o sugou. Iara quase vomitou.

Querida!Você é uma verdadeira maravilha. Que coisa mais cheirosa é você.O patrão irá se deliciar com você.

Pare,por favor!

Ea mulher voltou a alisar a pele suada de Iara. Fez questão de absorvercom a língua o suor da garota. Pegou o rosto de Iara com as duas mãose desenfreadamente, alucinada, tornou a encostar seus lábios nos delasoltando cuspe para dentro da boca, mordiscando-lhe os lábios, sugandoos seios, até que...

Passadosalguns minutos, a megera simplesmente falou:

-Meu amor! Vamos agora torna-la uma rainha para as fotos.

VINTE E TRÊS

Conformecada um ia saindo, era entusiasticamente recebido pelos familiares, entregritos, choros, abraços, agradecimentos ao Altíssimo, ao mesmotempo em que eram assediados pelos poucos repórteres e suas inúmerasperguntas.

Omurmurinho somente diminuiu com a saída de uma maca transportandoo corpo de Margarida, envolta em um lençol. Houve até um certoconstrangimento por parte de todos quando um repórter menos éticoe sensível pediu que tirassem o invólucro do corpo para quepudesse fazer uma foto. Evidentemente que não foi atendido pelos policiaisque carregavam a maca. O conglomerado de pessoas foi se dispersando aos poucos,até que a Rua Christiano Olsen ficou completamente vazia.

Ospoliciais, principalmente os oficiais, haviam saído do local, pulandoo muro do fundo do quintal e saindo pela casa que dava acesso à RuaDuque de Caxias. Adentraram em uma viatura que partiu velozmente.

Eram3 horas da madrugada. Na Delegacia de Polícia parecia tudo calmo.Parecia...

Narealidade o grupo do Serviço de Inteligência da ForçaAérea Brasileira, o SIFAB, reunia-se em um dos três quartosalugados no terceiro andar do Hotel Gaspar, na Praça Nove de julho,e que ocupava toda a ala do quarteirão, de esquina a esquina, ficandoos referidos quartos numa situação em que os oficiais podiamobservar a Praça e, principalmente, a Delegacia de Polícia,onde sabiam trabalhar espiões da quadrilha de seqüestradores.

Emum dos quartos, a parafernália de Corte Real e sua eletrônica.Em outro quarto hospedavam-se Tenente Otelo, bem como, Tenente Renato Marzagão,com os materiais usados para cada uma de suas especialidades devidamentearrumados e separados. Em um terceiro, ficava o Capitão Rogérioque, de vez em quando, recebia a companhia do Coronel, uma vez que este usavamais a casa pertencente à Fazenda Araçatuba, uma mansãona Rua Carlos Gomes.

Aagitação entre os oficiais era muito grande. Cada um corriana preparação de seu material ou no desempenho de sua função,como o caso do Capitão Rogério.

Opessoal já está chegando aqui em Araçatuba? – operavaum SSB, da AJ Eletrônica, o mais sofisticado equipamento de transmissão,completamente protegida contra escutas clandestinas através deum sistema de distorção de voz.

Capitão,o senhor já pode falar com a equipe. Eu os coloquei na linha detransmissão.

Obrigado!Alo, papa tango, Chile, Brasil, Paraguai!

Papatango respondendo!

Sualocalização!

Aproximaçãoem 15 min, 30º Longitude Norte 45º Latitude Oeste, teto de6.000 pés, velocidade de 250 km/h.

Vocêsdescerão em uma Fazenda. Agasalhem-se em um grande galpãoque lá existe. Estaremos lá dentro aguardando-os. Felizaterrissagem.

Ok!Câmbio e desligo!

Rogério!Aqui estão todas as propriedades da Aliança. Carlão!Observe as condições mais difíceis de aproximaçãoentre estas localidades.

AFazenda da Água Limpa. Cara! A morte daquele rapaz... Tomáz!Aconteceu na estrada para a Água Limpa. – comentou Renato

Isso!Esta é a sede da Aliança. O proprietário da Fazenda,segundo os documentos, é um tal de Amadeu que na Aliança é ChefeAdministrativo.

Ora,um Chefe Administrativo com uma gleba de terras com 150 alqueires? -sugeriu Otelo

Elesnão chamariam a atenção para este local. – pensoualto Rogério

Eiso que faremos! – decidiu Adalberto. – O esquadrãoA vai se aproximar bem de madrugada pelos flancos da Fazenda. Vamos invadi-laatravessando o córrego neste ponto. Otelo, você e o Renatocomandam o esquadrão. São fuzileiros de elite, exímiosatiradores. Agora sim! Atira-se primeiro para depois perguntar.

Rogério!Você concentra a sua ação na sede da empresa, aquino Edifício Araçatuba. A ordem judicial saiu em seu nome,não foi? Utilize os homens do Capitão Homem de Melo.

Sim!Está em meu nome! Quebrando tudo, né?

Apreendendotudo, seria melhor. Agora, se algum safado se meter a besta peça-lhedesculpas depois de o cumprimentar com uma bala. O Corte Real lhe fará companhia.

Carlão!Você vem comigo. Vocês se lembram de um lugar determinadopor aquela engenhoca do Corte Real, o tal de sinalizador que ele colocounaquele Chrysler?

Quandoum grupo deles seguiu para a estrada de Jales? – lembrou Rogério?

Istomesmo! Eu sobrevoei aquele lugar um dia destes e ele é totalmentecoberto por um matagal fechado. Usei um "Paulistinha" de treinamento,sobrevoei o local umas três ou quatro vezes. Com muita atençãovocê percebe um telhado velho no meio do mato. Perto tem uma olariae eu percebi que o local fechado pode estar ligado à olaria poruma estrada ou trilha. Não há uma outra saída paraa tal fabriqueta de tijolos. E convenhamos nós: uma Olaria distantede qualquer rio – o Tietê está distante dela uns 40quilômetros – ou córrego?

Será que é mesmouma olaria ou forno de cremação? Vocês se lembramde que acusaram o desaparecimento de uma tal de Carolina Ferreira Mattoso,conhecida por Caroline. Nunca foi encontrada. A olaria seria uma boaexplicação para o seu desaparecimento e o de tantos outros. – acrescentouCarlão.

Eela era uma prostituta. Mais um elo muito forte. Pois bem! Carlãonós vamos para lá. E eu quero um ataque total, imediatoe eficaz. O mais difícil é o pequeno gramado que cercaa casa. Precisamos ser muito cuidadosos, e bastante eficientes. Se Iaraestiver lá, ela não terá uma segunda chance.

Rogério!O Nelson Trivilin está vindo em uma outra aeronave com mais gente.Eu já os avisei para descerem em Andradina. Quero que ele vá até aquelafazenda visitada por um grupo da alta cúpula da Empresa, mesmodeixando os japoneses na cidade.

Ondecrucificaram aquela moça? Eu não gosto nem de me lembrardo estado em que deixaram aquela menina.

Peloslaudos periciais e as fotos que vocês tiraram deu para perceberque a crucificação foi o mal menor que ela sofreu. Porisso mesmo, turma, sem vacilo. Estamos lidando com animais e nãocom gente. Nada de escrúpulos ou sentimentalismos na hora de embarcaralguém para o andar de cima. Atirem primeiro e depois perguntemquem era o indivíduo. Gente de bem não ficaria perto destacorja.

Coronel,e como chegaremos até a tal casa onde possivelmente estará Iara?Um pelotão certamente fará algum barulho e a qualquer sinalde nossa presença eles a liquidam. O senhor sabe que não é fáciluma tropa, carregando armamento pesado, andar pelo mato no mais completosilêncio, ainda mais que teremos de cercar a casa.

Porisso mesmo é que a nossa missão não será muitofácil. A abordagem será feita por você e por mim.Levaremos tão somente uns dois ou três soldados no máximo.Os outros entrarão depois.

Esem saber quanto são?

Perfeitamente!E ainda por cima não poderemos estar pesados. Levaremos armamentosimples e eficaz. Uma faca é imprescindível, viu Sr. Otelo!

Porisso não! Aqui estão seus apetrechos. Verifiquem e critiquem!

Eramduas mochilas pequenas para serem transportadas na cintura. Cada uma continha:uma metralhadora portátil Uzi, uma pistola Taurus 938, muniçãoem grampos pronta para inserir-se nas respectivas armas, todas com pontaoca, uma faca de caça com ponta serrilhada, uma máscara delã preta e um par de luvas também pretas.

Pelomenos para isso você presta! Coronel! Ele quer me agredir! – brincavaCarlos Andrade.

Rogério!Vamos imitar os bons filmes de suspense? Cronometragem e sincronia sãoas palavras chaves desta ação. Por isso não permitimosa notícia sobre a morte de Margarida. A vida de Iara está garantidaenquanto garantirmos de que o tal Chefão não saiba do queestá se passando e de que já sabemos de suas tramóias.

Evocê tem certeza mesmo de que ele ainda não sabe? Duvido!

Comlicença, Coronel! – uma voz feminina

Pois...Pai do céu! O que vem a ser isso?

Que é isso,meu pai?- exclamou Rogério

Mãããe! – espantou-seCarlos Nascimento

Eunão acredito! – era a vez de Otelo

Osoutros se limitaram a esbugalhar os olhos e a ficar mudos.

Acompanhadospor um sargento da aeronáutica, estavam parados na porta do quartouma mulher e dois homens.

VINTE E QUATRO

Abolinação foi natural durante o banho com sais aromáticosna banheira para hidromassagem. O que mais a incomodava eram as algemas apertadasque lhe prendiam os pulsos nas torneiras. A bucha enorme usada para espalhare espumar o conteúdo aromático da miscelânea de produtosmisturados à água lhe confortava pela maciez e por estar lhedando a sensação gostosa de estar se livrando da baba de Bebel.

Retiradanua da banheira e permanecendo em pé, teve seu corpo enxugado poruma felpuda toalha branca, também manuseada por Bebel. Novas bolinações.Novos afagos sensuais. Insensível Iara imaginava as horas. Era dia?Era noite? Quanto tempo estivera naquelas pilastras? Onde estava? E aquelacasa? Parecia velha, pelo menos pelo forro daquele cômodo! Mas, e abanheira de hidromassagem? Que estava nas mãos dos seqüestradoresde mulheres, isso não precisava ser muito inteligente para percebe-lo.

Demaneira brusca foi colocada em uma poltrona com braços, nos quaisseus pulsos foram presos por tiras de couro preto, afiveladas tãoapertadas que lhe causavam dores. O secador foi ligado. Barulhento, destesque parecem capacetes de filmes de ficção científica.Bebel sumiu de seu ângulo de visão restrito pelo aparelho debeleza. Nojenta! Como existia pessoa tão porca. Bruta, masculinizada,lembrava bem aquelas megeras dos filmes sobre a Gestapo. Só faltava-lheo uniforme da organização nazista. Só que os filmesnunca mostraram mulheres alemãs lambendo ou praticando sexo com outrasmulheres. Arrepiava-se toda de asco ao lembrar da língua de Bebeldentro der sua boca. "Meu Deus, que coisa mais horripilante, mais nojenta!".Sentiu-se cansada. Quase adormeceu com a monotonia provocada pela constânciado alto som do secador.

Muitobem! Vamos agora tratar desta linda carinha de anjo. – era Bebelque riu com o sobressalto da menina.

Seucabelo ficou muito bonito com um lindo rabo de cavalo e franja, tãoem moda entre as adolescentes. Evidentemente que estoicamente suportou aosviolentos puxões de seus cabelos em nome de um suposto pente estragado.

Detestouao ter seu rosto encharcado com "Água Velva", uma loçãopós a barba, masculina, mesmo a mulher comentando ser um santo remédiopara os poros. E o pior era que havia observado no toucador produtos como:Revlon, Helena Rubinstein, Elizabeth Arden e Estée Lauder, Batom vermelhobem forte realçando-lhe os finos lábios; Creme C Pond's passadocomo amaciante, o rouge lhe deu uma coloração mais intensa à pele.

Sentiu-seuma prostituta. E das mais rameiras. Viu-se preparada para o sacrifíciosexual em que ela seria imolada. Voltou-lhe o terror. Mais ainda quando viua megera apreciando o resultado de seu trabalho com um sorriso clássicodaquelas que estão se deliciando com a premeditaçãodo imediato sofrimento alheiro.

Foiretirada da poltrona, sendo os seus pulsos algemados, um ao outro. Sentiu-setremendamente humilhada quando a mulher lhe colocou uma coleira e a puxoupela corrente. Acompanhou-a tropegamente.

Viu-senua, algemada, no meio de uma grande sala, circundada por vários homens,todos com os olhares cobiçosos e fixos nela. Fechou os olhos. Silênciototal, respirações ofegantes. Ouviu:

Entãomorreu? Filhos de uma prostituta rameira! Depois voltaremos a nos falar.Até breve! Olhe! Cuidado redobrado com a sede. Ponha vigilânciadobrada. No escritório tambpem. Tchau!

Algumacoisa mais grave, patrão?

Nadagrave! Apenas que o nosso contato foi bruscamente interrompido.

Qual?

Amadeu...O seu contato... O da tal de reunião... Escafedeu-se... Finada!

Precisamosentão...

Querida!Você está simplesmente deslumbrante!

Avoz era já sua conhecida o que a fez lembrar-se do homem meio loiroque havia lhe "visitado" quando nas estacas e que, logicamente, era o chefede tudo.

Bebel!Escolha para ela um vestido dos mais bonitos. Transforme-a em uma lady.Quero algo bem sensual, mas eclético. Deixe as partes mimosaspara serem mostradas tão somente no ensaio com ela nua. E vamosagilizar isto porque lá pelas oito eu já quero ter enviadoum portador até o "representante comercial" estrangeiro.

Simsenhor! O estúdio já está pronto. As fotos delapelada vão ser feitas agora. – e puxou Iara pela correntepara uma sala contígua.

Patrão!A menina é mesmo um pedaço de mau caminho!

Masnão vai ser comida para o seu bico. Mantenha-se na linha, negrão!Alguma notícia da cidade?

Nãosenhor! A estas horas a negrada está toda dormindo. Aqueles indivíduosnão se movimentam nadinha à noite. Nós os vigiamose eles entram para aquele hotel e lá passam a noite.

Você temcerteza disto?

Sim!Eu e o Amadeu já varamos várias noitadas por lá enão se vê movimento algum.

Ea tal reunião? O que aconteceu? Confirmaram agora mesmo a mortede Margarida. Já sabem o que aconteceu exatamente?

Simchefe! Ela se desesperou na hora das perguntas. Cá entre nós,ela morria de inveja da tal loira chamada Mércia. Segundo o nossopessoal, apresentaram uma gravação dela conversando como Amadeu e aí, ela...

Distotudo eu já sei. Quero exatamente saber se ela deu com a línguanos dentes, se ela confessou alguma coisa importante.

Patrão!Ela não teve tempo de falar "AH!". Diz que o tiro foi dado bemno meio da testa dela.

Epor que não tiraram foto deste tal de Coronel?

Nãoteve jeito. Os nossos homens se preparam para tirar quando ele estivessesaindo da casa. Só que eles se mandaram pelos fundos. Nãoderam a mínima satisfação para as famíliasque estavam na porta da cassa.

Averdade é que aqueles seis elementos é que estãoem nosso encalço. Ao amanhecer eu quero você lá nacidade. Pega a turma mais da pesada que você tiver. Nãotenha acanhamento. Onde você os encontrar, fuzile-os, mate-os dedia, na cara de todo mundo. O resto a gente acerta depois.

É guerra,Patrão? Não interessa se outras pessoas que nada tiveremcom o caso morrerem?

Euquero resultados! Acabe com todos eles.

Enquantoisto, Iara posava para as fotos. Foram momentos constrangedores e deprimentespara ela. Foi forçada a ficar em várias posições,mostrar seus órgãos genitais expondo-os de forma bem acintosa,pornográfica. Em pé, agachada, ajoelhada, deitada, abrindosua vulva e seu ânus, fotografada de longe e em close, com vaselinasintética simbolizando o esperma humano em volta de sua boca. Deugraças a Deus de tudo ser apenas simulação o que atendia àsdeterminações do tal de Chefe. Apavorou-se ao lembrar-se daspromessas daquele homem e do que ele lhe reservava para o futuro.

Vestiram-lheum traje, anos 50, vestido ainda em moda na alta sociedade, premissa de statusaltíssimo. Era feito em tecido bem leve, todo vermelho, batendo-lhenas canelas; o decote muito singular e modesto. As mangas chegando aos cotovelostornavam-no mais sóbrio. Os sapatos vermelhos combinando com o vestido,com salto Luís XV, tornavam lhe os pés mais mimosos.

ProntaIara assumiu um porte de nobreza. Passou a participar de nova sessãode fotos. Dezenas, centenas, uma infinidade delas. Sentada em uma poltronanobre; em pé, ao lado de um consoler; perto de uma pintura de SalvadorDali; lendo um exemplar da revista "O Cruzeiro"; estirada displicentementeem um belo sofá aristocrático com veludo vermelho sangue emolduras douradas; muitas, muitas outras fotos.

Terminadoo ensaio, Iara voltou, desta vez vestida para a sala cheia de homens. Lá estavamos mesmos. Espere! Faltava o negrão a quem chamavam de Maisena. Apavorou-se!

Querida!Você voltará para seus aposentos – disse o Chefe oque foi seguido por um sorriso sarcástico. – Aguarde notíciasminhas. Vou providenciar com urgência uma resposta sobre seu ensaio.Mas tenha a certeza de que ele já é um sucesso.

Oque você quer de mim! O que foi que lhe fiz?

Calaesta boca, sua infeliz! – berrou Bebel que já se aproximavapara lhe dar uma bofetada.

CalmaBebel! A menina tem suas curiosidades! Leve-a para os aposentos dela.E cuide para que ela não queira sair de lá.

Simsenhor!

Deixe-atrajada! Quero ter eu mesmo o prazer de despi-la, mais tarde.

Iarafoi literalmente arrastada e colocada dentro do pequeno armário embutido.Seus punhos foram presos por algemas e correntes a argolas fixas nas paredeslaterais do acanhado móvel. Antes de se retirar Bebel não deixoupassar a oportunidade. Deu-lhe tremendo soco na boca do estômago euma bofetada no rosto.

Foineste exato momento que ouviu a correria e um grito do Patrão. Recuoue se trancou no armário com a prisioneira.

VINTE E CINCO

Mércia!Márcio! – gritaram todos quase que uníssonos.

Tudobem Beto!

Querdizer...

Mérciatrajava um macacão todo preto, mangas compridas, calçava luvase botas de cano alto, também pretas, e carregava uma valise cujo volumedemonstrava estar completamente ocupada; Márcio trajava uniforme igual;o acompanhante deles, pelo contrário, estava todo de branco, com umacamiseta própria para Educação Física, calçade linho 120, tênis branco.

Coronel,eles insistiram muito e até nos ameaçaram, Se fossem estranhosnós garantiríamos, mas...

Possosaber o que representa isto? – estupefato perguntou Adalberto.

Resolvemosabandonar nossa alienação e covardia, Beto.

Como?O que vocês realmente estão pretendendo?

Nãotivemos tempo pára lhe contar. Aquele dia eu apenas lhe disseque estávamos treinando tiro ao alvo. Não era toda a verdade.Mas está aqui o Professor Daniel de Carvalho, nosso instrutorpara explicar-lhes tudo.

Explicaro que? O que vocês tem nestas malas?

Bolsa,Coronel! Bolsa! – abrindo-as, foi explicando – Uma pistolaColt 35mm, um mini lança arpão, cordas, uma sub Uzi, emunição farta.

Coronel,se me permitir... Eles são os campeões estaduais de tirode precisão. Ela é melhor do que ele e ambos são ótimos.E como orientação emanada das Forças Armadas, parapessoas especiais iguais a eles, ministramos com a ajuda do Tenente MárioGonzaga noções de guerrilha e os treinamos para escaladase movimentação nas selvas.

Eonde o senhor viu estas instruções das Forças Armadas? – perguntouCarlão – Eu não as conheço.

Naverdade, elas nos foram passadas pelo próprio Brigadeiro José Trindadede Almeida, após ele assistir a um torneio de tiro ao alvo e noqual, como coreografia teatral, fizemos uma simulação deataque noturno a uma casa ocupada por marginais. Ele gostou tanto dacompetência destes meninos que primeiro nos sugeriu e depois queaceitamos, determinou o treinamento.

Mascom todos estes méritos vocês não vão querernos... – ia dizendo Rogério

Entãoeram vocês. O Zé comentou sobre este fato e ainda mandou-mepreparar para começar a utilizar os alunos da EducaçãoFísica, especificamente deste programa que ele iria divulgar emtodas as escolas do País. Para ele, esses jovens formariam nofuturo a verdadeira tropa de elite da FAB.

Enós gostamos desta idéia. – comentou Márcio

Entãoquer dizer que se alguém houvesse se aproximado de você,Mércia, teriam se dado mal.

Nãosei, Otelo! De mãos limpas eu ainda poderia reagir. Mas tenhomuito medo da traição, como aconteceu com o soldado naquadra de tênis. Por isso Beto, eu gostaria muito de participarda patrulha que irá buscar a Iara. Eu devo isto a ela. Pode crer!Nós sabemos nos virar em situações de risco. Meuspais estão cientes daquilo que pretendemos, daí uma certadescontração num momento tão grave como o que passamos.Eles também confiam em nós.

Mércia!Eu tenho minhas restrições. Aliás, em vez de restrições,escute medo. Vocês nunca nos viram atuar em combate e nósnunca os vimos. Fica uma situação...

Maseles seguem exatamente os comportamentos que vocês seguem, Coronel.Eu fui preparado na Base Aérea do Rio de Janeiro, alémde participar ativamente das aulas do Tenente Mário. Eles fazemexatamente o que vocês fazem.

Bem!Não demoremos, então! Se tiver que ser, será! Mércia,não desgrude um momento sequer de mim. Márcio, você acompanhará oCarlão. – e aproximando-se deste, agarrou-o pela gola edisse – Ai de você se acontecer alguma coisa a este moço,ouviu?

Simsenhor venerável patrão!

Foramaté um outro quarto, entraram e no canto esquerdo da parede do fundoe lateral esquerda, retiraram as tábuas do assoalho e desceram poruma escada de corda, anteriormente fixa em uma travessa presa no teto doandar inferior. Era a dispensa do restaurante do hotel. Foram para os fundose no quintal, por onde saíram, um a um, e por meios diferentes ouseja: uns pularam muros, outros pelo portão da garagem do hotel, outrosainda pelos telhados das casas visinhas, fora aqueles que displicentementese dirigiram até à Rodoviária, como se fossem embarcarem algum ônibus àquela hora.

Unstomaram a XV de Novembro até seu término, local em que umaperua Rural Willys os aguardava; outros contornaram a Rodoviária ena Rua Aquidaban entraram em outro veículo que também entroupela XV de Novembro indo até o seu final, fazendo o mesmo roteiroda anterior: desceram até o pontilhão da NOB, subiram a PrincesaIsabel, adentraram na Marechal Deodoro por onde atingiram a Rodovia MarechalRondon, passando evidentemente pela Vila Nova. No toal eram três carros,partindo de lugares distintos, mas com o mesmo destino inicial: o trevo daRodovia Marechal Rondon. Dali para frente, cada veículo seguiu suarota, um indo para Andradina, outro para a Água Limpa e o terceirovirando na estrada para Jales. Os comandantes iam nas peruas e os comandadosjá os esperavam nas imediações de seus alvos.

Oataque simultâneo teria de começar impreterivelmente às5 horas da manhã. Adalberto olhou seu relógio Omega. Eram 4horas.

Osilêncio era total. O luar tênue de uma Lua encoberta por algumasnuvens, a brisa da madrugada no meio de uma mata espessa, o aroma agradabilíssimodo orvalho produto de sua química ao tocar as flores silvestres transformavam-seem antídoto contra as tensões provocadas pelas perspectivasdaquelas pessoas agachadas e perscrutadoras.

Haviamovimento na casa. Principalmente no andar superior. 5 horas! Todos se movimentaramcada um obedecendo a um roteiro pré-estabelecido. Os principiantespostaram-se, armas nas mãos, apoiados em um só joelho, protegidospor arbustos, ao lado de seus comandantes; dois outros, os oficiais Jeffersone Mattoso, com armas brancas empunhadas, observavam cada um dos guardas quecircundavam a casa, numa vigília sonolenta, despretensiosa pela convicçãode que ninguém ousaria se aproximar daquele recinto; Carlãoe Márcio rodeavam a casa, procurando uma brecha para escalar as paredesaté o segundo andar; Adalberto e Mércia estavam na lateraldireita, pois adentrariam pela porta da frente.

Este,sorrateiramente, corcoveava pelo chão, apoiado nos cotovelos. Propositalmente,quase alcançando a área, fez um barulho com a garganta, o quedespertou a atenção dos guardas. Ao se virarem, nada mais viram:agarrados pelo rosto e tendo a boca tampada pelas mãos enluvadas,tiveram as gargantas decepadas pelos punhais de Jefferson e Mattoso.

Imediatamente,os soldados e Mércia correram no encalço do Coronel que adentrarana casa. No primeiro andar, apenas um homem cochilava em um sofá.Adentrou mais profundamente no mundo dos sonhos ao receber uma pancada nacabeça.

Iniciarama subida da escada lateral que conduziria o grupo ao segundo andar. De repente,no topo da mesma, deram de testa com um homenzinho franzino portando umagigantesca metralhadora. Iniciou-se aí o tiroteio e a gritaria.

Temgente! – berrou o homem antes de receber o tiro bem no peito ecair. A metralhadora ainda disparou para o teto.

OComandante já estava, em um "vôo rasante", dentro da sala atirandopara todos os lados munido que estava de duas pistolas. Bastava vislumbrarum vulto e o gatilho era acionado. Mércia, no portal, atirava maiscompassadamente, aproveitando que os gangsteres se preocupavam com o atiradorde dentro da sala. Jefferson adentrou também no interior do cômodo;os bandidos refeitos dos sustos e se protegendo por detrás de móveis,caixotes, placas, começaram a revidar e um deles conseguiu acertarJefferson que se estatelou de boca no chão, morto. Mattoso retrocedeue Mércia pulou para o interior, protegendo-se no corpo de Jefferson.Atingiu de cheio a cabeça de um nissei tendo a bala Dundum explodidoa sua cabeça. A moça rolou para detrás de uma escrivaninha,protegendo-se, e que ficava a aproximadamente um metro do armárioembutido.

OCoronel viu três homens escapando por uma porta lateral; o poder defogo do inimigo diminuíra; Mattoso finalmente adentrou no recintoe com sua metralhadora dizimou os quatro restantes. Adalberto saiu no encalçodos fugitivos.

Dentrodo armário a cena era terrível: Bebel ouviu e assistiu pelasfrestas da porta do armário ao intenso tiroteio. Ao mesmo tempo emque via seus companheiros tombarem mortos, ela se munia de um facãoe de um revólver calibre 44 deixado em um pequeno suporte do armário.Voltou-se para Iara, que aterrorizada, sem saber o que realmente estava acontecendo,apenas ouvia a balbúrdia dos tiros e gritos fora do armário,mas sempre observando as atitudes de Bebel. Pressentiu para si um fim trágico.Tentou se desvencilhar das algemas. Mas como? E Bebel se aproximando.

Comsuas fortes mãos arrancou de um só golpe o vestido de Iara,enfiou-lhe um pedaço boca adentro, desferiu-lhe um violento tapa naface esquerda, e, com chutes, fez os sapatos da menina voarem longe. Pegou-lhe,com a mão esquerda, seu seio esquerdo, apertou-o, e aproximou a lâminado facão. Iara debatia-se. A mulher pressionava a lâmina. Iaravia seu próprio terror estampado nos olhos esbugalhados da sádica.Doía muito a lâmina penetrando. De repente...

Bebelsentiu uma fisgada nas costas. Iara percebeu uma piscada mais violenta nosolhos da mulher. Bebel quis gritar, mas não o conseguiu. Da boca damulher a prisioneira viu dois filetes de sangue descendo pelos cantos doslábios. Bebel cambaleou. Iara sentiu afrouxar a pressão dofacão e da mão da mulher. Bebel, voltando-se lentamente, vislumbrou,na porta do armário, o vulto de alguém loiro, vestido de preto,braço estendido e uma arma na mão. Iara imediatamente reconheceuMércia o que a fez chorar copiosamente. Bebel tentou ainda avançarpara o vulto. Iara, entre lágrimas, viu a cabeça de Bebel despedaçar-seao receber o segundo tiro desferido por Mércia.

Bebeldesabou. Iara sentiu o cansaço e pendurou-se nos próprios braços.Mércia correu para ampará-la.

-Chegamos! Demoramos, mas chegamos! Pobre amiga! O que você deve tersofrido! – e, chorando baixinho, ao mesmo tempo em que a amparava,procurava estancar o filete de sangue que escorria do corte no seio.

VINTE E SEIS

Vamoslogo, gente! - gritava Dr. Wladimir

Será queo avião estará preparado? – falava Amadeu enquantocorria

Só seo desgraçado do Fernandes não cumpriu o que eu mandei.Eu sempre disse que ele seria a nossa salvação no casode um ataque na casa.

Aindabem que voltei. Se tivesse descido até o pátio teria dadode testa com estes desgraçados. E certamente estaria morto comoaqueles outros dois.

Calemestas malditas bocas e corram, seus incompetentes.

Corriamdesenfreadamente, pulando troncos de árvores caídos pela trilha,desviavam das pedras com muita agilidade, principalmente Maisena com seucorpo grande e largo. Amadeu acompanhava, com a camisa aberta, Dr. Wladimir,permanecendo na frente de Maisena.

Adalbertoencontrara na saída Carlão e Márcio. Após avisa-losda fuga pediu que os mesmos se juntassem a ele. Correram na direçãoda Olaria, única possibilidade de fuga, na perspectiva do Comandante.Mattoso ficara na casa, dando assistência para Mércia e Iarae sondando a possibilidade de algum sobrevivente.

Mérciaachou as chaves das algemas em um dos bolsos da megera morta. Abriu-as, primeiroas dos pés e depois as dos pulsos, segurando o corpo quase desfalecidode Iara. Carregou-a para um canto do armário, sentou-a cuidadosamenteescorada na parede e pôs-se ao se lado. Iara escondeu o rosto no pescoçode Mércia e liberou suas angústias, seus temores, sua raiva,em um choro convulsivo, repetindo inúmeras vezes o nome de Mércia.Após algum tempo sentadas, inertes, Mércia levantou-se, foiaté a sala do tiroteio, tirou a calça de um morto e a camisade um outro, trouxe e cobriu a nudez de Iara.

Aochegar à Olaria, Dr. Wladimir dirigiu-se para um galpão. Aoabrir as grandes portas, deu um berro:

Desgraça!Merda! Logo esta miséria? Tinha que ser esta desgraça?

Oque aconteceu Doutor? – chegou esbaforido Amadeu

Quala desgraça Doutor? – inquiriu Maisena

Umfilho de uma puta qualquer deixou para nós o "Paulistinha". Estadesgraça sé serve para passeio ou jogar alguém lá decima.

Doutor!Vamos assim mesmo, porra! Não se tem tempo para reclamações! – faloualto Amadeu.

Palhaço!Só cabem dois! Você não está vendo, seu imbecil!

Umde nós senta no colo do... Aaaahhhh!

Resolvidoo problema, Doutor! – diz Maisena, ainda com a faca enterrada naparte lombar de Amadeu.

Vamoslogo, então! Largue isso por aí mesmo,

Maisenaentrou e sentou-se no banco traseiro enquanto o Doutor assumia o manche dopequeno avião. O motor foi acionado. Negou a primeira partida. Novamenteacionado o motor a hélice girou após uma engasgada do motore um arranque.

Osmilitares ouviram o ronco do motor. Passaram a correr mais e mais, Carlãotropeçou e quase caiu, Márcio só tinha olhos para atrilha, acompanhando a disparada do Coronel. Avistaram as chaminés.Logo depois chegaram no pátio.

Mércia!O que fizeram comigo? Por que tudo isso? – soluçava Iara,agarrada a Mércia.

CalmaIara! Acabou! Está tudo terminado!

Estabruxa! Ela era doente, Mércia! O que ela fez comigo, Mércia,não existe, é inconcebível.

Iara!Olhe bem! O que se passou nesta casa, antes de nossa chegada, não é daconta de ninguém! Está entendendo? Você nunca contará nadaa nenhuma pessoa. Nem a mim. Você passou, você sofreu, eninguém precisa saber como foi. Os detalhistas... Mande-os a merda!Os que a tudo assistiram estão mortos. Ninguém, alémde mim, a viu nua. Preste bem a atenção! Os que a viram,estão liquidados.

Iararecostou sua cabeça novamente no ombro de Mércia, ali permanecendo,ora soluçando alto, ora chorando desbragadamente.

Aaeronave esquentava o motor no início da improvisada pista de grama.Ela correria para o lado oposto ao que estavam os perseguidores. O Coronelcorreu para alcança-la. Neste momento o aviãozinho começoua deslizar pela pista e a ganhar velocidade.

Carlãodisparou a metralhadora. Adalberto atirava com as pistolas. Dentro da aeronaveMaisena deu um grito:

Doutor!Socorro! Fui atingido!

Opiloto tentou achar mais potência no motor. Sentiu-o falhar. Da asaderramava gasolina. O Doutor puxou o manche. O avião levantou o narize começou a ganhar altura. Uma fumaça cinzenta saindo por baixodo motor acompanhava a trajetória do avião. Não conseguiualtura suficiente para sair dos arvoredos. A pequena aeronave entrou pelomato, e, por ser leve, não foi muito dentro, ficando presa nas árvores,toda destroçada.

Adalberto,Carlão e Márcio se aproximaram com a intençãode retirar os feridos e algemá-los. Foi quando Márcio gritou:

Vejam!A fumaça aumentou!

MeuDeus! O avião vai pegar fogo – disse Carlão

Vamoslá, gente! – comandou Adalberto.

Foramimpedidos pelo enorme clarão que se seguiu. O fogo surgiu com suaslabaredas no meio de uma explosão do tanque de gasolina em uma dasasas e logo tomou conta do corpo da aeronave.

Adalbertoainda se aproximou pelo outro lado e viu o Dr. e Maisena tentando se libertardo cinto de segurança e da lataria que os aprisionava ao avião.Ele tentou abrir a porta, mas esta estava emperrada, retorcida. O fogo entrouna cabine. Os homens gritavam desesperados. As labaredas cresciam e os homensse debatiam, lutavam para se libertar. Gritos horríveis ecoavam doavião. O Coronel, diante da ineficácia de qualquer tentativade tirar os pobres diabos daquele inferno, desceu da árvore e assistiudesanimado o avião consumir-se e transformar-se em um monte de cinzas.

-Que morte horrível! – ponderou Márcio

Nadapior das que eles praticaram com várias pessoas, inclusive o Tomáz,a Carolina, a Margarida, e tantos outros. – retrucou Adalberto.

Alipermaneceram até o pequeno veículo transformar-se em um montede cinzas no meio do mato. Todos impassíveis, meditando sobre a vidae a morte, principalmente, as estúpidas e trágicas como aquelas.Pensaram que naquele momento aqueles homens deveriam estar se explicandosobre seus atos e conseqüentemente expulsos da presença de Deuse entregues à Satanás, que os recebia de braços abertose garras afiadas.

Ecomo estará Iara? – lembrou Carlão.

Esperoque a Mércia e o Mattoso a tenham encontrado. – desejouAdalberto. E acrescentou – Vamos dar uma inspecionada neste local.

Inspecionaramvários cômodos da fábrica de tijolos. Nos depósitosnenhum tijolo sequer. Na sala destinada às ferramentas umas duas enxadase um enxadão. Nenhuma pá. A garagem completamente vazia. Emapenas um forno encontraram cinzas. No pátio nada de barro ou carrinhotransportador do mesmo.

Carlão!Cada vez estou mais convicto de que isto aqui nunca foi uma olaria. Querouma inspeção mais profunda e uma análise laboratorialdaquelas cinzas que estão no forno. Vocês vão vercomo se trata de cinzas de um corpo humano.

Adalberto!Não é hora de sabermos como foram os outros? Será queobtiveram sucesso? – questionou Carlão

Você está como rádio?

Sim,eu o peguei com Jefferson, ou melhor, retirei de seu corpo.

Tente!Verifique se o Rolando está livre e com o canal do rádioaberto.

Lá nomeio da pista é melhor. Vou para lá.

Tudobem!

Adalberto!E a Iara? O que você acha? Eu não a vi em parte alguma dacasa.

Rezemospara que ela esteja bem. Olhe! O Mattoso.

Olá pessoal!As boas ou as más primeiro?

Oque lhe for mais difícil de contar! – respondeu Adalberto

Jeffersonmorreu! Recebeu seguramente uns oito tiros!

Eas boas? – pergunta ansiosa de Márcio.

Iaraestá bem.

Graçasa Deus! – gritaram os dois

Machucada,mas está bem!

Coisagrave?

Maispsicológico do que físico. Por isso, eu acho que pode sergrave.

Coronel!O Rogério!

Fala,mano!

Sucessototal, meu !

Emtodas as frentes? Aconteceram baixas?

Emtodas as frentes. Tivemos duas baixas: uma aqui em Araçatubae outra no Timboré. O daqui caiu em uma armadilha na mesa dotal Chefe e o de lá com um tiro de fuzil disparado da mata,revidado e vingado.

Aquitambém tivemos uma baixa. Jefferson morreu na troca de tiros.Salvamos Iara. O tal de Dr. Wladimir morreu carbonizado no próprioavião que se chocou com as árvores que circundam a talde Olaria. Rogério! De olaria não tem nada!

ACavalaria deve estar chegando por ai. Quando Carlão me acionoueu já despachei paramédicos, laboratoristas, bombeirosde resgate, etc., etc.

Tudobem! Estaremos aguardando na casa. Câmbio e desligo. Mattoso, você fiquepor aqui e muita atenção com aquele forno. Acredito queas cinzas que lá se encontram sejam de um ser humano. Assim quechegarem, mandarei os laboratoristas para cá. Gente! Vamos paraa casa?

VINTE E SETE

Deixe-aconosco! – falou um dos paramédicos.

Mércia!Por favor, não me deixe! Pelo amor de Deus! Não saia deperto de mim! – gritava Iara, agarrando-se no pescoço daloira.

CalmaIara! Eu estarei sempre aqui. Calma! Calma! – tranqüilizava-aalisando-lhe os cabelos colados em sua face, escondendo as lágrimasque teimavam em escorrer de seus olhos.

Osparamédicos aplicaram-lhe um sedativo injetável, Logo ela começoua ceder, ficando sonolenta, sonolenta, até que adormeceu. Mércialevantou-se e assistiu a troca daquelas roupas enormes e sujas por um pijamabranco. Viu colocarem-na em uma maca e a acompanhou até a ambulância.Neste instante chegavam Adalberto, Márcio e Carlão. Marcioestava pálido e angustiado.

Comoestá ela, mana? Nada de grave, não?

Fisicamentenão! Psicologicamente, não sei! Deve ter passado momentosterríveis! Está aterrorizada!

Mércia!Será que chegaram a...

Não,Márcio! Mas eu acho que foi pior! Havia uma megera, destas defilme de terror ou de Gestapo... Cheguei bem na hora em que iria cortar-lheo seio direito com um enorme facão!

MeuDeus! E onde está esta desgraça?

Achoque conversando com o Diabo, se é que este a aceitou no Inferno!

Efoi você quem a enviou para o Satanás?

Oi,Beto! Que bom te ver! – e correu para os braços do Coronel,recebendo um aconchegante abraço e um reconfortante beijo singelona testa.

Você nãome respondeu! Foi você quem a enviou para o Satanás?

Uhn!Uhn! Foi necessário!

Credoem cruz! Foi você quem fez aquele estrago todo na gordona? – eraCarlão que se aproximava do grupo após verificaçãono interior da casa.

Tafeio, Carlão?

Nãotinha jeito para piorar a cara da megera pelo que restou de sua cabeça.Coronel! Oito marginais eliminados na sala, uma no armário, trêsna cozinha, e nós juramos – não é mesmo Márcio- que não sabemos quem fomos que os eliminou, dois no pátio,três na Olaria. Total: 16 maus elementos que saíram de circulação.

Foipouco! Ainda não compensou a morte de Jefferson. – ponderouAdalberto.

Pessoal! – avisouMattoso, que acabara de chegar – Vamos dar no pé que o batalhãoda imprensa está chegando. Há um helicóptero nosesperando na Olaria.

Todosse retiraram, deixando a limpeza para os especialistas no assunto. Para darsatisfações à imprensa foi designado o Tenente Claudionor,que comandava a perícia do local. Deveria contar o milagre sem declararo santo, ou santos.

Aochegarem em casa Mércia e Márcio foram recebidos com afetuososabraços por parte dos pais. Nunca haviam deles escondido os seus treinamentose a vontade imensa de participarem da FAB, principalmente depois de todasas reformas que sofrera. Estavam fazendo Universidade apenas com a finalidadede adquirir um diploma, uma qualificação mais adequada paraseus objetivos: serem militares.

ImediatamenteMércia ligou para a Casa de Saúde Santa Teresinha, para sabernotícias de Iara. Pediu para falar com os Drs. Raposo e Barbosa. Conversouum longo tempo. Perguntou várias vezes, silenciou outras tantas. Porfim, desligou o telefone. Ficou pensativa.

Quermatar os outros de curiosidade? Desembuche logo! O que falaram? Comoestá Iara? Alguma coisa irreparável? O que...

Oooooh!Calma! "Degavar"! O santo é de barro!

Minhafilha!

Tabom, pai! Ela está bem! Nada irreparável, seu trouxa! Suanamoradinha só precisa de um bom apoio moral!

Oh,pai! Olhe ela me azucrinando! Depois que lhe der uma cacetada, vocêsreclamam.

Aique medo! Graças a Deus ela está muito bem fisicamente.Nenhuma violação, nenhuma cicatriz. A do seio desaparecerá logo,logo!

Graçasa Deus! – falou Márcio – E isto também se devaa você, maninha! Como eu me orgulho de você!

Nadafiz, seu bobo! Se fiz alguma coisa, não foi nada mais do que você fez.Aliás, parabéns pela sua primeira batalha real!

Epara você também – e se abraçaram ternamente.

Passaramboa parte do dia narrando suas aventuras para os pais. Quando souberam queIara havia acordado, tomaram emprestado o carro do pai e foram até ohospital. Na entrada, todos os amigos estavam lá: Tereza Cristina,Décio, João Gordo, Walter, enfim todos eles. Foi um congraçamentointenso. Abraços e parabéns em profusão. Comentáriosalegres, piadinhas, alegria total.

Entrarampela porta principal do nosocômio, dirigiram-se para a porta com molas,subiram a escada e chegaram no apartamento nº 12. Sorrateiramente abrirama porta. Lá estava ela. Deitada, coberta por alvos lençóis,braços desleixados prolongando-se pelo corpo, cabelos escorridos até osombros, uma camisola branca até o pescoço. Parecia adormecida.Estavam em sua companhia seu pai Sr. Francisco e sua mãe D. Conceição,dois portugueses simples, sociais, alegres e muito amigos dos amigos de Iara.

Aoverem os irmãos, levantaram com um enorme sorriso nos lábios,e os abraçaram na entrada do quarto. Ambos, agora choravam, agradecidospela salvação da filha. Quando Márcio afastou-se deSr. Francisco, percebeu Iara acordada e um lindo e meigo sorriso no rosto.Não resistiu. Aproximou-se da cama, sentou-se e abraçou commuita ternura a menina. Esta também o agarrou com força. Eassim ficaram por vários minutos, instante em que suas lágrimasse misturavam, lágrimas de alegria, de amor, de consentimento, depura felicidade.

Eih!Posso abraçar a dodoizinha também? – perguntou Mércia.

Claro,Maninha, você pode! Você tem todo o direito.

Eas duas amigas trocaram um caloroso e emocionado abraço acompanhadode vários "Muito obrigado" por parte de Iara.

Mércia!Onde está o seu Beto? – perguntou Iara, já com Márciosentado ao lado dela com as mãos entrelaçadas nas dela.

Esperaai! Beto de quem? – perguntou Márcio, simulando uma estupefação.

Só mesmoum néscio para não perceber que aqueles dois se amam. Duvidoe o dó que esta ai não carregue um trem cheio de... Digamosesterco... Por causa do tal de Coronel.

Querida!Não fique alimentando sonhos para os outros. Eu e o Coronel Adalbertosomos apenas bons amigos, nada mais! Bons amigos!

Tabom, Mércia! Vou dizer que... Que acredito! Maninha! O que aconteceucom aquelas pes... Aqueles maníacos?

Graçasa Deus, todos... Do que mesmo que você me chamou, Iara?

Desculpe-me,Mércia! Posso lhe chamar de maninha? No meu coração é istoque você é para mim.

Claro...Maninha! – Mércia enxugou as lágrimas que brotaramde seus verdes olhos. Era muito terno o momento. Márcio afastou-separa que as duas pudessem conversar melhor.

Oque aconteceu com todos eles? – insistiu Iara

Parate deixar bem segura, maninha, ninguém que lhe viu nua, ou tocou-aestá vivo para contar a história. Pode ficar tranqüila.Não sobrou "niente". Ninguém sabe, além de você,como é o seu corpinho, nem o que lhe fizeram por lá. ODr. Raposo e o Dr. Barbosa já atestaram a sua virgindade. Elesnão tiveram tempo para usá-la.

Obrigada,maninha! Como é bom ouvir isto de você. É por issoque nos entendemos tão bem. Os outros ficam com rodeios. Você não! É direta!Diz logo o que se quer ouvir.

Você precisadisto, não é maninha?

Mércia!Ajude-me! Eu vou precisar muito de você. Será muito difícilsuperar tudo o que passei. Só mesmo com a ajuda de uma amiga comovocê terei chances para voltar ao meu normal. Você me ajuda,não ajuda?

Claro! É evidente!Maninha, nós vamos estabelecer uma coisa. Nunca esconderemos,uma da outra, o que estivermos sentindo, seja este sentimento bom ouruim. Temos que ser bastante francas para que possamos nos ajudar. Euestarei sempre pronta para dialogar com você, seja a hora que for,na situação que estiver. Tudo bem?

É porisso que lhe adoro! E o Beto? Como vocês estão?

Nãonos vimos depois do ataque. Viemos para a cidade e cada um foi para oseu canto. Acredito que ele logo deverá reaparecer. Acredito queele virá visitá-la! Bom, pelo menos espero!

Ea Universidade? Você irá continuar, não vai?

Claro!Nós iremos continuar. Afinal, último ano... Olha, vamoslevantar logo desta cama, mocinha. Precisamos voltar à nossa vidinhanormal. Você terá apenas dois ou três dias de mamata.Depois venho e arranco você desta mordomia, ta bom!

Tabom, Chefe!

Chefenão! Maninha mais velha!

Ambasse despediram rindo aos cântaros.

VINTE E OITO

Trêsmeses. Longos, tristes para uns, alegres para outros, péssimos paraestes, ótimos para aqueles, doentios para uma minoria, saudáveispara a grande maioria... Enfim! Longuíssimos três meses...

Muitaspessoas detidas para averiguações, ficando a maioria, a grandemaioria delas permanecendo na cadeia. Provas irrefutáveis extraídasdos arquivos da Aliança Representações, Pecuáriae Exportações: registro de pagamentos por serviços prestados,autorizações para uso dos veículos da Empresa, ordensnominais para abastecimento em Postos de Gasolina e Aeroportos, relatóriosassinados, confissões espontâneas ou induzidas, imóveisem nome de funcionários ou de pessoas que nem sabiam tê-losem seus nomes, e, o mais caracterizador da vida ilícita da Empresa:uma despesa muito acima do seu superávit declarado, aliado a um patrimônioimpossível de se adquirir em tais circunstâncias.

Pessoasaté então ilibadas presas por ativa participaçãonos escusos lucros da Aliança, como o Deputado Federal Gualberto Lima,detido sem nenhuma burocracia ou Fórum privilegiado, acusado de favorecimento à Empresacom isenções de Impostos; o médico Augusto Farnari,pediatra e pecuarista, acusado de pedofilia sedada, com o intuito da exportaçãode menores para a prostituição européia; o ex-prefeitoda cidade Augusto Faro, acompanhante de várias mulheres contratadaspor ele para trabalharem como domésticas na Espanha, na realidadeem prostíbulos espanhóis, e tantas outras. Foi um limpa geral.E, segundo acordo firmado entre a FAB, a OAB e o Ministério Público,sem regalias de prisões especiais para ninguém, ou concessãode habeas-corpus. Todos aguardariam o julgamento em regime fechado, sem fórumprivilegiado ou celas especiais.

Iarasobressaltava-se nos primeiros dias, após sair do Hospital. Acordava,altas horas da noite, aos gritos de socorro, mesmo quando passou a dormircom seus pais no mesmo quarto. Não saia de casa para nada. Era umareclusa em seu próprio lar. Ficava horas sentada na penumbra da salade visitas, quieta, distante, às vezes soluçando baixinho,outras completamente inerte.

Asvisitas e conversas constantes dos amigos que a visitavam, principalmenteMércia e Márcio, fizeram com que lentamente fosse se descontraindo,de vez em quando emitindo um leve sorriso diante das palhaçadas aprontadaspelos meninos, com supostas e dramatizadas brigas.

Como passar do tempo e por insistência de Mércia fez sua primeiraaparição pública após os incidentes: foi a umasessão no Cine São Francisco. Tiveram de dsviar pela TorresHomens para alcançar a Carlos Gomes. Ela recusou terminantemente passarpela esquina em que havia sido seqüestrada.

Demoroumuito para voltar ao normal o que requereu uma grande paciência e umaprofunda amizade de Mércia empregadas em conversas, passeios e atividades,principalmente as da Faculdade. Padre Mário Pellatiello garantiu-lhea freqüência e pediu a assistência dos professores atravésde Mércia, única companhia espontaneamente aceita por Iara.

Agora,ela já havia retornado ao seu cotidiano. Participava das aulas, passava,ainda receosa, pela esquina onde sofrera a violência, encontrava-secom a turma na pracinha, ia ao cinema, à praça. Apenas um resquícioainda lhe ficou: nunca saía sozinha.

Márcioquase tumultuou sua vida. Preocupadíssimo com a situaçãovivida por Iara dedicou-se de corpo e alma à recuperaçãoda menina. Diuturnamente estava ao seu lado. As aulas e os estudos passarampara segundo plano, as outras amizades quase esquecidas.

Mas,algo estranho aconteceu. De repente, num átimo, voltou aos estudose com duplicada dedicação. Todos estranharam esta atitude.Não que esquecera ou se despreocupara de Iara, pois continuava acompanhando-asó que agora tendo algum livro de Física ou Química,debaixo dos braços. Todos estranharam sua atitude.

Só elesabia o porquê! Somente ele! Ecoava ainda em seus ouvidos o teor dotelefonema que recebera. E de quem recebera. Era a oportunidade de sua vida.E ele a agarraria com unhas e dentes.

Mércia!Dedicada, amiga, irmã, conselheira, sempre com aparência alegre,sempre com aparência meiga, sempre com aparência... Aparência...Aparência... Aparência! E ela? E o seu interior? E a sua essência?O que lhe acontecera? O que fizera? Por que a abandonaram: Qual havia sidoo seu crime? Nenhum telefonema... Nenhum comunicado... Nada! Simplesmente...Nada! Desaparecera por completo... Três meses... Desaparecera... Mas,por que? Ele descobrira algo sobre ela que nem mesmo ela o sabia? Esta angústiaquase a matou. Pensou mesmo em desaparecer para sempre deste mundo.

Adedicação à Iara a auxiliou, e muito, em superar o caosexistencial em que se aprofundou. Depois o retorno à Faculdade foioutro amparo existencial. Menos mal que ninguém lhe perguntava oucomentava sobre ele perto dela. Pareciam evitar o assunto quando ela estavapor perto. E ela procurou não deixar transparecer a ninguémos problemas que vivia. Com coisa que ninguém os percebera.

Eagora estavam prestes a receber homenagens pelos feitos heróicos praticados.Sentia-se vazia, desmotivada e se ali compareceria ainda duvidava. Tudo quelembrasse aqueles sublimes momentos vividos com o militar precisavam serevitados. Machucavam-na demais.

Iara,eu acho que não participarei das solenidades promovidas pela Prefeitura.- Mércia queria mais era uma orientação da amiga.

Porque Mércia? Se quem mais merece as homenagens é você.

Nãosei, Iara! Eu acho que não me sentiria bem na reunião.Se fiz o que fiz não foi para receber alguma coisa. Foi únicae exclusivamente por sua causa.

Eusei disso! E sempre lhe agradeci por isto! Mas, eles querem homenageá-la,agradece-la publicamente. Seria descortesia de sua parte não comparecer.Já pensou? Todo mundo reunido e aparece um representante da homenageada,ou, pior ainda, não aparece ninguém? Credo!

É você temrazão. Seria muita falta de educação o que comprometeriameus pais. O jeito é ir!

Malque me pergunte... Por que você está tão avessa aesta reunião?

Nada!Eu nunca gostei de atos públicos, daqueles que se elogiam as pessoascara a cara. Eu fico sem jeito. Calcule se alguém se puser a meelogiar. Eu morro de vergonha. Mas... Paciência!

Eela compareceu. As solenidades aconteceram No imponente prédio daCâmara Municipal de Araçatuba. Mércia sempre sentirauma emoção diferente, indecifrável, gostosa, quandochegava diante daquela escadaria de mármore e principalmente no magníficojardim existente na lateral do prédio. Mesclavam-se o perfume dasplantas e o odor distante do cloro que emanava da piscina do AraçatubaClube produzindo sensações inebriantes, eternas, nostálgicas,inesquecíveis.

Seuspais a acompanhavam. Na varanda e na escadaria muitos grupos familiares seformavam. A cada chegada, abraços efusivos, cumprimentos de uma sociedadefraterna e reconhecida. O congraçamento era completo. Sorrisos, gargalhadas,tapinhas nas costas, abraços efusivos, referências elogiosas,comentários hiperbólicos, tudo ali acontecia. Os homenageadospreferiam separar-se dos familiares e se agruparem.

Noauditório ocupavam as primeiras cadeiras. Quando Mércia e Márciochegaram, encontraram um auditório lotado, com cadeiras reservadaspara os familiares que ainda estavam do lado de fora, e ocupando suas respectivascadeiras: Iara, Mattoso, Renato, Carlos Nascimento, Otelo, Corte Real, eo pai de Jefferson. Estranhou!

Ondeestão o Coronel e o Capitão Rogério?

Devemchegar de uma hora para a outra. – respondeu Mattoso, o que sentarana cadeira ao seu lado.

Mérciasentiu um certo desconforto. Aquelas ausências, mais o fato do totaldesaparecimento de Adalberto, provocaram-lhe terríveis suspeitas.Será que... Não! Não era possível! Deus nãolhe imporia tamanho castigo! E a cerimônia iria começar. Elacontinuou distante, pouco ouvindo o que se anunciava.

Senhorase Senhores! Por favos, queiram ocupar seus lugares para o iníciodesta sessão do Poder Legislativo da cidade de Araçatuba.

Oalarido das conversas altas logo se transformou no murmurinho de cadeirasarrastadas, cochichos, tosses... Finalmente o silêncio imperou no recinto.

Senhorase Senhores! Tem esta sessão a finalidade de agraciar pessoas iminentescom um Diploma de Honra ao Mérito e a medalha "Honra Araçatubense".São elas, os participantes da ofensiva contra o famigerado crimeorganizado em nossa cidade e que culminou com a total eliminaçãode toda esta organização. Expressa, antes de qualquer coisa,a nossa eterna gratidão a estes moços e moças, militaresque honram a corporação das Forças Armadas e, emespecial, a dois jovens araçatubenses, paradigmas para a saudáveljuventude de nossa terra.

Entusiásticosaplausos. Mércia, muito distante dali. Preocupaçõesmil! Refúgio? Sonhos acordados.

Epara completar esta mesa, quero ter a honra de receber à portadeste salão o...

Mércia,cutucada por Márcio, voltou à realidade.

...Capitão Rogério Cardoso, coordenador do Grupo de Inteligênciada FAB.

Desapontamentototal. Expectativa frustrada. Quis sair. Chegou a se levantar. Márcioa segurou e para disfarçar passou para a cadeira que ela ocupava ea fez sentar, com um indisfarçável puxão, na que antesocupava. Mércia ficou fula de raiva.

VINTE E NOVE

SolenementeRogério foi introduzido no ambiente acompanhado pelo Presidente daAssembléia Legislativa Municipal que abandonara seu posto, percorreratodo o corredor para acompanhá-lo.

Aplatéia, em pé, o aplaudia e era correspondida por acenos esorrisos do militar. Passou pelos homenageados com o rosto virado para ooutro lado. Mércia considerou isto como um gesto de falta de educação.

Iararesolveu sanar uma dúvida que lhe ocorrera:

CorteReal! Se o Capitão Rogério está representando oCoronel Adalberto, por que não anunciaram esta representação?

Mérciasobressaltou-se com a pergunta. Sim! Iara tinha razão! Por que?

Nãosei, Iara! Devem ter se esquecido de mencionar o fato.

Aliás, – interferiuMércia – por que o nome dele não está sendonem mencionado nesta solenidade? Corte Real! Chega de falcatruas! O querealmente aconteceu ao Coronel Adalberto?

Senhorase Senhores! Dando prosseguimento à sessão, passamos a palavrapara o Exmo. Sr. Prof. Sillas José Venturini, mui digno PrefeitoMunicipal de nossa cidade para que, em nome dos Poderes Legislativo eExecutivo, faça os agradecimentos desta cidade aos brilhantesheróis desta difícil campanha militar.

Umdiscurso afinado, vocabulário rico, politicamente correto; Falavaem nome dos dois poderes. Coisa rara de acontecer. Era necessário,senão a solenidade estender-se-ia por muito tempo. Mércia até quese esforçava, mas não conseguia prender sua atençãoao que dizia seu antigo professor de Matemática. A pergunta sem respostaainda persistia em sua mente. Não era possível que aquela noiteno Clube dos Bancários tivesse sido a única. Que aquela sensaçãoinebriante dos carinhos recebidos, aqueles beijos, néctar dos deuses,o aconchego nos ombros do amado, referencial de proteção, houvessemacabado, simplesmente evaporado, como num gesto de mágica.

Passarama palavra para o Capitão Rogério Cardoso. Despertou ouvindoo militar tecer comentários sobre a brilhante palestra do MonsenhorVictor Ribeiro Mazzei, pároco da cidade, representante do Poder Eclesiástico.E ele falara? O que dissera para ser tão elogiado? Sentiu-se envergonhadapor tamanho desrespeito. Corrigiu-se na cadeira. Sentiu-se desconfortável.Nova ajeitadinha. O capitão continuou sua fala:

Meusamigos! Honra-me sobremaneira participar desta seleta mesa, como Coordenadorde um excelente Grupo de Inteligência. Tenho que lhes confessar,ao mesmo tempo em que lhes peço milhões de desculpas, poissou péssimo orador. Às autoridades constituídas,peço perdão por não cita-las nominalmente, mas sabem,que moram no âmago de meu coração, por tudo que pornós fazem nas lidas diárias e mais especificamente peloapoio a nós emprestados nesta campanha militar. Se aceitei aquiestar é pela importância do evento e mais ainda, por umaproposta que me incumbiram de fazer a determinada pessoa.

Expectativageral. Sobressalto dos homenageados. Angústia de Mércia.

Estaproposta, inusitada nas lides militares, aceita pela cúpula daFAB com aval do Ministério das Forças Armadas e do Exmo.Presidente da República, Marechal Humberto Castelo Branco, nãose caracteriza por nepotismo, apadrinhamento ou qualquer outro tipo desubterfúgio. É tão somente o resultado de, em demonstraçõespráticas, encontrar-se a pessoa certa para o lugar certo. Daí pretender-sefaze-la publicamente, evitando-se assim, as maledicências.

Aangústia de Mércia passou para todos. Eram contidos os gritosde "Fale logo". A demora aumentava a ansiedade.

Ese me permitirem...

Houvemovimentos muito rápidos de consentimento por parte da mesa, dos homenageadose da platéia.

Eugostaria de convidar a Senhorita Mércia...

Ocoração da loira disparou e quase saiu boca afora...

...Para, ao lado e sob o comando do Coronel Adalberto...

Sentiuque sofreria uma vertigem.

...Estudar, planejar e, se possível, implantar e comandar o CorpoFeminino da Força Aérea Brasileira...

Aspernas bambearam e ela desleixou-se de vez sentada na cadeira. Mãoscobrindo o rosto, lágrimas escorrendo, choro convulsivo.

Casovocê aceite...

Todosgritaram, uníssonos: "Ela aceita! Ela aceita, sim!".

Porfavor, senhores! Por favor, acalmai-vos! – pedia Rogério.

Mérciarecompôs-se com um sorriso meio sonso, demonstrando incredulidade,surpresa. E ele estava vivo1 E ela iria trabalhar com ele!

Casoa senhorita realmente aceite o convite, deverá se dirigir até umcerto Simca Chambord estacionado na praça do AraçatubaClube e dar...

Elajá havia se levantado e, em uma desabalada corrida, saído dosalão. Rogério prosseguiu.

Senhores,na realidade o que está se confirmando aqui, e daí a nossaestranha atitude para o convite, se prende ao fato de que o ComandanteAdalberto não pode e nem deve aparecer muito em público.Isto em parte pelas atitudes tomadas por seu grupo de militares na consolidaçãodas mudanças legais que se promove neste país. Sãoinúmeros os inimigos destas mudanças. A maioria formadapor pessoas intelectuais que ocupavam espaços no Governo e queagora estão perdendo seus cargos inúteis para uma democraciareal. Mas hoje, especificamente hoje, sua ausência foi a surpresaque reservamos para Mércia. Há três ou quatro mesesque não se falam. O Coronel estava em uma missão secretano Japão. Estava em um grupo de trabalho da ONU contra a Yakusajaponesa. Daí seu silêncio total. No retorno apresentouo plano para o Corpo Feminino e indicou Mércia para o seu Comando.

Viva!Gritou entusiasticamente Renato, o que incentivou os aplausos da emocionadaplatéia.

Enquantoisso...

Mérciachegara até a praça. Da esquina do clube ela avistou o Simcavermelho e amarelo. Novamente correu, desta vez em direçãoao corro. Estava vazio. Olhou para todos os lados. Deu a volta e buzinouvárias vezes. De cima de uma das árvores:

Poisnão, Comandante!

Palhaço!Bandido! Marginal! Desce que eu quero lhe matar! Cretino! Irresponsável!

Sevocê me prometer que me matará com seus deliciosos beijose abraços...

Descepara você ver!

Adalbertoapenas tocou o chão e se viu envolvido pela garota e silenciado comum forte beijo. Afastaram-se. Agora, um terno e suave beijo, desfrutandoo néctar espiritual, um do outro, trocando energias que só poderiamadvir dos céus. Momento sublime da confirmação do amor.

Porque você me abandonou? – perguntou Mércia, voz manhosa,face colada à dele.

Eununca a abandonei, Mércia! Eu me ausentei! Depois você saberá oporquê, como os que estão na Câmara já o devemsaber. Eu nuca abandonaria o ser que mais adoro neste mundo. A essênciade minha essência.

Beto,eu te amo! Eu te adoro!

Nuncamais do que eu a você! Vamos ao salão? Vamos enfrentar asferas? Quero rever os rapazes. Márcio te contou?

Não!O que ele teria para me contar?

Elevai ingressar na FAB. O convite está sendo oficialmente formuladoagora na diplomação. Eu o convidei.

Entãoele se encontrou com você? E o bandido nem para me dizer que você estavavivo?

NãoMércia! O Carlão passou meu recado à ele. Eu estivetodo este tempo a serviço no Japão. Aprenda e confie. Devez em quando eu somo. Se a notícia for ruim logo, logo você saberá.Se o silêncio persistir é porque estou trabalhando. Você viverá estasnuances muito em breve.

Ensine-melogo. Não quero mais passar pelo que passei nestes longos diasde espera.

Enfrentemosas feras?

Semprejuntos!

TRINTA

Renatorecebia seu diploma e sua medalha, entregues pela autoridade sacerdotal.Os aplausos eram constantes. O militar agradeceu a homenagem em uma brevemensagem falada ao microfone. Desceu as escadas e dirigiu-se para seu lugar.O auditório ficou silencioso a espera do novo ou da nova homenageada.De repente! Um gritinho de surpresa e a explosão de entusiásticaspalmas. Todos olharam para trás, e viram um casal adentrando no salão.A claridade traçava uma auréola impedindo a visualizaçãodos rostos, o que, indubitavelmente, tornava-se desnecessário.

Adalbertopassava o braço esquerdo pelas costas de Mércia segurando-lheo ombro esquerdo e esta, seu braço direito pela cintura dele. Caminharamassim por todo o corredor. Ao chegarem perto dos homenageados separaram-see Adalberto passou a cumprimentar, um por um, abraçando-os efusivamente.Pegou Mércia pela mão e com ela subiu as escadas que os conduziamaté a mesa. Solicitou uma cadeira para Mércia e dirigiu-separa o microfone.

Autoridadesaqui presentes, Prof. Silvio, Monsenhor Victor, Juvêncio, Sr. AlfredoYarid, Presidente desta casa, Professora Eleosina, Secretáriada Educação deste Município, Dr. Orloff Mendes,Meritíssimo Juiz de Direito e demais personalidades cujos nomesno momento me fogem, mas não as lembranças de suas atividadesem prol desta coletividade; Mércia, futura Comandante das TropasFemininas da FAB, minha namorada, minha amada e futura mãe demeus filhos. Sr. Antonio e D. Maria, pais de Mércia, eu os estouapenas prevenindo de minhas más intenções; Iara,vítima de famigerados gangsteres, sofrendo horrores por únicae exclusiva culpa nossa, raptada que foi para nos chamar a atençãoquanto à periculosidade dos marginais e a quem publicamente peçomil perdões pela nossa ineficácia como seus protetores;companheiros de farda que brilhantemente defenderam a causa da justiçae da honra, nosso propósito mais puro e sagrado; lembrançasa Jefferson, pelo heroísmo concreto, sem falsas posturas ou medíocrespensamentos sobre o ato heróico, mas realmente o heróiprincipal desta nossa empreitada; Márcio, cunhado velho de guerra,companheiro que muito nos ajudou no cumprimento de nosso dever; Senhoras,Senhores, conterrâneos, amigos!

Efoi com este tom informal, como em uma conversa com amigos, que ele descreveua operação de resgate de Iara, os resultados obtidos com aaniquilação da empresa Aliança, seu repentino desaparecimento,a sua atuação no Japão, em que, graças àsprovas obtidas junto à Aliança sobre o tráfico de escravasbrancas, conseguiram desbaratar uma grande parte, senão toda, da Yakusajaponesa, receptadora das meninas brasileiras. Falou ainda sobre o projetodas Tropas Femininas, o porquê da escolha de Mércia para Comanda-las.Finalizou pedindo credibilidade para as Forças Armadas, participaçãomais ativa da população junto à polícia local,e críticas construtivas sobre o trabalho da mesma.

Foiaplaudidíssimo pelo auditório. Recebeu cumprimentos da mesadiretora dos trabalhos. Sentou-se ao lado de Mércia que imediatamenterecostou-se em seu ombro, até cerimônia terminar.

Apósos cumprimentos de despedida, desceu acompanhado por Mércia e enfrentouo cerco que foi total. Todos queriam abraçá-los, cumprimentá-los.Os próprios colegas homenageados providenciaram um cordão deisolamento que os conduziu para fora do recinto da reunião.

Nasescadarias mais cumprimentos. De repente:

Muitobem mocinho! Acho que alguém aqui nos deve algumas explicações.Afinal, abusaram da minha confiança, desrespeitaram o meu lartomando decisões que passaram sobre minha autoridade e isto eununca irei aceitar nunca na vida.

Pai!Podem até achar que está falando sério! – replicouMércia

Ué,e eu estou!

Seeu não o conhecesse...

Maria!Estou desmoralizado publicamente pela minha própria filha. Estouaqui defendendo sua honra e,,,

Filhos! – faloua mulher – Que Deus lhes cubra com suas bênçãos.Adalberto, eu estou muito feliz. Muito obrigada pelo bem que você está fazendopara nossa filha.

D.Maria, eu só quero que nos ajude, principalmente a mim para queeu possa fazer Mércia cada vez mais e mais feliz.

Comojá vi que estou sozinho nesta parada, de-me cá um abraço!E cuide muito bem desta menina, senão...

Obrigado,Sr. Antonio! – o abraço foi mesmo muito afetuoso consolidandoo aval dos pais ao namoro da filha com o militar.

Porque estou com a impressão de que fui alijada do seio de minhafamília e fique chutada para escanteio?

Milhafilha! – e a mãe abraçou-a

Bobonae ciumenta – foi o comentário de Adalberto.

Neste ínterim,Márcio saíra do prédio da Câmara, levando Iaraa tiracolo. Foram até a Praça Getúlio Vargas. Sentaram-seno banco, perto de um dos arcos de plantas e com costas para a casa do Dr.Célio Cintra e D. Baby, pessoas muito familiares ao povo de Araçatuba.Márcio correu até a Sorveteria do Sr. Nenê, pegou duasCocas e retornou para o lado de Iara.

Mocinha!Preciso muito falar com a senhorita.

Soutoda ouvidos!

Iara,eu não sei ser romântico. Eu não sei expressar meussentimentos. Eu me sinto um idiota, um imbecil. Mas eu não estoumais me agüentando. Sinto-me muito mal quando estou perto de você enão posso lhe dar pelo menos um aperto de mão, toca-la,falar alguma poesia, dizer...

Márcio!Eu também te amo muito!

Você sabe,eu preciso de alguém que... O que foi mesmo que você disse?

Euo amo muito! Eu també, gostaria de ser abraçada por você.E por favor, não fique com esta cara de bobo. Estou com muitofrio.

MeuDeus!

Estavaagachado na frente dela, levantou-se, sentou-se ao seu lado e a abraçoufortemente e a beijou ternamente.

ObrigadoSenhor! Como eu precisava disto, meu amor!

Iara!Amo-a! Simplesmente te adoro.

Márcio,e quanto ao que me aconteceu?

Eo que lhe aconteceu? Aconteceu-lhe alguma coisa, Iara? E por que você nuncame contou?

Anjo!Eu te venero! Só não sei ainda se o chamarei de namoradoou cunhado. Afinal... A maninha...

Bobona!

Asrisadas dos dois foram o atestado da felicidade que ambos desfrutavam.

Outrolocal, outro ambiente, outra áurea.

Meubom pai, como eu estava com saudades deste lugar, deste momento, de reviveraquele dia. – dizia Mércia recostada no ombro de Adalberto.

Eeu, muito mais. E olhe que eu só estava vendo japonês deolho rasgado e lembrando de seus olhos verdes.

Masficou de "teretete" com meus pais um tempão.

Precisavafazer média com os velhos.

Olhasó o respeito! Velhos? A vovozinha vai passando bem, nãovai? E faça-me um favor!

Oque? Que favor?

Falemenos e aja mais! Aperte-me e beije-me!

Voufazer um esforço concentrado para tal!

Bandido!

Amor!Eu te amo! Saiba sempre disso!

Etrocaram um longo beijo. Tocava "You are my destiny". E eles estavam sozinhosno Clube dos Bancários.

PERSONAGENS

T U R M A

MérciaMaria Tagliaferro

MárcioAntonio Tagliaferro

TerezaCristina Vilasboas

DécioMotta

JoãoCarlos Mendes

JonasAntonio Duarte

IaraD'Ávila Melo Cabral

WalterDuarte Souza Neto

NiltonOrtoloni

M I L I T A R E S

TenenteCorte Real: eletrônica;

TenenteRenato Marzagão: camuflagem e disfarces;

CapitãoCarlos Nascimento: infiltração e aproximação;

TenenteJosé Honório do Amaral, ou Tenente Otelo: armamento;

CapitãoRogério Cardoso: Coordenador Extra-Campo.

TenenteJoão Dias: Diretor do Aeroporto de Araçatuba

SargentoCésar Pereira: atirador de elite

TenenteJoão de Souza: Comte. da Patrulha que captura o carro 35.

CapitãoHomem de Melo: Comte do Grupo de Assalto ao Ed. Araçatuba.

CapitãoNelson Trivilin: Comte do Grupo de Assalto ao Timboré.

TenenteMário Gonzaga de Amorim: instrutor bélico de Mérciae Márcio.

TenenteJorge Lima Mattoso: participante do ataque à Casa da Mata

TenenteJefferson Cordeiro Silva: morto em combate na Casa da Mata.

Tenente ClaudionorVieira: encarregado da Imprensa

AUTORIDADES E MEMBROSDA COMUNIDADE

SillasJosé Venturini – Prefeito Municipal,

Dr. AlfredoYarid Filho: Pers, da Câmara Municipal.

Dr. Orloff Mendes:MM Juiz de Direito de Araçatuba.

Monsenhor VictorRibeiro Mazzei: Pároco da cidade

JuventinoDaia Gomes – Sec. Municipal da Administração

Prof.Eleosina Roriz: Secretária Municipal de Educação

PadreMário Pellatiello: Reitor da Univ. Salesiana de Araçatuba.

AméliaCintra: funcionária inocente da Aliança – 21 anos

D.Guiomar Pacce: costureira – proprietária da casa de Tomáz

SrFernando Fonseca: pai de Tomáz.

SeuAngelin Torloni: encarregado das piscinas do Araçatuba Clube

Sr.Antonio Tagliaferro – pai de Mércia

D.Maria Tagliaferro: mãe de Mércia

Elóide Oliveira: tio de Adalberto

SeuAgenor Modesto: maitre do Clube dos Bancários

Danielde Carvalho: Professor de Educação Física de Mérciae Márcio.

Sr.Francisco D'Ávila Cabral: pai de Iara

D.Conceição Melo Cabral: mãe de Iara.

Mal.Humberto de Alencar Castelo Branco: Presidente da República

PROSTITUTAS A SERVIÇODA EMPRESA

CarolinaFerreira Mattoso - Caroline – prostituta morta por traição

Belinha – Izabel – Prostitutaassassinada com Caroline

Tianinha – Sebastiana – Prostitutasubserviente.

Crucificadainominada: morta acusada de traição.

Nadiara Peixoto:uma das meninas exportadas pela organização.

BANDIDOS E SERVIÇAIS

Dr.Wladimir Pimenta Ribeiro – Chefe da quadrilha

Amadeuda Silva Neto – Assessor direto

StanislauwPontes: representante em Andradina

TomázFonseca da Silva – assecla infiltrado na Universidade

SérgioZuppi: secretário do D. A., cúmplice de Tomáz.

Demóstenes,o Maisena – assecla executor – assassino sádico.

FredericoSandes: assecla de Maisena, morador no Timboré.

GiovanniAlves: assecla de Maisena, morador do Timboré.

Pedrode Almeida: assecla de Maisena, morador do Timboré.

EduardoFelisberto: responsável pela mansão do Rio de Janeiro

MarlyAntunes Felisberto: esposa de Eduardo.

Guarda01 – vigia da Alfândega – assassinado por incompetência.

Guarda02 – vigia da Alfândega – assassinado por incompetência.

LevySilva: membro da quadrilha – o faxineiro dos crimes

LuizAntonio: pivete do Bairro Santana.

KrykorKarselhan: fotógrafo oficial da empresa.

EgbertoFigueira: marginal preso – Carro 35

CélioCardoso dos Santos: marginal preso – Carro 35

PauloRodrigo Mendes: marginal preso – Carro 35

Bebel – lésbicasádica.

Margarida – asseclainfiltrada no grupo de universitários.

DeputadoFederal Gualberto Lima: isenção ilícita de impostos

Dr.Augusto Farnari: pediatra, pecuarista, acusado de pedofilia sedada,

AugustoFaro: ex-prefeito, traficante de mulheres para a Espanha

JAPONESES

IdeoTakahashi: representante brasileiro dos marginais nipônicos

FuzioIkeda: membro da comitiva em visita ao Brasil


Nenhumahistória que eu relato efetivamente aconteceu. Mas poderia ter acontecido,pois, no fundo, são verdadeiras, pois não invento nada sobreo nada absoluto. De um modo geral, o escritor inventa sobre o que vê,sente e ouve.

( Deonsioda Silva )


FEVEREIRO/2003

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Megan and I Relax Part 1 revised

Introduction: Megan helps me relax in a special way It was way back when me and my sister still lived together. When we were young my parents got a divorce and both me and my sister lived with my mom. My dad had already found a girlfriend and my mom was still looking for her mate. My sister Megan was 14 at that time and I was 16. My mom would go out on Fridays with her girlfriends and she would try to hook up with some dudes at the club but she never would come home with a boyfriend. Every day...

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Mi Vida Loca A Young Mans Sexual OdysseyChapter 40

Erica, Becky, and Jessie were in the Health Department office when we went in. There were two women ahead of us, and I got Erica’s attention when Becky asked one of the other women to follow her. Becky was smiling when she saw me - and my other women. Damn, I love that girl’s smile - and her sexy ass sure looks good in that white uniform. I could tell Erica wanted to hug me, and I almost reached for her before she took my hand and spoke, “Josey, I see you have gathered more friends over the...

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Gray Rock Acamdey pt 5

Scott watched as the two encircled him, like lions hunting their prey. “Um my captain gave me orders sir...he wants me to do something, so I really need to go get ready for dinner, sirs.” They both nodded their heads. “We know you have a little mission, but Jax also sent us to remind you not to fuck it up... a test if you will.” Casey would smile. They would both grab Scott by the arms forcing him to stand up in front of the full length body mirror as Chris grabbed a bottle of lotion from...

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A Daughters Needs

Brook slipped out through the front door and crept quietly around the side of the house. Her mother was in the hot tub with Tom tonight, and after listening to them play naked under her bedroom window almost nightly for the past two weeks she found herself overcome with curiosity to watch them. She’d peeked at them through the window as well, but the angle from there didn’t provide the curious fourteen-year-old a very satisfying view. She wanted to see as much as she could. The compactly built...

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MR ALLEN TEACHING ME MORE THAN HISTORY

I was 15 years of age when I first met Mr Allen. He taught me History at secondary school and I fancied him so much. Apart from being a very good teacher, He came across as being a really nice person and thought he was good looking too. This was his first teaching post and was 28 years old. I would do anything to spend some time with him. This would usually involve pretending I found the History homework too difficult and required some help from him. I found the work pretty easy, but this was...

3 years ago
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Day of Destruction Book 2 Jims StoryChapter 8

There was an old country song that had the line, "We have a long way to go and a short time to get there." We had to go through Kentucky and Tennessee and the Appalachians to get home. I had never thought of the Woods that way really. I guess I've never moved from Chapel Hill in my mind. We were even slower because we still had people who were hurting and were not equipped as well as before the storm. Our progress was slow. The surprise as we traveled was how empty the land had become....

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Micheles Mistake 2

Chapter OneI slept fitfully for about four hours. I didn’t have another erotic dream and somehow, I’m upset about that. I did have a text when I woke up. It said that I should use the debit card he gave me to purchase sexy clothes, short skirts, sexy blouses, and lingerie. There is a $3000 balance on the card. I am to purchase what is needed and then the rest can help out with school, rent, or whatever I need.I’m still a little upset about the money. I don’t want to be someone’s whore. But I...

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The Morning After

The Morning AfterA Victoria and Jacqueline StorybyRose WilderAuthor’s Comment: This story is the sequel to ?Punished on Valentine’s Day?. It might be helpful to read it first but it’s not necessary to understand this short piece. I hope you enjoy it, and please let me know what you think. Rose.Jacqueline opened her eyes to the early morning light. Victoria was lying almost on top of her, and she relished the feeling of complete trust it conveyed. Her right hand rested casually just beneath the...

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Two parties become one

This morning before we arrived for our friend June's 40th birthday I shouted her a facial, wax and massage at an exclusive beauty parlour here in the Blue Mountains. I won't pretend for one minute that we have a 'normal' marriage. We have anything but. We started off being normal but got tired of it very quickly and when we got stoned and had a 3some with a mate of mine 16 years ago we entered the world of multiple sex partners and haven't looked back since. The arrival of the kids...

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In the Changing Room

My name is Tess, and I run a women's clothing store with my twin sister Angie. We're a pair of cute, perky redheads in our mid-twenties with a knack for finding fun and trouble ... often at the same time. At our boutique, we are often given the opportunity to see beautiful women in their underthings, sometimes completely naked ... and since Angie and I are both lesbians, we seize any opportunity to do just that. Now and then, though, my sister and I score something much hotter than a quick...

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Fucking My Bong Colleague

Hi Guys, I am back with . This story is of my bong colleague and how we had a passionate time with each other. Her name is Archi. She works in the same department, but we are in different teams. Working in the same department, we used to have small talks and have team parties. At parties, every time I used to find her near me. I often thought that she might be interested in me, but I didn’t make any move as we were colleagues. Time passed by, and then lockdown hit all of us. Interactions were...

4 years ago
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The Count of Monte CristoChapter 13 The Hundred Days

M. Noirtier was a true prophet, and things progressed rapidly, as he had predicted. Every one knows the history of the famous return from Elba, a return which was unprecedented in the past, and will probably remain without a counterpart in the future. Louis XVIII. made but a faint attempt to parry this unexpected blow; the monarchy he had scarcely reconstructed tottered on its precarious foundation, and at a sign from the emperor the incongruous structure of ancient prejudices and new ideas...

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Here for You Ch 2123

Author’s Note: The final chapters are here. Please comment and let me know what you think! Thank you. *** Chapter 21 A week later, Karen appeared at Ben’s doorstep with a smile on her face. Ben was surprised by her visit, but he invited her in. ‘Where’s River?’ she asked as soon as she took a seat at the kitchen table with a cup of coffee in front of her. ‘Elle took him out to get a treat for getting an A for his Math test,’ Ben answered. ‘Oh, she shouldn’t have had to reward him,’ Karen...

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Essential to the Plot

Helena Meade's alarm went off in the morning at four-thirty. She wasn't nearly ready to get up, but it was the first day's shooting of her first significant featured role. She didn't think that there was much chance of waking her two flatmates, but she still walked as quietly as she could to the bathroom, where she turned on the shower. It was deliberately only warm rather than hot, but she didn't intend to be in there long and the water would hopefully wake her up. After quickly drying...

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The Girl on the Couch

I awoke suddenly. The girl who has been quietly sleep-spooning with me on the couch was stirring. In my half awake state I couldn’t quite make out what feeling I was experiencing, but I certainly liked it. As I blinked my eyes adjusted to the dark. I finally made out that she was now facing me, and rubbing my cock. I moaned softly, trying not to wake anyone else in the room. My best friend and her husband were sleeping on a couch no less than ten feet away from me. There were other party...

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ConradChapter 7

Friday 2 October 2043 We awoke in the morning in a pile of bodies and even later than we usually did. At least it was warm in the house as the programmable thermostat had raised the temperature in the house to the morning setting at 6:00 that morning. The Sisters sat up, sniffed, and made a distraught face at the smell. "We need to shower!" they both informed me before throwing the blanket off and dragging me out of bed. The exposed sheets were a disaster of dried areas of cum and pussy...

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Kuch kuch hota hai

I m going to narrate a story (fiction). It based on a movie Kuch Kuch Hota hei… same character but different story. You have watched that Movie many times and also know abt its story and so I m trying to Narrate it on my way. I hope that u will find it a good change with Stories and also hope to all member to like it.. Anjali: hi rahul…. Aa gaya chootiyee.. Kahan mara hua tha itni der Se kaprey utar k tera wait kar rahi hoon mein… Rahuj: hi anjali…. Wo kya hei naa suba suba mujh se jaldi utha...

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On the Other HandChapter 2 Searching for Miss Left

Most guys who are single and looking for a long-term relationship with a woman are looking for Miss Right. Not me. I was looking for Miss Left, for all the reasons I've already explained. It occurred to me that the best place to start was the Internet. I could place a cleverly worded advertisement on one of the personal sites and see what happened. It would cut down a bit on the trial-and-error part of finding a woman who at least fit my basic criteria. It took longer to craft the...

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A Letter to L

The morning of Friday, Sept. 17 Dear L. My knee hurts and you are to blame. Or rather that damn photo you took, the one that I can’t get out of my head. Even now, I am thinking of it, wondering if I should put it up on my screen as I write or just go ahead and print it out and tack it to my wall so I can stare at it. The thing is, if I did that, I’d never get anything done. Even thinking about you is distracting. It’s taking forever to type this up, the periods at the end of each sentence...

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The Forbidden Flower

The town I lived in was pretty small with about twenty thousand people. I could do whatever I wanted. Go downtown, go to the park, hang out with friends. My parents never worried about me. I was an only child so I didn’t have to worry about a sibling bothering me. All my friends were close to me and there were no secrets between us. Because of that I told them about my new obsession. I enjoy playing with myself, and started doing it quite often. They all thought I was weird, and so did I. We...

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My Best Friends Girlfriend

It may have been the Summer of Love in 1967, but as a 16 year old boy at a single-sex school, it wasn't! The nearest I came to a sexual experience was swapping girlie mags with my mates – Girl Illustrated, Parade, Health and Efficiency and such like. These were turn-ons but frustratingly only showed breasts and nipples rather than anything “down below”, although the occasional small-format nudie book would display girls who had been air-brushed so they looked like dummies from a shop window...

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Sleep Over Part 2

Sleep Over Part 2Right after Kev said that, he moved back into a sitting posistionFollowed by Ray and myselfAnd we all took sips of our sodasAnd looked at each other and started to laughFuck me , that was fun Ray saidKev was moving his head in agreement as he downed the rest of his sodaHis eyes looking right at my cockRay asked me my thoughts on what just happenedI said, i want girls/women to do that with, But for now, you fags will have to doAnd we all burst out laughing.Ray got up to go to...

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My Kavitha Mami And My Lover Malar 8211 Part I

Hi guys and girls please forgive me if there is any mistake in this story because this is the first time I posting my story in iss.i am a big fan of this website from 2004 to till date, I almost read all stories in all sections published in this website. Well my name is rubber88boy (Name Changed) not with a gym body but looks good(with a nice face(kalai yana mugam)), my body and face is brown in colour (maa neeram (ie) light brown, typically a south Indian look with normal mustache ) going to...

4 years ago
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My Best Friends Wife

So I've known Tom for my whole life ... well, damned near close enough. We bullshitted each other for years about imagined stories of girls we'd fucked all through Junior High, and, appallingly enough, the bastard lost his cherry to Meagan Meeks a full year and a half before I managed to lose mine to Traci. Of course, fittingly enough, I was the one who maintained a steady string of sex through college, while he latched on to Jenna and undertook some sort of pledge of celibacy until...

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Mr Southerners House of Wondrous Pleasures

It was late at night, and the sun had set hours ago. Most people were home from work by now, near their loved ones, watching TV maybe or even getting ready for bed. Not Emma. For her work was just about to begin. Not Emma's customers. They were glad to be away from their loved ones for a night.Emma waited. She was used to it. The dressing room was shared by several of the girls and subsequently a bit of a mess. Make-up utensils, notebooks, snacks, mobiles, and handbags cluttered the tables with...

Straight Sex
3 years ago
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The Taking

For the past twenty years or so, I have worked for a global conglomerate that has its fingers in everything from communications to pharmaceuticals. One of the down sides of my employment was that my assignments required frequent relocation. The longest I ever lived in a single place was three years and there were times that I didn't even get to finish unpacking before I had to move again. I wasn't married and had no children, so this didn't especially bother me, although the frequent moves...

1 year ago
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My terrible life part 2

"so you're a run away like me?" i asked carefully. "You could say so more like i was kicked out" She was  turning  very pale i wasn't sure if it was because i needed to stop or whatever had happened seemed to affect her. I then took a chance!   "Well what happened?"her face grew dark then lightened up as she started "i was with my girl friend and we were getting really into it and my mom walked in with her hands in my pants!"  I was getting hot and  i stuck my hand in-between...

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Fat Assed Fatima

Fatima Zahra is a hijabi wife, teacher and a mother of 2 k**s, however, this is just the start of who this Indian bitch is since she is the above only when her husband is around. Her other side is a wild, sex-crazy MILF with a massive, seat-swallowing ass that covered 2 guys when she sat on their knees during orgies at the school she worked in. Fatima's size attracted many as her figure-hugging abaya gave onlookers a great view.The Indian MILF wife was always jumping from dick to dick after her...

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Dream StateChapter 13

I woke up, expecting to find Debbie in bed with me. Instead, I found a sleeping Aimee next to me. I stirred, and as expected, Aimee woke up, being a very light sleeper. "Good morning, Master," Aimee said, smiling. "Good morning, Aimee. Where's Debbie?" "She got up early in the morning," Aimee explained. "I think she's out for a jog with Mary." Debbie get up early in the morning? Stranger things have happened. I had a morning erection and I realized that Aimee was quite aware...

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The Making of a White Sissy Slut

The Making of a White Sissy SlutWhen he replied to my ad online, Steven said he was an attractive, 30-something, successful white man who was willing to explore the wild side.  When we met in person, I was more than a little bit disappointed.  Attractive was a stretch of the imagination and I told him so right off the bat.  He acted as if I’d said something to offend him and responded by saying, ?Well, no one’s ever told me that I was unattractive.?  When I suggested that was because no one had...

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Check Up

Star stood outside the doctor’s office, holding the card her friend Tonya had given her the week before. ‘I’m telling you Star, Doctor Johnson has helped me a lot! He showed me that I wasn’t sexually dysfunctional like my boyfriend said, that I just needed to relax is all. Go see him. He’s gentle and has a great bedside manner and he’s really cute!’ said the little perky brunette. ‘I don’t know Tonya. I hate gyn appointments, they’re so personal and invading.’ Star said with trepidation in...

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Pam and the Drill Part 3

"Do you wanna eat me now?" "What?" Pam said. The doorbell rang. Debbie sat up quickly, closing her legs. "Oh shit. Who the hell is that?" Pam shrugged. Debbie jumped off the bed and grabbed an oversize football jersey from the dresser drawer. "You wait here. I'll get rid of whoever it is," Debbie said. She stepped through the door and pulled it shut. Pam held her breath, trying to hear through the door. She heard voices, but not clearly enough to understand what they were saying. They were...

Lesbian
3 years ago
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A WellLived Life 2 Book 4 ElyseChapter 38 Another Addition to the Extended Family

November 11, 1990, Chicago, Illinois My wives and I were lying in bed early on Sunday morning. “Abbie asked me if she could have you on Sunday nights, you know, like Elyse has you on Tuesdays,” Jessica said. “What do you think?” “I think it’s up to you,” I said. “But I’m guessing that wouldn’t start until you get pregnant.” “Nobody gets you but me starting Friday. Well, Kara does, but you know what I mean!” “I do.” “As for Abbie, I think it’s OK, Tiger. Once we agreed she could be part...

3 years ago
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Arlene and JeffChapter 699

...”Can we outrun them?” “I have no basis with which to determine their top speed.” “No matter. I would hate to lead them to our stranded team, let alone back to Earth. Come to Battle Stations,” Jeff said, as the claxon went off loudly enough to wake the dead followed by a mechanical voice that announced, “Battle Stations. Battle Stations.” “The warp bubble of the other ships will intersect with our course in approximately two and a half minutes,” the Pilot said. “Very well. Maintain your...

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Inviting the new neighbors to a BBQ 2

Sunday dragged by; it felt more like a week than a day. Not even an emergency call to fix someone’s heating or air conditioning, which in one way was a good thing because I was in no fit state to concentrate on fixing anything let alone drive somewhere… I couldn’t possibly have concentrated. I wanted to apologize to her, but that would have been crazy; no way I could just knock at their door and say “Im sorry I raped you last night”. I was convinced that either the police would come to arrest...

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Lisa

Wednesday Master Ben did it to me today. He's not too bad, he only hit me twice and smiled once. He's fifteen, just a year older than me, so he finished too quickly. I'd only just started to get the nice feelings when he came. I'll need a new pencil soon, this one is getting too short. Friday Master Ian took me to his cabin today. I don't like him one bit. I think he's the one who killed Mom. He did it in my butt, which really hurt, and then made me suck his dick clean. Yuck. At least...

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Preachers Daughter

Easter time in the north usually meant snow on the ground and this year was no exception. This was the time of the year I committed myself to a visit of the church for midnight mass to share with family and friends, a local tradition. Parking was always a challenge on events like this, fresh construction made it more and more difficult each year. After some searching I parked my white NSX behind the church and as I placed it into park I noticed her. There was a blurred figure watching me from...

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UCFSS5567

2428 Andromeda B (The Milky Way) The United Colonies Federation (UCF) fleet was in an entirely different galaxy, and they found remains of 400 year old designs for human vessels, produced by the Axis Nations Federation (ANF). 402 years prior... 2016, Andromeda B (The Milky Way) An ANF fleet was fleeing from United Nations Federation vessels (UNF/UCF 400 years in the past) and the ANF fleet activated their FTL drives but instead of ending up on another side of the Milky Way, they were...

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Bobbi Jo

The old barn looked more like a death sentence than an apartment from the outside. I could smell old hay and manure as I walked behind the owner. ‘The door is up these stairs, here,’ he grumbled, his hand motioning to an old wooden door at the top of the stairs. ‘It’s unlocked. Go look around.’ The apartment wasn’t necessarily spacious, but it would suffice. There were plenty of windows in every room, the kitchen was relatively large, and the bathroom had new plumbing. It even had a small deck...

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Daydreams of a Knights Wench

She watched from the kitchen window as he swept up the drive and parked the gleaming black Jaguar in front of the garage. As he stepped out in his dark, well-cut suit and removed the sun glasses she thought of his eyes and how they were hard and strong to the rest of the world but smiling and full of tenderness when he was with her. She heard the familiar sounds of the key in the lock, the door opening and closing and the brief case being deposited on the quarry tiles in the hall. She was...

4 years ago
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Rough BoyChapter 3

I called in a favor from a fellow veteran who worked at the company and got a ride into work. Kameron wasn't happy about me ducking her, but she let it go after sending me a curt text message. I went in through the main entrance. The rumor mill must have worked overtime the day before--the guards called me 'Sir' when I asked to see the sign-in book. Elaine Smith, Institute Positive Telepathic Class. She was already in the building, but no one authorized her entry so I didn't have a clue...

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My first time

Last night I had my first homosexual experience with my father I was walking to the kitchen to get some water and I see my dad laying on the couch with his shorts off showing his dick and balls I stared at his dick for about a minute and then decided to go over to him while he was asleep and touch his dick after I touched his dick I started to jack him off but he didn’t get hard so I thought he’s asleep so why not take the risk I got on my knees lifted his dick opened my mouth and stuck it in I...

Gay
3 years ago
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my first sex part 4

We arranged a time to meet, me and Rosa.. I booked a room in a motel so we can enjoy our day together...She had a day off from her work. It was sunday..it was a sunny summer day...I picked her up and went straight ahead to the motel..She had that lovely smell .. She was wearing a tight jeans with a tight yellow shirt,, her boobs were so big...We had a little chat .. About her life and work .. She was tired from hard life..specially that she is a maid and no longer young she's now in her mid...

4 years ago
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Da iniziato a iniziatore

Molti hanno avuto da ridire, in merito alla scelta di trascrivere direttamente dal mio diaro personale, la storia "l'iniziazione". Ho ricevuto critiche perché mancava di erotismo.Questo è vero, però, a me, risultava la scelta più genuina. Ho accettato le critiche, e ho deciso che la storia che andrò a raccontare la scriverò in modo romanzato. (Nda)Era illuminata dal chiaro di luna, la pelle profumava di gelsomino con una nota leggera di lavanda. Stava in piedi, immobile, nuda, a fissare la...

4 years ago
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Untold Tale of Alan And Elena Do You Feel What I Feel

"Do you feel what I feel, can you see what I see, can you cut behind the mystery, I will meet you by the witness tree, leave the whole world behind" Broken Arrow, By Rod Stewart This story happens Before "Make Me Happy" Alan is very tired today, he has done an all night job on a project and has just put it in the mail to be delivered, and has done a meeting with another potential client, if he get this one gig it'll make his year, and for the rest day of he doesn't have another job to...

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Sonyas Siren Song

It was late summer, on a Friday afternoon, after a long week, as I turned into my driveway, and there was Sonya, playing a solo game of basketball with the hoop over the garage door. The weather was still warm, and she was wearing a pair of denim shorts and a pink sleeveless top, and as she jumped gracefully into the air to take a shot, I thought, She moves just like her mother.   She put the ball straight through the hoop, caught it on its first bounce off the concrete, and then turned to...

Taboo
3 years ago
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Our first

When I met my wife many years ago and started dating I knew she had gone out with a co-worker a couple of times. He was a slender black who was shorter than me, we became friends through work and he never mentioned he had gone out with her. We started dating for a few months and got married, one night we laid around talking about old flames. He came up in the conversation and she told me that they had had sex a couple of times while dating. I asked her how he was and she said he was great, that...

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She is Beautiful Part 1

She was stunningly beautiful! My wife Samantha and I were out of town for a wedding, staying at a 5-star vintage hotel. We got into town a day early – planning on spending an extra day on either end of the rehearsal night and then wedding day pampering and fucking each other’s brains and bodies into exhaustion.To understand what I just meant you should get that Sam loves her feeldoe – a realistic non-strap on cock with a vibrating bulb that fits snuggly up her always wet and ready cunt – as she...

Group Sex
3 years ago
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A black man takes advantage on me

One Saturday evening I was home alone and absolutely bored because Victor was flying abroad for three days at least. Bored but… horny…I started to touch myself through my wet thong while watching some porno. I finally came, screaming out in a wild orgasm.I had a shower and rested again on the sofa just naked, touching my swollen wet pussy lips very softly, as I watched now a romantic movie. My cell phone rang. My good girlfriend Laura was also home alone, her loving hubby had gone to visit his...

3 years ago
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Return From The Dark SideChapter 15 Country Life

Henry was sleeping in. Ellen had just left him after staying over for the night. She had to be at Woodbridge by 10 o'clock, having an appointment with a potential buyer for one of her younger stallions. The love of horses was something Ellen needed to compensate for the lack of a family of her own. True, she was reconciled with her mother now and she and Henry were comfortable enough with each other to spend an occasional night in each other's arms. Nevertheless, they were just friends....

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